Guns N' Roses: Mesmo com voz imprevisível, Axl Rose chega com raça a São Paulo

Limitações do vocalista não comprometem show, que tem em Slash a maior compensação

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Foto do author Julio Maria

Depois das notícias desoladoras que chegaram da Cidade do Rock, a expectativa para ver o Guns N' Roses não era das mais altas. A plateia compareceu ao Allianz na noite desta terça, 26, não no mesma quantidade que fez o Bon Jovi viver dias de década de 1990 no sábado, mas a fidelidade aos ídolos estava lá. Pais, filhos, camisetas, rodinhas de conversa de especialistas no assunto. Tudo para esperar Axl Rose e Slash com a melhor das boas vontades. Só faltava ver o palco. E a voz de Axl.

E eles vieram com surpreendentes "apenas" 15 minutos de atraso contra as três horas que a banda já deixou seu público esperar. Vieram com It's So Easy, uma boa forma de aquecer a voz de Axl pelo tom mais baixo. Mas ele sobe ao final e termina ao lado de Slash com moral.

Axl Rose e Slash encerram festival São Paulo Trip comshow do Guns N' Roses no estadio Allianz Parque. Foto: Werther Santana/Estadão

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Há uma boa maneira de não se frustrar com o Guns de hoje. Basta não esperar o Guns de 1993. Axl é outro, com mais peso no corpo e menos na voz, ele chega empenhado em entregar o melhor que pode. E Welcome to The Jungle saiu de novo surpreendente. Parecia o Axl dos bons tempos. 

Slash é um animal no palco. Sabe onde ir enquanto é o personagem principal e como ser coadjuvante quando Axl retorna. Aliás, o mistério do vocalista continua. O que ele tanto vai fazer atrás do palco a todo momento enquanto a banda toca, ninguém sabe. Seus problemas de voz ficam mais evidentes em Better. Não é o fato de estar mais ou menos grave, é o timbre. O brilho, pormuitos momentos, simplesmente desaparece, e quem canta se torna um simulacro de algo que um dia conhecemos.

Mas há muita qualidade no palco. Axl traz o peso de ter erguido um dos melhores episódios do rock and roll e Slash já é lembrado como o último grande guitarrista do hard rock. Não dá pra não respeitar.

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Live and Let Die chega opaca, mas logo Axl se transforma de novo e solta agudos quase inacreditáveis. É uma oscilação que ele mesmo parece não conseguir controlar. Ora a voz está onde ele quer que esteja, ora se rebela e se vinga dos anos de maltratos.

Rocket Queen tem os solos monumentais de Slash, com Axl usando o icônico figurino de bandana, óculos de sol e chapéu preto. Ele some de novo, troca de camisa e volta para fazer You Could Be Mine. Quando chega Attitude, do Misfits, e a lista de músicas mostra que o show tem mais dois terços de duração, pode existir a sensação de que a apresentação parece longa demais. Mas sobretudo a frente da plateia ainda está com a banda, que agora canta This I Love.

O show começa a se arrastar um pouco em Coma, logo depois de Yesterdays. Mas a redentora Sweet Child O' Mine estará ali, estrategicamente, para recolher de novo as memórias afetivas. Elas voltarão em I Used To Love Her, November Rain, Knockin' on Heaven's Door e Nightrain. E em um longo bis, que passará inevitavelmente por Paradise City

Sweet Child O' Mine esconde um segredo, por mais automática que pareça sair das mãos de Slash e burocrática que é encarada pela banda. A voz que se ouve ali não é a daquele Axl. Ele tem apenas um fio guia que deflagra a memória da imensa plateia à sua frente. O Axl que vale a pena está dentro de cada fã. 

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