Shows intimistas e um bom público marcaram a primeira edição de O Vento Festival, realizado em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, entre a quinta-feira, dia 16, e domingo, 19. Com entrada gratuita, grandes apostas da música independente se apresentaram no centro histórico da cidade. O evento foi apontado como responsável pela taxa de ocupação de hospedagens de 70% de Ilhabela, algo incomum para o inverno. Na sexta-feira, dia 17, o fluxo de turistas congestionou a chegada e a fila da balsa causou atraso na programação do festival.
Quem roubou a cena na sexta foi a banda paulistana O Terno. As canções de seu mais recente disco, que leva o nome do grupo e foi lançado em 2014, dominaram o set dos paulistanos. Em Eu Confesso, o power trio mostrou sua potência sonora e atraiu uma multidão para o pequeno palco do evento. Com canções que falam de amor de maneira intensa e frenética, o conjunto mostrou por que é um dos grandes nomes do rock independente da atualidade.
Formado por Tim Bernardes (vocal, guitarra e teclados), Guilherme D’Almeida (baixo) e o recém-incorporado Gabriel Basile (bateria), o som de O Terno está mais coeso e maduro. Se em 66, primeiro trabalho da banda, eles buscavam identidade e sonoridade, agora eles encontraram uma personalidade mais consistente. “Tocar num festival menor proporciona um contato mais intimista com o público. É diferente de se apresentar no Lollapalooza, por exemplo”, diz o vocalista Tim Bernardes em entrevista ao Estado, após o show.
O músico e compositor Lira encerrou a segunda noite do festival em grande estilo. Embalado por canções de seu segundo disco solo, O Labirinto e o Desmantelo, o artista usou e abusou do psicodelismo elétrico e da poesia. Lira ficou conhecido por seu trabalho na banda Cordel do Fogo Encantado. As letras narradas em primeira pessoa deram mais sentimentalismo à apresentação do músico.
A banda Holger abriu os trabalhos da terceira noite do Vento. O grupo paulistano, que deu nome de Ilhabela ao primeiro disco gravado com músicas em português, subiu ao palco por volta das 20h30. No repertório, sucessos do disco homônimo, Holger, de 2014, além de canções dos trabalhos Sunga (2010) e Green Valley (2008).
Também no sábado, o grupo paraense Saulo Duarte e a Unidade levou toda a sua brasilidade ao palco do Vento Festival. A força do reggae revolucionou a pista de dança e colocou muita gente para dançar sem contraindicações. “Sinta a energia. Olhe para o lado e sorria para uma pessoa que você não conhece”, disse Saulo, cantor, compositor e instrumentista. Canções do disco Quente, lançado em 2014, ditaram o ritmo do show. A apresentação de Saulo é marcada pela mistura contagiante da cumbia, do reggae, do carimbó e da lambada. As influências sonoras da América Central ficam evidentes em todas as composições do artista.
Saulo, que ainda teve tempo de prestar sua homenagem a Luiz Gonzaga, é o tipo de cantor que sempre contagia a plateia. “Vocês conhecem Luiz Gonzaga, o Rei do Baião?”, disse em alto e bom som, pouco antes de tocar Pagode Russo.
Céu, que se apresentou no sábado, também se destacou. A cantora e compositora acaba de retornar ao Brasil após uma temporada intensa no exterior. Céu se apresentou em várias cidades dos Estados Unidos. Ela, que também passou pela Europa, África do Sul e Colômbia em 2012, trouxe sua experiência internacional para os palcos. Mais madura, a cantora exibiu seu repertório com elegância. Céu dedicou o show à cantora Tulipa Ruiz, que também se apresentou no festival, na quinta-feira. Malemolência e Lenda, dois grandes sucessos da artista, foram cantadas em coro.
A surpresa do festival ficou por conta da jovem cantora Norma Nascimento. Com rimas fáceis e letras doces, ela abriu a segunda noite do evento, na sexta-feira. O talento da cantora ficou evidente já nas primeiras músicas. Influenciada pela riqueza poética de Cartola e a malandragem de Noel Rosa, a artista mesclou força e sutileza na medida certa. Ao chamar o sanfoneiro Felipe Macarrão para subir ao palco, Norma conseguiu atrair um bom público. A artista também brincou com a temperatura agradável que fazia na cidade. “Estamos vivendo o verão em pleno inverno”, disse antes de tocar uma versão inusitada de Samba de Verão, clássico de Marcos Valle. Também apresentou Encontros e Despedidas, de Maria Rita.
No domingo, último dia do evento, houve show da banda paulistana de electroindie Inky, do trompetista Guizado, e dos grupos Fidura e Piratas da Ilha.
O Vento Festival tem tudo para se consolidar como uma alternativa a megafestivais. O festival é propício para conhecer novas apostas da música nacional.
O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL
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