“Eu sou curiosa, Tontom perigosa”. Esses versos chiclete são quase onipresentes nas redes sociais e a música por trás deles, Tontom Perigosa, chegou a superar grandes artistas nacionais e internacionais ao ocupar o primeiro lugar das faixas “virais” no Spotify. As reações foram múltiplas: é uma música de Rita Lee? Uma faixa perdida entre os anos 1980 e 2000?
Tontom Perigosa, hoje, soma 665 mil reproduções na plataforma - um número bem expressivo para uma música lançada sem o suporte e a divulgação de uma gravadora. A cantora da faixa, porém, não possui um sobrenome desconhecido: trata-se de Antônia Périssé, a Tontom, filha da atriz Heloísa Périssé e do diretor Mauro Farias.
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Aos 17 anos, ela já atuou como atriz no musical Djavanear e no longa Uma Fada Veio Me Visitar, protagonizado por Xuxa e baseado no livro homônimo de Thalita Rebouças. Agora, porém, ela quer investir na música: lançou um EP, Mania 2000, no final de maio, com músicas feitas por ela quando tinha apenas 15 anos.
“As músicas não foram criadas pensando em uma unidade”, explica a cantora, em entrevista ao Estadão, dizendo que selecionou cinco das primeiras canções que escreveu. Há uma faixa em inglês (Sunshine) e até uma inspiração na bossa nova (Vê Se Atrasa), mas o pop dançante de Tontom Perigosa indiscutivelmente se destaca.
O incentivo para lançá-las veio do pai e a produção ficou a cargo de Guilherme Lírio, músico que já tocou com Gilberto Gil. A coragem de se jogar na exposição da mídia, porém, teve de nascer de Tontom. “Eu sou uma pessoa mais reservada. Não sou tímida, mas não me exponho tanto. E as músicas são pura exposição minha e de quem eu sou da forma mais profunda”, diz.
Conforto no desconforto
Tontom estuda música desde os 7 anos: começou com as aulas de piano e, aos 11, aprendeu a cantar. Demorou seis anos até que suas primeiras canções fossem lançadas, porque, segundo a artista, ela aprendeu a “lidar com o desconforto”.
Tenho muita vontade de seguir nesse ramo [da música] e enfrentar esses desafios, mesmo que em algum momento seja desconfortável. Acho que a graça da vida é um pouco essa: você achar o conforto nos desconfortos.
Tontom
Se o pontapé na música veio de contrastes, com Tontom Perigosa também foi assim. Nem a cantora, com seu jeito delicado e voz macia, e nem o ritmo alto astral da música são “perigosos”. O nome da faixa foi inspirado por uma brincadeira com uma amiga e pela sonoridade das duas palavras.
Mas Tontom não descarta ser perigosa. “Eu tenho essa imagem de ser uma pessoa calma, na minha. O ‘perigosa’ me leva para um outro lugar, para uma outra persona que eu acho que, como artista, é legal de explorar também”, diz.
Comparações
Tontom ativou o sentimento de nostalgia de quem ouve Tontom Perigosa. As comparações foram várias: teve gente que clamou já ter escutado a música no início dos anos 2000 e até aqueles que compararam as faixas com as mais dançantes de Rita Lee.
A artista cita Rita entre as suas inspirações para Mania 2000, mas também fala de Cazuza, Beatles e Amy Winehouse. Apesar de ter nascido em 2006, ela diz que sempre foi acostumada a ouvir músicas das décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000.
Mas foi do audiovisual que veio a comparação que mais chamou a atenção. No TikTok, brotaram ‘edits’ (nome dado aos vídeos editados para a plataforma) com trechos do filme O Diário de Tati, de 2012.
Usuários da plataforma chamaram Tontom Perigosa de “a música de Tati” sem nem saberem da relação direta entre a cantora da faixa e a protagonista do longa. Curiosamente, O Diário de Tati é estrelado por Heloísa Périssé e dirigido por Mauro Farias.
Tontom diz ter achado a comparação “engraçada”. “Não teve essa inspiração, pelo menos racionalmente. Mas eu acho que, quando nós criamos, vem um pouco de tudo que somos e o que vivemos. Eu cresci assistindo esse filme”, conta.
Família de artistas
A cantora escolheu ser artista depois de nascer em uma família de artistas - a irmã, Luísa Périssé, também é atriz. Apesar disso, Tontom afirma que nunca teve um estímulo direto para seguir o caminho da arte. “Meus pais sempre foram muito abertos para eu ser a minha versão mais eu”, diz.
O contato constante com o meio artístico, porém, fez com que o interesse se desenvolvesse naturalmente. “Por ter crescido nessa família que ama arte, admira arte, vive disso e vive isso, eu cresci amando arte também”, comenta.
Mas ter pais famosos também atraiu comentários que chamaram a cantora de “nepobaby”. A artista conta que já esperava reações do tipo e que não se abala - ela até destaca as pessoas que vão às suas redes sociais para defendê-la dos haters.
“Acho muito fofo e curioso. Demonstra que as pessoas estão realmente criando um afeto sobre as minhas músicas e sobre quem eu sou”, afirma. Tontom também entende que ter já nascido no meio a garantiu privilégios.
Não tenho como fugir disso. Então, tudo que eu posso fazer é usufruir desses privilégios da melhor forma possível e estudando para ser cada vez melhor.
Tontom
Agora, seu objetivo é construir um caminho no mundo da música. Ela diz que o maior sonho é “fazer shows ao redor do mundo” e já prepara um álbum completo para suceder Mania 2000. “Quero conseguir viver disso de uma forma muito feliz e harmônica”, diz.
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