Os norte-americanos do Mercury Rev integram um grupo raro de artistas. Qual banda pode dizer que lançaram seus melhores álbuns depois de perderem o seu vocalista principal? A pergunta foi feita pelo jornal The Guardian, em 2015.
Citaram nomes como Marillion, grupo de rock progressivo, mas a discussão aí é se existe algum disco realmente bom do grupo inglês. Citam também Joy Division, que se tornou New Order depois da morte trágica do gênio Ian Curtis.
Outra opção que não vale de nada. O que faz do Mercury Rev um caso quase único. E como cresceram. Ainda o fizeram no fim dos anos 1990, quando a pirataria já ganhava força, o download ilegal crescia, as gravadoras começavam a sentir o baque (financeiro).
“Foram tempos de mudanças, né?”, lembra Sean Thomas Mackowiak, também conhecido pelo nome de Grasshopper. Guitarrista, tecladista e responsável por outros sons da banda, Sean é um dos poucos integrantes fundadores a permanecer no Mercury Rev.
Grupo de destaque no cenário da música alternativa dos Estados Unidos da década de 1990, o Mercury Rev mantém também Jonathan Donahue da sua formação original – é ele o responsável pelos vocais principais depois da saída de David Baker, dono de um vozeirão grave, que canta nos dois primeiros álbuns da banda
O auge – no sentido de aclamação de público e crítica – do Mercury Rev se deu em 1998, quando o grupo já entendia sua nova formação e lançou o álbum Deserter’s Songs, eleito pela revista britânica NME como o melhor daquele ano. E é com a celebração dos 20 anos desse disco que traz o grupo de volta ao Brasil e pela primeira vez a São Paulo.
O Mercury Rev é uma das quatro atrações internacionais do Balaclava Fest, o simpático festival indie realizado pelo selo Balaclava Records, que já trouxe atrações suculentas para quem curte a música alternativa, como Future Islands, Slowdive, Yuck, Mac Demarco e Washed Out – nenhuma gigante, mas todas estabelecidas no que chamamos de “midstream”, um meio-termo entre os nichos pequenos e o mainstream das grandes rádios e shows em estádio.
De uma só vez, o Balaclava Fest solta hoje o nome de quatro atrações – ainda outras estão por vir. Além de Mercury Rev, estão confirmados os grupos Warpaint e Deerhunter.
Formado por quatro garotas, o Warpaint é um dos grupos do indie que “precisam ser ouvidos” o quanto antes. Um quê de psicodelia se une à postura punk das gurias que criam um som libertário. No palco, elas são a revolução encarnada. Demais.
O Deerhunter, por sua vez, é desejo antigo dos indies brasileiros. Essa estreia no País já circulava como possibilidade, mas ninguém havia confirmado.
Para fechar o pacote de atrações do festival, o Balaclava Fest também anuncia a banda brasileira Marrakesh, vinda de Curitiba, dona de um som que parece vir do espaço sideral, quente, como se fosse um asteroide a circular ao redor de uma estrela jovem.
Celebração dos 20 anos de Deserter’s Songs , do Mercury Rev
Pai de dois filhos, de 2 e 5 anos, Sean vê a celebração de Deserter’s Songs como um grande momento para voltar ao Brasil – se apresentaram em 2005, em Curitiba. “Faz muito tempo, não é?”, admite o músico, enquanto supervisiona o filho mais novo, que brinca próximo dele.
“Com esse disco, a gente teve um salto grande, internacionalmente falando. Na época, não percebíamos isso. Sabíamos que seria especial para nós, mas não entendíamos como seria o impacto do álbum no resto do mundo”, ele conta.
Deserter’s Songs foi esse momento de celebração, de estourar a bolha, mas o Mercury Rev é também um caso raro de banda que melhora ou se mantém em alto nível ao longo dos anos. Em 2015, eles lançaram o álbum The Light in You e, em dezembro, conta Sean, vem aí o nono disco deles. “Mas, por enquanto, não posso falar muito sobre isso.”
BALACLAVA FEST Audio. Av. Francisco Matarazzo, 694, tel. 3862-8279. Dom. (4/11). Abertura às 16h. R$ 140 / R$ 280
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