O encontro foi marcado no estúdio do renomado fotógrafo Gal Oppido, no Itaim Bibi, em São Paulo, no meio de semana. Seria o único dia possível para reunir todos para dar entrevista ao Estado. Afinal, eles já tinham coordenado suas respectivas agendas para fazer, naquela data, fotos para a capa e o encarte do que será o novo disco do Grupo Rumo. Ali, o clima entre os nove integrantes da trupe era de entrosamento, de alegria. Como se o grupo, formado por jovens estudantes em 1974 – e, mais tarde, um dos destaques da chamada Vanguarda Paulista –, nunca tivesse se separado. Na verdade, o Rumo chegou ao fim em 1992, mas seus ex-membros, que moram em São Paulo, sempre mantiveram contato. Houve também, nesse meio tempo, um projeto ou outro que revivesse o Rumo, mesmo que por pouco tempo.
Agora, Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Hélio Ziskind, Akira Ueno, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Gal Oppido, Zecarlos Ribeiro e Geraldo Leite – os mesmos que fizeram parte da formação original do grupo – se juntam novamente como Rumo, instigados pela gravação de um novo disco só de inéditas. Algo que não faziam como grupo desde o fim da trupe. “Marcio Arantes, que é o produtor do disco, entrou em contato com a gente e disse que tinha vontade de produzir um disco do Rumo, e perguntou o que a gente achava. A gente gostou da ideia e ele disse que ia propor para o Selo Sesc”, conta Ná Ozzetti. “A gente nem imaginava essa possibilidade”, completa ela. No entanto, a ideia de compor novas músicas, na versão Rumo 2018, e não um revival do antigo repertório, lhes pareceu desafiador.
Com o ok para o projeto, estabeleceu-se um cronograma, incluindo período de composição e escolha do repertório. “Tudo era organizado pelas músicas e, desta vez também as músicas foram aparecendo, não tinha um viés para o disco”, diz Hélio. “O disco teve essa facilidade que a gente nunca teve na vida, de ter um produtor craque, um estúdio dominado, a gente absolutamente concentrada em cantar, tocar. Não é um disco: ‘Olha o que nós fomos’, mas, sim, ‘o que nós estamos sendo agora’. Nunca fizemos nada na vida nessa velocidade.”
O repertório do disco Universo, que deve ser lançado no final do primeiro semestre de 2019, pelo Selo Sesc, traz 14 faixas, com canções de praticamente todos os integrantes do grupo – inclusive de Ná Ozzetti e Akira Ueno, que compuseram pela primeira vez para o Rumo. Apesar da produção predominantemente nova, há duas canções resgatadas do baú, compostas nos anos 1990. “Tínhamos feito as duas já pensando no próximo disco na época, mas o Rumo teve que parar as atividades naquele momento”, diz Luiz Tatit, que compôs ambas com o irmão, Paulo. Uma delas, Estaca, chegou a ser apresentada por Ná, mas Universo, que dá nome ao disco, era totalmente inédita. Já a canção Estória da História foi feita em duas etapas: uma parte foi composta por Pedro Mourão há 30 anos e outra, por ele e o filho, André Mourão, recentemente. “André encontrou numa fita cassete, comigo cantarolando alguns versos. Ele escutou por acaso, e veio me mostrar. Eu não tinha ideia do que era”, diverte-se Pedro.
Mesmo não seguindo fórmulas – como o Rumo nunca fez –, o novo trabalho carrega uma identidade sonora muito característica do grupo – e sedimentada em seus discos anteriores, como Diletantismo (1983) e Caprichoso (1986). “A melodia tem uma marca forte, do jeito que ela é construída”, diz Paulo. “Por exemplo, mesmo dentro da Palavra Cantada (dupla musical infantil que tem com Sandra Peres), faço uma música que vejo que recebe essa influência.”
Da trupe original, falta Ciça Tuccori, que morreu em 2001. Depois do fim do Rumo, nem todos seguiram diretamente na música. Gal fez carreira como fotógrafo, Zecarlos, como arquiteto, e Geraldo, na área de Comunicação. Mas, quando se reencontram para fazer música, eles contam, a sensação é de que nunca pararam de tocar juntos.
Ouça a faixa inédita Toque o Tambor:
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.