Juntar amigos e tê-los por perto é uma constante na vida de Milton Nascimento. No encerramento da turnê Clube da Esquina, não será diferente. O público de São Paulo poderá ver neste fim de semana o cantor e compositor ao lado de um elenco estelar, formado por artistas que estiveram presentes no disco de mesmo nome lançado em 1972 - e, no segundo volume, que saiu seis anos depois - e colegas de gerações posteriores influenciados pela mistura de jazz, rock e pop que Milton e seus parceiros promoveram.
Velhos amigos de Milton, Lô Borges, Wagner Tiso e Flávio Venturini vão se cruzar com Criolo, Maria Rita e Maria Gadú nas duas apresentações no Espaço das Américas - a de sexta-feira, 17, já está com ingressos esgotados. Há ainda um show no próximo dia 25 no Rio de Janeiro, sem a presença de Maria Rita, mas com a inclusão de Gal Costa. Na sequência, Milton se torna personagem principal da série Milton e o Clube da Esquina, que estreia no Canal Brasil em 31 de janeiro.
Como já disse Milton em Nos Bailes da Vida, composta por ele e Fernando Brant (1946 - 2015), todo artista tem de ir aonde o povo está. Fiel a essa crença, ele tem apresentado a turnê em grandes espaços e arenas, em vez de teatros com atmosfera intimista. Em dezembro, 15 mil pessoas foram vê-lo em Belo Horizonte, no estádio Mineirão. “Não canso de dizer que essa é a turnê que mais tem me emocionado. Além dos shows no Brasil, o pessoal lá fora recebeu a gente de um jeito que eu nem sei dizer direito. Fiquei muito emocionado em todos os países por onde passamos. E sinceramente eu não esperava reviver esse sentimento de fazer show em estádio, em arenas, e nos grandes festivais abertos ao público. É uma emoção inexplicável”, diz.
As músicas que os convidados devem cantar com Milton ainda não estão definidas, mas o repertório do show é centrado nos dois volumes de Clube da Esquina, com espaço para alguns temas de Minas (1975), de grande sucesso comercial já na época do lançamento.
Os álbuns que Milton lançou nos anos 1970 se tornaram referência da música brasileira mundo afora, e até hoje chamam atenção de artistas estrangeiros. Em 2019, o músico Sean Lennon, filho de John Lennon, disse à revista musical canadense Exclaim! que o ex-beatle tinha discos de artistas brasileiros, e destacou a presença de LPs de Milton na coleção. “Eu realmente ouvi muito Milton Nascimento no ano passado”, afirmou Sean.
Milton conta que nunca pensou muito sobre a importância de um disco tão celebrado como Clube da Esquina. “Eu gosto de ouvir o que as pessoas sentem. E o que me deixa feliz mesmo é ver que muita gente ainda tem interesse pela nossa música. Isso é o que vale a pena pra mim”. Ronaldo Bastos, parceiro de Milton em Cravo e Canela, Cais e outros clássicos que estão no roteiro do show, reforça que a atmosfera do álbum permanece atual. “Muitas ondas e gerações ainda virão e o Clube da Esquina estará de pé, na estrada dos sonhadores. Aquele bando de cabeludos não pensava em fama; o que eles queriam era ser uma lenda. A lenda que Milton Nascimento, com sua trupe, transformou em realidade para sempre.”
As apresentações em São Paulo ocorrem no fim de semana em que se completam, no próximo dia 19, 38 anos da morte de Elis Regina, uma das principais intérpretes da obra dele. De certa forma, Maria Rita estará representando a mãe no palco. “A presença da Maria Rita cantando comigo já é uma coisa que mexe muito com as pessoas. E, pra dizer a verdade, eu nunca pensei na minha vida sem Elis Regina. Ela está comigo todos os dias”, ressalta o cantor e compositor.
Televisão. Idealizada por Fabiano Gullane e tendo Milton e seu filho Augusto K. Nascimento como produtores associados, a série Milton e o Clube da Esquina mostra encontros do artista com Seu Jorge, Gal Costa, Criolo, Maria Gadú, Samuel Rosa, Iza e Ney Matogrosso. A atração ainda tem conversas conduzidas pelo ator Gabriel Leone, fã do Clube da Esquina desde criança. “A gente queria trazer a sensação da gravação do disco, a emoção do estúdio, as pessoas criando juntas. Era importante que o Milton e o Clube da Esquina tocassem e relembrassem como foi gravar cada uma daquelas músicas. Queríamos algo totalmente musical, descontraído e emocionante. Além de documentar, precisava ter entretenimento”, afirma Vitor Mafra, diretor da série, gravada em um estúdio nas montanhas de Nova Lima, ao lado de Belo Horizonte.
O primeiro dos seis episódios tem números musicais entremeados por um bate-papo de Milton com três de seus principais parceiros, Lô Borges, Ronaldo Bastos e Márcio Borges, que conversam sobre as canções escritas por eles nos anos 1970. A banda formada pelo produtor BiD especialmente para a gravação da série manteve nas releituras os timbres dos registros originais.
Interpretada por Milton e Samuel Rosa, Para Lennon e McCartney, por exemplo, recupera as guitarras distorcidas de Milton (1970), disco gravado com o grupo Som Imaginário que marcou a aproximação de Milton com a sonoridade roqueira.
“Milton ficou muito à vontade, pois todos os presentes eram pessoas que ele gosta muito. Me arrisco a dizer que, talvez, o Milton tenha sido retratado de forma como nunca se viu”, diz Mafra.
SERVIÇO: MILTON NASCIMENTO - ESPAÇO DAS AMÉRICAS. R. TAGIPURU, 795. 6ª (17) E SÁB. (18), 22H30 (abertura, 20h30) R$ 120 A R$ 380 .
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