PARATY - A promessa de uma lua gigante aumentou as expectativas de quem decidiu ir para Paraty no final de semana. A cidade sedia a 13° edição do festival Mimo depois da primeira temporada do evento fora do Brasil, em julho, no Norte de Portugal. A volta da Mimo ao Brasil misturou nomes conhecidos de seu País a outras descobertas do mundo, a característica mais marcante de sua identidade.
Na primeira noite, sexta-feira, 14, havia passado pelo palco da Praça da Matriz o sensacional grupo vocal, percussivo e de cordas Dakhabrakha. Da Ucrânia, o quarteto fez um show com o qual tem rodado o mundo. Antes dele, na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, havia se apresentado o quarteto da violinista Ana de Oliveira e, depois, o rapper Emicida, com participação do cantor e baterista Wilson das Neves. A chuva insistente prejudicou alguns momentos dos dois últimos shows.
Sábado foi o dia de Elza Soares. A cantora levou a Paraty o show do disco A Mulher do Fim do Mundo, mas não conseguiu fazer uma boa apresentação, muito por causa das limitações na qualidade de som. A voz de Elza, que já parecia sair fraca, vinha abafada e muitas vezes inaudível. A diferença de volume ficava latente quando entrava o coro do grupo que a acompanha. Elza comanda tudo imóvel, sentada em uma espécie de trono. A direção tirou então o foco e sua imagem para ganhar dinâmica na apresentação. Um momento forte foi a participação do cantor Rubi, que entra no palco com uma força cênica absurda. "Este é um grande artista", repetiu Elza três vezes depois da passagem do cantor.
Durante o show, a plateia entoou o já costumeiro "fora Temer", que foi abafado logo na entrada da próxima música. Elza parece acusar sinais de cansaço, mas sua rotina ainda impressiona. Ela chegou a Paraty no mesmo dia do show e tem pela frente uma turnê por países da Europa.
A noite terminou com o cantor, guitarrista e percussionista Cheik Lo, do Senegal. Lo revela em seu espectro sonoro africano uma latinidade que muitos não esperam. Ela vem mesmo da África, depois de grupos locais dos anos 70 e 80 serem influenciados por sonoridades caribenhas de ex escravos de colônias hispânicas que retornavam a seus países africanos. Cheik passa por Cuba, pela República Dominicana ou pela Colômbia sem tirar os pés do Senegal. Seu canto, mesmo quando vem em espanhol, tem os saltos árabes dos africanos. Mas sua música não é sempre um êxtase. Ela aposta no tempo e a deixa soar em movimentos circulares por muitos minutos até ver a pista em transe. As outras atrações do segundo dia foram o violinista Ricardo Herz com Samuca do Acordeon e o cantor de Cabo Verde, Mário Lucio.
Os nomes programados para encerrar a etapa Paraty de 2016, na noite deste domingo, eram o cavaquinista Messias Britto, o duo de jazz étnico e eletrônico CCOMA e, repetindo a dose de Amarante, em Portugal, o Baile do Almeidinha, capitaneado pelo bandolinista Hamilton e Holanda.
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