Há cerca de cinco anos, Giulia Be (se fala bi, como no verbo inglês) deu seus primeiros passos na carreira de cantora, quando começou a fazer covers em seu canal no YouTube. Desde então, lançou alguns singles em português, inglês e espanhol. Agora, a jovem de 23 anos, está pronta para um salto ainda maior: seu primeiro álbum de inéditas, o Disco Voador, que chega às plataformas nesta terça-feira, 22.
O álbum não poderia chegar em um momento melhor, em que a também atriz estrela o filme Depois do Universo, da Netflix, em que interpreta Nina, uma jovem pianista com lúpus que, enquanto espera por um transplante de rim, se conecta com seu médico e encontra coragem para realizar seus sonhos musicais. O filme é um dos maiores sucessos da plataforma nas últimas semanas, chegando a figurar entre as 10 produções mais vistas no mundo inteiro.
Bastante à vontade ao longo do disco, com sua voz marcante que a aproxima de cantoras pop gringas, Giulia fala um pouco de seus sentimentos, mas que também são os de muitas pessoas que a conhecem como artista (incluindo seus 3 milhões de seguidores no Instagram). “Consegui encontrar uma maneira de me sentir muito verdadeira. Acho que eu não estou tentando ser nada, eu estou simplesmente sendo. Gosto de dizer que a ‘Giulia finalmente vai Be’ (uma piada com o verbo inglês to be; ‘Giulia finalmente vai ser’)”, comenta a cantora e atriz em entrevista ao Estadão.
Subjetividade
Giulia compõe desde criança e dividiu a assinatura de algumas músicas do álbum com o irmão, o compositor e produtor Dany Marinho, fazendo Disco Voador ser bastante autoral. “Foi um processo longo mas muito prazeroso, me perdi e me encontrei diversas vezes. Acho que foi também um processo de amadurecimento, enquanto compositora, e de fortalecer a minha relação com meu irmão”, conta.
Quem der o play no álbum vai encontrar 13 músicas, a maioria delas em português, mas também algumas gravações em inglês e em espanhol, comum para quem já acompanha a carreira da artista. O álbum é recheado de referências tanto da Disco dos anos 1970, que Giulia diz gostar muito, quanto do que é feito por artistas como The Weekend, Dua Lipa, Tame Impala. “É minha maneira de trazer essas referências e fazer esse pop que traz essas percussões brasileiras, ao mesmo tempo com letras que são muito atuais, histórias da minha vida, de pessoas ao meu redor”, explica. “Acho que, ao longo do tempo, fui adquirindo muitas dessas influências e esse álbum de certa forma é a síntese de tudo isso”, continua.
A artista também conta que outra das suas inspirações foi o tropicalismo, movimento musical brasileiro do final dos anos 1960, que teve Caetano Veloso como um dos principais articuladores. “Descobri que, um parente distante, o Hélio Oiticica, foi quem inventou o termo Tropicália. E isso me despertou, de alguma maneira, me conectou com algum lugar da minha ancestralidade”, lembra. “Tentei me conectar com a essência percursiva também de ambos os gêneros (tropicalismo e disco) e com as possibilidades psicodélicas dentro da gama de instrumentos que a gente poderia trazer para esse álbum”, complementa.
Dois lados de Giulia
Dividido, como ela mesmo fala, em lado A-lien e B-e, Disco Voador tem um equilíbrio entre a sofrência e a alegria, com faixas “solares” e outras mais “invernais”. “Sinto que o lado A não é solar só no sentido de ser feliz, mas também no sentido de ser intenso, energético, para cima, vibracional, magnético”, aponta.
Sobre a sofrência, a artista ressalta que esta também é uma forma de mostrar sua vulnerabilidade. “Acho que existe muito potencial de cura cada vez que me permito ser vulnerável nas minhas letras, poder dividir e através disso confortar as pessoas, de alguma maneira, é um objetivo muito grande da da minha arte”, explica. Giulia até faz uma ponte entre seu trabalho na música e no cinema. “Tem uma música chamada Tempo que é minha preferida, me conecto muito com ela e acho que me permiti cem por cento, tenho falado que também seria a preferida da Nina, minha personagem do filme.”
Disco Voador tem espaço até para críticas sociais, como a música Planeta Marte, em que a artista canta que “tá f*** ser brasileiro… mas eu sei que vem mudança”. Ela diz acreditar que estamos em um momento de ter esperança no futuro do país. “Um momento que merece ser tratado com muita dignidade”, conta. Mas a música não foi escrita agora. “Escrevi Planeta Marte em um momento bem singular da minha vida e acho que, além da crítica social, queria que essa música passasse o sentimento de que às vezes queria me conectar com algo além do céu”, brinca.
Com o Disco Voador no ar e um filme fazendo muito sucesso, Giulia é só alegria. “Estou muito animada para as pessoas conhecerem esse trabalho que eu dei meu sangue, suor, minha alma e meu coração fazendo, que mostra muitos lados meus e também a diversidade musical com o qual eu me encanto e me conecto”, pontua. E estou muito animada para a turnê, acho que esse show não vai ser só um show, vai ser uma experiência, quero conseguir abduzir os meus fãs nas horas que a gente passar juntos e realmente levar eles numa viagem musical comigo”, conclui.
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