Lenny Kravitz: ‘Brasil tem algo de incrível e majestoso. Adoraria ter vivido na época da bossa nova’

Em entrevista ao ‘Estadão’, músico diz que seu novo álbum ‘Blue Electric Light’ é ‘celebração espiritual e sexual’, fala sobre otimismo em tempos difíceis e de sua fazenda-mansão no Rio de Janeiro: ‘Não vejo a hora de voltar’

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Foto do author Damy Coelho
Atualização:

Lenny Kravitz é um romântico incurável. Sua inspiração não se limita a uma paixão idealizada, mas à energia que une diferentes culturas, que faz conectar pessoas a um lugar – aspectos que não deixam de ser, também, românticos. Desde sua estreia, em 1989, com o álbum Let Love Rule, é o amor que dá as cartas e permeia sua discografia. A prova mais recente é seu 13º álbum, Electric Blue Light, que chega ao mundo no dia 24 de maio. Trata-se de uma “celebração espiritual e sexual”, nas palavras do cantor ao Estadão. Dessa vez, ele também exalta o amor próprio e o poder dos encontros.

Já na primeira faixa, It’s Just Another Fine Day (In This Universe of Love), o ouvinte se depara com aquele soul-rock suingado que o consagrou, enquanto Lenny convida: “Eu chamo seu nome... você consegue me ouvir?”. O amor também é protagonista em Love is My Religion, com melodia inspirada em canções gospel norte-americanas, e na balada Honey, que evoca o romantismo da época de Motown Records, assim como fez o primeiro hit de Lenny de 1991, It Ain’t Over‘til It’s Over, do álbum Mama Said.

Lenny Kravitz: cantor foi homenageado no Grammy 2024 com o prêmio "Impacto Global" Foto: Divulgação / Mark Seliger

Ao falar de amor, Lenny Kravitz oferece uma resposta às demandas de seu tempo. Em 1989 – ano de seu debut musical – aconteceu a queda do Muro de Berlim, que marcava o fim da Guerra Fria. Em 2008, quando lançou It’s Time for a Love Revolution, a Guerra do Afeganistão passava por um de seus períodos mais violentos. Neste 2024, o mundo assiste a duas guerras, o que faz pensar que nunca estamos navegando por águas 100% pacíficas. Talvez por isso, o discurso que prega o amor, das mais variadas formas, nunca tenha saído de moda – assim como o próprio Lenny Kravitz.

Lenny Kravitz Foto: Evelson de Freitas/AE

Boogie Nights com Star Wars

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O público teve uma amostra do Blue Electric Light ainda em outubro de 2023, com o lançamento do single TK421. O título pode parecer o nome de um filho do Elon Musk, mas a origem da alcunha é outra. “TK421 significa energia positiva”, explica o cantor em seu TikTok. “O primeiro verso começa com: ‘Agora é hora de enfrentar seus medos, as conversas em sua mente. Você pode me dizer como se sente e eu prometo que vai ficar tudo bem.’”

De forma menos metafórica, TK421 faz referência a uma cena do filme Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson. Nela, o personagem Buck tenta vender um aparelho de som para um cliente inventando que os graves são mais potentes graças à “tecnologia TK421″ – que parece ser o primeiro nome que lhe vem à cabeça, pois a sigla também é a identificação de um stormtrooper em Star Wars.

“Eu amo cinema e amo esses filmes. Eu uso essa metáfora, porque o ‘TK421′ é essa coisa que te faz melhor, que te dá mais poder. Veio do George Lucas, passou para o Paul Thomas Anderson e agora está na minha música”, explicou no vídeo.

Na faixa, uma espécie de new wave à la INXS, ele canta: “Todos a bordo, levo você para a estratosfera”. No clipe, o cantor acorda sem roupa, toma banho, dança e se diverte. A parte do “sem roupa” foi a que mais chamou atenção nos sites de notícias, naturalmente – apesar de injusto com os (outros) belos efeitos visuais para prender a atenção do espectador, como a câmera em movimento e a fotografia em alto contraste, marca registrada da diretora ucraniana Tanu Muino. Ele a convidou para o projeto depois de assistir ao clipe de Chicken Teriyaki, da Rosalía.

A sétima arte de Lenny

Como um amante do cinema, Lenny Kravitz esteve devidamente envolvido em produções do gênero. Atuou em longas como Jogos Vorazes e Preciosa e, em 2023, gravou, para o filme Rustin, a faixa Road to Freedom, que concorreu ao Globo de Ouro deste ano como Melhor Canção Original (e acabou perdendo para Billie Eilish).

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Para a composição, o cantor pesquisou a fundo a história de Bayard Rustin, ativista do movimento negro dos Estados Unidos que inspirou o filme. Ele conta que também conversou com Colman Domingo, que interpreta o protagonista. “Foi uma honra”, disse.

Sou como uma antena, estou aqui para receber o que quer que me seja dado.

Último romântico: Lenny Kravitz lança álbum 'Blue Electric Light' Foto: Divulgação Lenny Kravitz / BMG

Ícone global

Chegando aos 60, com 13 discos lançados, Lenny não precisa se provar para ninguém. Consolidou-se como um dos nomes mais influentes da música mundial. Venceu 4 Grammys consecutivos na categoria “Melhor Performance Masculina de Rock”, entre 1999 e 2002. Neste ano, foi homenageado com o prêmio “Impacto Global” ao lado de Mariah Carey.

Lenny mantém uma página no TikTok para se aproximar dos fãs, e não para absorver a forma de produção musical que a plataforma costuma ditar. Basta observar que as músicas de Blue Electric Light têm, em média, 5 minutos – o que para canções contemporâneas é uma eternidade.

A autenticidade de Lenny está, também, na forma como grava seus discos. É ele quem toca todos instrumentos, geralmente em seus estúdios. Desta vez, ele gravou tudo nas Bahamas, na companhia do parceiro musical de longa data, o guitarrista Craig Ross.

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Apesar de ser um legítimo nova-iorquino com uma vida cosmopolita – ou, talvez, por isso mesmo – Lenny é cidadão do mundo. Além da casa em Bahamas, país de onde veio sua família, o cantor se divide entre uma residência em Paris e as terras no Brasil.


Lenny Kravitz vai alugar sua fazenda no Rio de Janeiro Foto: Reprodução de vídeo YouTube/ Architectural Digest

‘Eu quero uma casa no campo...’

Lenny se encantou pelo Brasil desde quando veio para a primeira turnê, nos anos 2000. “Me atrai pelas pessoas, pela cultura, pela música, pela terra… para mim, o Brasil tem algo de incrível e majestoso”, disse.

Ele rendeu-se a uma espécie de romantismo à brasileira. Se apaixonou, sentiu saudades e voltou. Realizou até o sonho de ter a própria fazenda – que ele chama de “fazenda” mesmo, em bom português. Ele visitou a região serrana do Rio de Janeiro a convite de um amigo, e passou os dias no município de Duas Barras. Lenny se admirou pela “paisagem espetacular e deslumbrante, com um vale cercado por montanhas, cachoeiras, cavalos, macacos, vacas, árvores frutíferas e campos”, conta, para a revista Architectural Digest.

Dois anos se passaram e ele não conseguia tirar o lugar da cabeça. Então, em 2007, o cantor comprou o terreno no Rio de Janeiro que, no século 18, servia à produção cafeeira, contando com um casarão colonial com imensas janelas e pé direito alto.

O terreno ainda tem um estúdio – com piano que pertenceu ao cineasta Ingmar Bergman –, uma academia e 400 hectares no total. Atualmente, parte do terreno está disponível para aluguel para quem quiser desembolsar R$ 18 mil pela diária.

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Fazenda de Lenny Kravitz no Rio de Janeiro Foto: Reprodução X / @qaaliciid
Fazenda de Lenny Kravitz no Rio de Janeiro Foto: Reprodução X / @qaaliciid

É verdade que o Brasil já havia despertado nele outras paixões – Lenny relacionou-se com a modelo Adriana Lima, de quem chegou a ficar noivo no início dos anos 2000. Mas seu primeiro encantamento pelo País veio pela música.

Eu amo música, ponto final. Tudo me influencia. Tenho muito amor e respeito pela música brasileira. Adoro a bossa nova, adoraria ter vivido na época em que esse movimento aconteceu no Brasil

Lenny Kravitz

Lenny confessa que está com saudade da fazenda. Ele contou que não volta ao Rio há 7 anos – passou boa parte da pandemia em sua casa nas Bahamas, mas pretende voltar logo ao lugar que desperta sua criatividade. Atualmente, se prepara para uma turnê mundial, e uma passagem pelo Brasil está, definitivamente, em seus planos. O Estadão apurou que existem negociações com várias promotoras de shows para realizar um novo show dele por aqui.

“Não vejo a hora de voltar para minha fazenda e também de voltar a tocar aí”, diz, já ao fim da entrevista. Que seja em breve o reencontro com o País que ele aprendeu a amar.

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