Surpresa. Liam Gallagher começa o show em São Paulo, no Espaço Unimed, no horário. Nove e meia. Em ponto. É algo surpreendente para alguém que já desapareceu nos Estados Unidos e deixou o irmão, Noel, a banda, Oasis, e a MTV esperando para a gravação de uma apresentação acústica. Mas estamos falando do novo Liam. Um senhor de 50 anos, completados recentemente, em setembro, que cuida melhor da saúde, da cabeça e, principalmente, um homem com uma missão: levar o rock de Manchester para o mundo.
Se você é realmente um fã do Oasis, um tempo atrás, teve de fazer uma escolha. A banda acabou e restou de um lado Noel, o guitarrista blasé e motor autoral do grupo, e Liam, o encrenqueiro doce e mal encarado que fala um inglês tão sujo que é bastante difícil de entender. Mas que falou muito entre as músicas, mostrando um carisma que nunca esteve ali (eis a segunda surpresa da noite).
Não à toa, ele sempre foi a alma da banda.
Aqui, um aposto rápido e desnecessário: uma vez, em uma outra vida, chegando de trem em Liverpool, nas primeiras horas da manhã, topei com um grupo mal encarado que me cercou. Eles falavam, falavam, e eu não entendia nada. Eles queriam só um cigarro, no fim das contas - tinha acabado, ao descer da estação, de acender o meu segundo do dia. Dei os cigarros e eles, gentilmente, agradeceram e foram embora.
Voltamos para 2022. Em São Paulo.
Bem, como a alma do que um dia foi a maior banda de rock de todos os tempos, Liam não decepcionou o público que acompanhou o show desta terça-feira, 15, em São Paulo. Ao contrário do irmão, ele descarregou uma tonelada de clássicos do Oasis: começou matando a pau com Morning Glory e Rock ‘n’ Roll Star. Ambas dos dois primeiros álbuns do Oasis, dois discos que figuram em qualquer lista de melhores da década de 1990, a melhor da história do rock.
Liam conquistou ali a plateia, que não precisaria de muito, é verdade, mas que vibrou a cada letra cantada a cada instrumento tocado - aliás, ótima a banda de apoio que acompanha o inglês na carreira solo. Com o jogo ganho, ele vai despejando ótimas performances de sua carreira solo - o ápice é More Power, onde o velho Liam canta para a mãe: ‘Mother, mother, I’ll admit that I was angry for too long’.
Não é lindo?
Pra mandar todo mundo pra casa feliz, Liam emenda no bis Live Forever e… e…. Champagne Supernova. E aí, o que era euforia, vira catarse. As pessoas cantando a pleno pulmão, felizes, imaginando um mundo que pode ser melhor (é esse o poder da música).
E Liam canta e o público canta: “Cause people believe / that they’re gonna get away for the summer / But you and I, we live and die / The World’s still spinning’ round / We don’t know why / Why, why, why, why’”.
Não é lindo?
Ouça Liam Gallagher
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