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Guns N’Roses: o que esperar do show em SP - ou por que Axl Rose não deve se aposentar

Grupo se apresenta neste sábado, 24, no Allianz Park, com três horas de hits

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Foto do author Adriana Moreira
Atualização:

A primeira vez que fui num show do Guns N’ Roses eu tinha 14 anos. Foi num Anhembi antes do Sambódromo, em um novembro chuvoso de 1992 no qual November Rain era o grande hit do momento. A banda estava em seu auge, na turnê dos álbuns Use Your Illusion I e II, e Axl era um sex simbol de voz impecável e notas agudas.

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Trinta anos depois, o Guns N’ Roses volta a se apresentar no Brasil, em uma grande turnê que já passou por oito cidades e chega a São Paulo neste sábado, 24, antes de passar por Porto Alegre e seguir para Buenos Aires. No Rock In Rio, o cantor desafinou e demonstrou dificuldade em algumas músicas, o que lhe rendeu duras críticas - inclusive do Estadão, que recomendava a aposentadoria do cantor. Algo de que vou discordar veementemente.

Claro que boa parte disso tem a ver com meu lado fã, que já me fez fazer um bate-volta a Porto Alegre em um ano em que eu não poderia ir ao show na data em São Paulo. Mas há outras razões, que já explico.

Axl, como todos nós, envelheceu. E daí?

Para começo de conversa, é de se esperar que, depois de 30 anos, Axl esteja diferente - quem não está, não é mesmo? Aos 60 anos, ele agora entra no palco no horário estabelecido e não joga mais nada pela janela do quarto, como fez no Maksoud Plaza, em São Paulo, nos anos 90. Por outro lado, vem apresentando dificuldades em fazer o drive, o efeito “rasgado” característico dos cantores de metal.

Axl Rose em foto de 1988 Foto: Mark Weiss/Washington Post

O professor Marcio Guerra analisou a apresentação do cantor no Rock In Rio em seu canal do YouTube, e explicou que essa dificuldade pode ser causada pelo desgaste em razão do excessivo uso da técnica ao longo dos anos. Afinal, na juventude todos nos sentimos poderosos e invencíveis, e quem acompanha a carreira da banda sabe que houve muitos abusos nesse período.

O fato de Axl ter envelhecido significa que ele deva largar os palcos? De jeito nenhum. Mas talvez ele possa diminuir o ritmo de shows para se dar mais tempo de recuperação.

Axl está com sede de palco - e isso é bom

Mas se os agudos não estão tão bons, os graves continuam intactos, assim como a sede de palco de Axl. No show de Florianópolis do último domingo, 18, que acompanhei presencialmente, era nítida a entrega no palco, não só se esforçando para empregar a melhor técnica possível diante de suas limitações vocais quanto na performance. Axl canta, toca piano em November Rain e corre o palco de ponta a ponta, diversas vezes, ao longo de três horas de show. Não é para qualquer um.

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Axl e Slash juntos são imbatíveis

Axl e Slash: dupla fez as pazes e quem ganha são os fãs Foto: Christopher Pike/REUTERS

Com solos de guitarra longos e impressionantes, Slash enche os olhos - e os ouvidos - de quem assiste ao show. A combinação da performance de Axl com a técnica apurada do guitarrista é sempre um espetáculo memorável. Desde que ambos voltaram a se apresentar juntos, em 2016, o show do Guns N’ Roses ganhou em qualidade e se transformou em um espetáculo de alto nível. É legal vê-los sozinhos? Pode até ser. Mas juntos eles são imbatíveis.

Hit atrás de hit

Não é qualquer banda que tem hits suficientes para preencher três horas de show em alto nível. Welcome to the Jungle, Mr. Brownstone, Estranged, Paradise City, Sweet Child O’Mine são apenas algumas que têm lugar cativo no repertório. Não há muita conversa com o público - em Florianópolis, apenas Duff mandou um “Hello Floripa” para a plateia - e o tempo é preenchido mesmo com música. Com bandeiras da Ucrânia dos dois lados do palco, a banda tocou Civil War enquanto imagens da guerra da Ucrânia apareciam no telão. Recado dado.

Playback não é uma opção

Axl poderia facilmente se apoiar em playback para minimizar as críticas - o recurso é amplamente utilizado, especialmente por estrelas do pop. No Rock In Rio, Dua Lipa e Justin Bibier foram alguns dos nomes que se valeram do recurso. O líder do Guns N’ Roses, no entanto, foi para o tudo ou nada, sem medo de encarar as críticas.

Axl não é o único grande cantor que perdeu a potência vocal

Zezé Di Camargo também não alcança mais as notas do começo de sua carreira, mas ele ainda agrada seu público com o legado que construiu ao longo dos anos. Mariah Carey foi outra que danificou a voz por causa do esforço excessivo ao longo dos anos, mas fez uma longa temporada em Las Vegas e segue em turnê.

Um espetáculo é feito de múltiplos fatores

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Durante o show em Florianópolis, não vi ninguém do público questionando a voz de Axl - e sim, ele ainda estava um pouco rouco e em diversos momentos tossia fora do microfone. O público era bastante heterogêneo,com pais e filhos cantando juntos os sucessos da época de ouro da banda, mas era nítido que, ali, o objetivo era mais do que ouvir uma voz perfeita.

A música tem o poder de nos transportar para diferentes momentos da vida. Minha amiga que estava comigo no show disse que, nesses momentos, ela se sentia novamente em contato consigo mesma. Eu desbloqueei algumas memórias esquecidas do show de 1992, como quando Slash tocou sua guitarra em cima do piano molhado da chuva inclemente. Axl estava ao piano, e a música, claro, era November Rain.

É certo que uma artista não faz show sozinho. Além da banda e do staff, o público também participa da apresentação. Axl não estará com a voz perfeita neste sábado, no Allianz Park, mas pode, sim, entregar um show memorável. Os ingressos estão esgotados.

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