Bem ou mal, você já ouviu falar de Luísa Sonza.
A gaúcha de 25 anos, que é um dos maiores nomes do pop nacional, ultrapassou 900 milhões de streams no Spotify no ano passado. Ela foi a artista pop mais ouvida do Brasil entre 2021 e 2022, com sucessos como SentaDONA, Cachorrinhas, Modo Turbo, Braba e Anaconda. Suas músicas tocam nas rádios, nas festas e no TikTok. Agora, ela diz que quer ir além.
Prestes a lançar seu terceiro álbum de estúdio, Escândalo Íntimo, Luísa se prepara também para fazer um show na primeira edição do festival The Town, que promete ser um dos maiores do País. Esse momento marca uma nova fase para a artista: ela, que já fez o papel da cantora pop em sua definição mais literal – música para dançar, divertida e comercial –, quer gerar discussões.
“Acho que a arte tem a intenção de provocar. E quando bem-feita, tem várias interpretações”, diz. “É importante causar discussão, não só entreter. Gosto de entreter, mas quero ter um papel mais significativo como eu puder fazer”.
Em entrevista ao Estadão, ela detalha seus próximos passos: um álbum provocativo, um mergulho na sua cabeça e um show para levantar o público.
Os escândalos de Luísa Sonza
Escândalo Íntimo será lançado no dia 29 de agosto, mais de 2 anos desde o álbum anterior, Doce 22. Para começar a divulgação do novo disco, Luísa escolheu a música Campo de Morango, que tem somente 1 minuto e 16 segundos de duração.
Antes mesmo da faixa sair, a artista previa grande repercussão. “Vai causar um bom frisson antes do álbum”, escreveu em suas redes sociais.
Luísa estava certa. Com um vídeo que não pretende ter leveza ou ser de fácil consumo (Sonza canta “sou uma vagabunda na tua cama”, enquanto dança em uma cama suja de morangos, que lembram sangue), a recepção da música foi dura. Houveram críticas sobre a letra, sobre o clipe e até acusações de alusão a um ritual satânico.
Para ela, isso faz parte do jogo.
“Escolhi Campo de Morango para iniciar o Escândalo Íntimo com o escândalo, para depois continuar com o íntimo”, ressalta. “E pela minha história, que praticamente todo mundo conhece, tem muito a questão do ódio [sobre mim], da interpretação rasa sobre mim, das projeções que criam. Então a gente resolveu colocar uma luz no público e dizer ‘é isso que acontece’”, conta.
Luísa acredita que o single é a “ponta do iceberg do álbum”, que não pode ser entendido separadamente. Mas teve seu propósito: se Campo de Morango potencializa esse ódio nas redes sociais, ela promete uma canção que responda a tudo isso. Uma é a causa; outra é o efeito.
“Essa próxima música responde exatamente o que foi feito [após Campo de Morango] e o que é feito todos os dias com vários artistas e pessoas. Quando a gente não é entendido, nem respeitado”
Luísa Sonza
“Essa próxima música responde exatamente o que foi feito [após Campo de Morango] e o que é feito todos os dias com vários artistas e pessoas. Quando a gente não é entendido, nem respeitado”, revela.
O single que virá em breve, “baseado em uma crise de ansiedade”, tem um caráter bem mais experimental.
“[A próxima música] é a minha preferida. Foi a primeira vez que consegui mostrar como a minha cabeça funciona”, relata. “Acredito que vai gerar um estranhamento nas pessoas. A estrutura dela não é convencional, vai mudando drasticamente ao longo da música”.
“Quem tem crise de ansiedade vai entender”, brinca.
Sonza fala muito em ansiedade porque já esteve tanto na crista da onda do sucesso, quanto recebendo a onda de hate. Desde seu casamento (e separação) com o influenciador e humorista Whindersson Nunes, ela sempre teve sua vida pessoal sujeita ao escrutínio da internet. Já viveu relacionamentos publicizados, foi tema de polêmicas e fez vários hiatos nas redes sociais. Ela é criticada pelo que faz, como suas letras sexuais, e o que não faz, como os acontecimentos na vida de seu ex-marido.
Luísa também foi denunciada por racismo, processo que foi resolvido judicialmente no último ano. Esse será o primeiro álbum lançado desde então.
Nele, a artista não pretende se afastar da exposição, mas abordar os efeitos que a vida pública teve em sua cabeça.
“Escândalo Íntimo é muito sobre saúde mental, uma autoanálise sobre meus traumas, minha cabeça, sobre depressão”, revela. “É tipo um curta-metragem. Na verdade, cada ‘clipe’, entre aspas, por favor (risos), é uma cena de um curta. Nada é real, é tudo da minha cabeça”.
Para Luísa, o álbum será sua mente dissecada: seus sonhos, seus pesadelos, as partes que conversam e as partes que não.
“Decidi fazer uma viagem no meu inconsciente, do que minha mente provoca. Tem muito de autossabotagem, de eu mesma transformar um sonho bom em pesadelo”
Luísa sobre seu próximo álbum, 'Escândalo Íntimo'
Em seu disco anterior, Doce 22, a artista já procurava responder às críticas e expor mais de sua vida pessoal, com a roupagem mais pop possível. Agora, ela promete mostrar “suas sombras” junto de maior experimentação sonora.
“O álbum tem muitas músicas que não necessariamente são prováveis de ‘chartear’”, comenta. “De 26 músicas, umas 3 são como Campo de Morango”.
Sonza adianta que o álbum terá participações, mas não indica quais são. Na internet, rumores mencionam a cantora internacional Demi Lovato. “O que eu posso dizer é que terão feats, que eu admiro muito. É uma honra tê-los nesse projeto tão íntimo”, diz.
Show no The Town: nova turnê, nova Luísa
“Estou muito ansiosa, nem estou dormindo direito”, brinca a artista sobre o show que fará no The Town no próximo dia 3, em São Paulo. O festival, organizado pela mesma produtora que realiza o Rock in Rio, promete ser um dos maiores do país. Sonza cantará no mesmo dia que Bruno Mars, Bebe Rexha e Alok – e a data teve suas vendas esgotadas em pouco mais de uma hora.
Ela garante que o show será animado e com “muitos grandes hits”. A artista está ensaiando antes mesmo do lançamento de seu novo disco, o que significa que ela não sabe quais serão as músicas preferidas do público e teve que escolher o setlist mesmo assim. Por isso, ela diz que priorizou faixas uptempo, com maior BPM.
“É muito no ‘feeling’, muito na proposta do show. Algumas músicas que acredito que vão ser fortes [no disco] não necessariamente estarão lá”, reforça. “Quando a gente lançar o álbum, pode ter alguma mudança de repertório pequena, dependendo de como o público vai reagir. Mas eu tenho um ‘feeling’ bom pra setlist, modéstia à parte”.
O show será alto astral, mas as baladas estarão presentes: a artista diz que manterá as faixas mais tristes que marcaram sua trajetória, como Penhasco e Melhor Sozinha (uma foto que a própria artista vazou sugere que Penhasco 2, possível segunda parte de música de Doce 22, será lançada em novo disco e no show).
“Seguimos com toda a parte da Luísa canceriana”, brinca. “De ter uma parte muito animada e uma muito triste, que os fãs falam: ‘sai de Anaconda e vai para Penhasco’ (risos). Eu amo essa característica, acho que meu show fica único com essas nuances”.
Esse show tem a responsabilidade de inaugurar uma nova Luísa. Sua apresentação no Rock in Rio em setembro de 2022, que lotou um palco menor do festival, serviu como estreia da turnê O Conto de Dois Mundos. Agora, a apresentação no The Town terá o mesmo papel, para um novo álbum – dessa vez, no maior palco do evento.
“Show completamente diferente, tema novo, Luísa nova, até meu cabelo é novo”, adianta. “É uma nova era que deve seguir por uns dois anos, em um festival que também está estreando, então é uma estreia dupla, uma sensação dobrada de felicidade. Esperem eu me entregando muito”, promete.
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