Histórias de Paul McCartney com o Brasil dariam um livro; conheça algumas

De músicas inspiradas em tribo do Xingu e Chico Mendes, um ‘ataque’ de gafanhotos em show de Goiânia e o boato de que os Beatles gravariam ‘Asa Branca’ em 1968, passagens se tornam icônicas

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Foto do author Julio Maria
Atualização:

As histórias de Paul McCartney com o Brasil não começaram nos frescos anos de 2010, quando o beatle (ex-beatle não existe, como ele diz: uma vez beatle, sempre beatle) deu início a uma série de desbravamentos generosos não só a capitais como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mas também a regiões fora da rota, como Cariacica, no Espírito Santo, e Goiânia, Goiás.

Paul McCartney em 2021 Foto: GAELEN MORSE / REUTERS

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Se formos aos anos 60, e o próprio Paul apontou isso em uma entrevista dada à Revista Época, em 2012, os Beatles sabiam da bossa nova e ele mesmo, Paul, se inspirou em sua leveza e seu sua ambiência, mas não exatamente em suas estruturas harmônicas, para compor The Fool on the Hill, lançada em 1967. Ouça a música de novo pensando em bossa nova, há pelo menos uma tentativa ali.

Um pouco antes, em 1966, a Seleção Brasileira estava concentrada nas imediações de Londres para a Copa do Mundo da Inglaterra quando – atenção: a partir daqui são memórias de um rapaz que estava no time, Edson Arantes do Nascimento, relatadas em entrevista ao Estadão – quatro rapazes chegaram disfarçados para conhecê-lo. Mas um segurança da Seleção, desavisado, achou tudo aquilo muito estranho e mandou os meninos cabeludos catarem coquinho.

Dois anos depois, quando os Beatles preparavam o triste e distópico Álbum Branco, já com a banda em processo de derretimento, era o Brasil que ia a eles pela voz de Luiz Gonzaga. Carlos Imperial, produtor cheio de maracutaias, espalhou que o próximo disco do quarteto traria uma versão de Asa Branca chamada Blackbird. Gonzagão acreditou e deu até entrevista sobre o assunto: “Os meninos ingleses têm muito sentimento e não avacalham a música. A toada deles parece bastante com as coisas do Nordeste.”

Até o Estadão caiu nessa, e Imperial deu outra deixa que ninguém aproveitou. Assim como ninguém da bossa nova tocou The Fool on The Hill de banquinho e violão, também ninguém pensou em unir Blackbird a Asa Branca. Ouça as duas músicas e perceba a curiosa semelhança das melodias. Os Beatles faziam baião e nem sabiam.

Com as vindas mais regulares de Paul, claro, as histórias aumentaram. Em 2013, durante passagem por Goiânia com a turnê Out There, na qual o Estadão estava para fazer a cobertura, uma família de gafanhotos, ou de esperanças, um inseto parente, passou a dançar (ok, voar, aos corações menos poéticos) ao lado do beatle enquanto ele tocava Hey Jude.

Paul batizou o mais atrevido deles de Harold e, ao cantar o trecho “the movement you need is on your shoulder (o movimento que você precisa está em seu ombro)”, improvisou e disse “agora, com certeza está”, sorrindo para Harold. O homem que já tocou no Coliseu de Roma, na Praça Vermelha de Moscou, no Palácio de Buckingham, na Casa Branca e no deserto da Califórnia só foi acompanhado por gafanhotos uma vez, em Goiânia, Brasil.

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Show de 2013, em Goiânia, quando os gafanhotos o cercaram no palco Foto: Marcos Hermes

Ao voltar ao País, ele certamente irá se dedicar mais uma vez a aprender não apenas as frases que todos dizem, como “obrigado” e “boa noite”, mas aos regionalismos que fazem estádios inteiros atônitos. Quando passou por Fortaleza, em 2014, disse: “Vamos botar boneco!”, algo como fazer bagunça, dar chilique, e “eita, má!”, uma abreviação para algo que já é uma gíria local, “eita, macho”. Disse ainda que a banda “precisava vazar”. Em Belo Horizonte, no mesmo ano, mandou um “uai”, em São Paulo falou um ou dois “tá ligado” e definiu o próprio show dizendo: “Está bombando, que balada!”

Aos que quiserem tentar encontrar Paul pela cidade, um dia antes ou depois de sua apresentação, o procure nos parques. Em 2010 e 2019, ele foi andar de bicicleta no Parque do Povo, Itaim Bibi, São Paulo, ao lado da mulher, Nancy Shevell. E fez o mesmo em pelo menos outra cidade, Brasília.

Veja outros pontos de ligação do eterno beatle com o Brasil:

Inspirado em uma tribo brasileira

O álbum McCartney, de 1970, tem a canção Kreen-Akrore inspirada em um documentário chamado The Tribe That Hides From Man, assistido por Paul na TV, em 1969. Foi lá que o beatle conheceu o trabalho dos indianistas brasileiros Orlando e Cláudio Villas-Bôas, que falavam sobre a vida dos índios Kreen-Akrore, isolados no Xingu, entre os estados do Pará e do Mato Grosso. ...

Homenagem a Chico Mendes

Ao saber do assassinato do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes, em 1989, morto de forma violenta no interior do Acre, Paul escreveu a canção How Many People, lançada no disco Flowers in the Dirt. Ele chegou a cantar a música no Brasil, em 1990.

Primeiro show no Brasil e recorde

Sua primeira apresentação no Brasil foi no Maracanã, em 1990, para divulgar o disco Flowers in the Dirt. A apresentação do dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, bateu recorde de maior público para o show de um artista solo: 184 mil pessoas. Faturamento: US$ 3,5 milhões.

Enfim, uma canção para o “Brazil”

Não é das melhores músicas de Paul, mas, ao menos, é alguma coisa. Depois de tantas vindas, ele compôs Back in Brazil, lançada no álbum Egypt Station, de 2018, contando a história de uma fã que se passa antes de um show do cantor em Salvador, na Bahia. Existe até clipe disso.

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