Flausino chega ‘desamparado’ ao Rock in Rio e fala de participação de sertanejos: ‘Qual o problema?’

Vocalista do Jota Quest é uma das atrações do Dia Brasil, dedicado apenas a nomes nacionais, neste sábado, 21. Ao ‘Estadão’, ele também comenta fama de ‘substitutos’ da banda em festivais e possibilidade de carreira solo

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Foto do author Sabrina Legramandi
Foto: Mauricio Fidalgo/Globo/Divulgação
Entrevista comRogério FlausinoCantor, vocalista do Jota Quest

O palco do Rock in Rio não é nem um pouco estranho para Rogério Flausino, voz inconfundível do Jota Quest. “A primeira vez foi em 2011 e, de lá para cá, participamos de todas as edições de alguma maneira”, diz. A banda já chegou até a substituir um headliner - o trio de rap Migos, em 2022 - e participou das comemorações dos 30 anos do festival.

Agora, Flausino, “meio desamparado”, como ele mesmo descreve, tem a responsabilidade de representar o grupo e o rock no Dia Brasil, novidade da edição em celebração aos 40 anos de Rock in Rio, neste sábado, 21. A data gerou inúmeras reações - negativas e positivas - e incluiu gêneros que nunca haviam passado perto de ocupar o Palco Mundo do festival, como o sertanejo.

O vocalista do Jota Quest recebeu o Estadão em um escritório na zona oeste de São Paulo a cerca de um mês da apresentação. À época, disse que ainda “não sabia exatamente” como seria o show Pra Sempre Rock no evento. Ele vai dividir o palco com Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty e Toni Garrido.

Rogério Flausino se apresentará no Dia Brasil em comemoração aos 40 anos do Rock in Rio. Foto: Weber Padua/Divulgação

A apresentação chega depois de um período de agenda lotada da banda mineira. Flausino, Marco Túlio Lara (guitarra e violão), Márcio Buzelin (teclados), PJ (baixo) e Paulinho Fonseca (bateria) acabaram de sair de uma temporada de shows, incluindo alguns em estádios, em comemoração aos 25 anos da banda e, no mês passado, lançaram o volume 2 de De Volta ao Novo, primeiro álbum inédito após oito anos.

Mesmo com tantos compromissos, não passa pela cabeça do artista apostar em uma carreira solo: para ele, o Jota Quest vive “o melhor momento da carreira”. À reportagem, ele comentou sobre a sua própria relação com o Rock in Rio, a fama de “substitutos” que a banda ganhou depois de “quebrar o galho” em festivais e celebrou a inclusão de gêneros como o sertanejo no Rock in Rio. “Chegou geral. E aí, qual o problema disso?”.

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Você vai participar de um momento importante do Rock in Rio, que são os 40 anos do festival, e também da novidade que é o Dia Brasil. Como é a sua própria relação com o Rock in Rio? Tem algum show memorável que já assistiu?

São muitos, né? A minha história com o Rock in Rio é vital para mim. Quando eu tinha 12 para 13 anos, rolou o Rock in Rio 1. Eu dizia: ‘Pai, eu quero ir ao Rock in Rio’. Mas eu não fui, eu era um menino do interior. Era tão distante isso de nós. E ficamos vendo na televisão.

A segunda edição foi em 1991 e eu já tinha 17 para 18 anos. Aí eu fui ao Maracanã, quatro noites. E eu acho que o show mais memorável das quatro noites que eu fui foi o Guns N’ Roses. No auge do Guns N’ Roses.

A primeira vez do Jota Quest [no Rock in Rio] foi 2011. E, de lá para cá, praticamente participamos de alguma maneira de todas as edições. Em uma dessas janelas, foi o aniversário de 30 anos do Rock in Rio. Teve um show especial e nós estávamos lá com outros artistas.

Rogério Flausino em show do Jota Quest durante o Rock In Rio 2011. Foto: Wilton Júnior / Estadão

E, esse ano, eu vou representando a banda para, mais uma vez, participar dessa homenagem. Eu estava lá no dia da festa de lançamento [do Dia Brasil] e eu pude ver, pessoalmente, a alegria de alguns artistas de outros segmentos, que estavam lá e que normalmente não participam da festa, de estarem ali. Chitãozinho e Xororó, por exemplo.

A honra de subir ao palco do Rock in Rio - e o Jota sempre tocou no Palco Mundo - é uma coisa transformadora. Muito do que o Jota Quest é hoje foi pelas outras oportunidades que tivemos de tocar no Rock in Rio.

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Todas as vezes que tocamos, nós saímos maiores do que [quando] entramos. Melhores, com certeza, porque se aprende demais ali.

Rogério Flausino

Como você mencionou, você vai se apresentar sem o Jota Quest. Como se sente com isso?

Meio desamparado (risos). Na verdade, eu ainda não sei exatamente como será esse show. Ele está sendo construído ainda. E eu estou ali como um representante, representando o Jota Quest, mas como um representante do rock nacional brasileiro. Cada um de nós vai cantar duas ou três músicas.

Mais do que estar ali nesse show especificamente, é estar naquele dia. É um dia histórico. É a primeira vez que todos os espaços serão tomados por artistas brasileiros, de todos os estilos.

Eu tive algumas oportunidades muito incríveis no Rock in Rio sem o Jota. Na primeira vez da banda, o nosso show era na segunda sexta-feira [de evento]. Na primeira quinta-feira, houve uma homenagem à Legião Urbana, com o Dado [Villa-Lobos], o [Marcelo] Bonfá tocando e a Orquestra Sinfônica. Muitos cantores foram convidados. E eu sou um ‘Legião maníaco’.

Rogério Flausino ao lado de Dado Villa-Lobos. Foto: JF Diorio/Estadão

Eu escolhi as músicas do repertório e tudo mais. Foi chegando perto do show, fizeram uma ordem e eu era o primeiro a entrar no palco e a cantar. Então, assim, a primeira vez que subi no palco do Rock in Rio foi sem o Jota Quest e cantando Legião Urbana. Cantei Tempo Perdido e Quase Sem Querer, talvez duas das músicas que eu mais cantei na minha vida fora as músicas do Jota. Foi uma coisa incrível, inesquecível.

Recentemente, tivemos a turnê de despedida do Skank e o Samuel Rosa indo para uma carreira solo. E vocês estão em um momento significativo para o Jota Quest: comemorando 25 anos de carreira com a turnê e lançando o volume 2 de ‘De Volta ao Novo’. Você pensa em apostar em uma carreira solo depois que os compromissos acabarem?

Não, não, não. É uma coincidência, uma conjunção de fatores o fato de eu estar ali sozinho neste show [do Rock in Rio] especificamente. Mas, absolutamente, o Jota vem no melhor momento da carreira. A Jota 25 é a maior turnê que já fizemos, fizemos em dois anos e em dois estádios. É um sonho realizarmos isso. Entramos em 2025 projetando o que vamos fazer em 2026, 2027.

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Muito tempo se passou. Temos conversado muito sobre o que podemos fazer que ainda não fizemos. Eu acho que essa turnê nos encheu de energia. Quantas coisas poderiam ter acontecido na caminhada e não termos chegado até aqui? Mas chegamos. Então, temos que cuidar disso com muito carinho.

Eu nunca me imaginei solo. Desde criança, sempre quis ter uma banda.

Rogério Flausino

Tive bandas desde criança e tenho uma ‘superbanda’. Somos uma ‘superbanda’ e isso dá um prazer absurdo. Adoramos a experiência do estádio, mas ela requer muita energia, muita dedicação e planejamento. Queremos fazer mais disso e queremos nos preparar melhor.

O Dia Brasil, em que você vai tocar, foi o dia que mais gerou burburinho. Teve gente que torceu o nariz para a inclusão do sertanejo no Rock in Rio. Como você enxerga isso?

O sertanejo, o samba, o hip-hop, os MCs, toda a rapaziada, chegou geral. E aí, qual o problema disso? Eu acho que, mais do que nunca, estamos vivendo essa multiplicidade, essa democratização, todo mundo misturado com todo mundo. O Rock in Rio segue essa tendência, eles não inventaram isso.

Eu achei de uma beleza e de uma dignidade absurda o festival ter tomado essa decisão e ter atuado dessa forma. A primeira edição do Rock in Rio tinha um monte de coisa que não era rock.

Rogério Flausino

Nós estamos vendo, depois da pandemia, festivais extremamente misturados. É assim que a juventude me parece ser. Ao contrário da nossa. O Jota passou muito por isso, sofremos um bocado de preconceito por sermos uma banda muito pop para ser rock. Naquele momento, isso me preocupava, me incomodava, porque eu era um menino que vinha do rock. Hoje em dia, eu acho tudo isso uma bobagem. Eu estou muito feliz com o nosso Jota Quest desse jeitinho que ele é.

Eu imagino que você deva acompanhar os comentários sobre o Jota Quest. Algumas pessoas começaram a falar, depois que vocês substituíram o Migos no Rock in Rio, que estão sempre no festival. Você acha que estar sempre em festivais aproxima ou distancia o público da banda?

Eu não sei responder isso dessa forma. Eu sei o que nós somos e o que fizemos para chegar até aqui. O Jota sempre foi uma banda que quis estar onde a galera estava. As bandas de rock que eu sempre gostei, que eram os nossos mestres e tudo mais, sempre foram bandas extremamente populares. Estavam presentes nos grandes eventos, nas grandes festas, nos grandes lugares, nas festas populares. Nós começamos a ser convidados para essas festas e fomos. E continuamos indo. O Jota é uma banda de todo mundo. Vou ficar com medo dentro de casa? Vou falar não para um convite em detrimento do quê?

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[Antes de substituir o Migos], estávamos em reunião, inclusive, falando sobre [a turnê] Jota 25. Recebemos um telefonema do Rock in Rio quinze dias antes do festival. Nos falaram: ‘Os caras tiveram problema, não vão poder vir. E nós pensamos em vocês. Vocês aceitam?’. Falei: ‘É claro que aceitamos’. Cancelamos o show que tínhamos e ‘partimos para cima’, subimos no palco do Rock in Rio mais uma vez. Nem sabia quem que era a banda que não tinha ido. Estou nem aí para isso. Eles é que perderam a oportunidade de tocar no Rock in Rio.

E como você lida com esses comentários sobre o Jota Quest?

Eu não lido, nem leio mais. Em primeiro lugar, nós temos que ter respeito pelos colegas de uma forma geral. Partindo desse princípio, ficar ali apontando o dedo é uma coisa que eu jamais faria com qualquer outro artista que fosse. Para quem não é artista, quem é fã e fica o dia inteiro falando que o Rock in Rio não é rock: meu irmão, você já perdeu essa guerra há muito tempo, porque nunca foi só rock.

O Jota Quest é formado por Rogério Flausino (vocal), Marco Túlio Lara (guitarra e violão), Márcio Buzelin (teclados), PJ (baixo) e Paulinho Fonseca (bateria). Foto: Weber Pádua/Divulgação

Eu estou com 52 anos e eu acho que a idade traz um baita equilíbrio. Eu acho que foi tão lindo o que conquistamos. É tão difícil chegar onde chegamos para ficarmos preocupados com opiniões alheias. Sempre incomodamos muito porque sempre fomos muito felizes, coloridos, entregues.

Hoje, eu consigo controlar um pouco melhor isso. A ponto de ver o que as pessoas falam e dizer assim: ‘Eles falam a mesma coisa há 30 anos, que engraçado’. As bandas mais legais são as mais detonadas. Eu não vou gastar muito tempo com isso não.

Quase 30 anos de uma das maiores bandas do País não é pouca coisa. Você pensa o tempo todo em música? Tem algum hobby para se distrair?

Meus amigos falam que o meu maior problema é que eu não tenho um hobby. A ‘alma do negócio’ é compor, escrever, construir, fazer o álbum. Mas tem um backstage que dá um trabalho absurdo. Então, eu trabalho de segunda a segunda. E isso tira todo o meu tempo.

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O pouco de tempo que me sobra [eu uso para] ficar com a família. ‘Domingões’ em casa, nós fazemos um ‘rango’. Enquanto a galera faz o ‘rango’, eu fico lá botando um som, colocando vinil. Para mim, ficar em casa colocando vinil com os amigos mais chegados é um dos melhores momentos, além de ficar com os meus filhos.

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