Sueli Costa, cantora, compositora um dos grandes nomes da MPB, morreu neste sábado, 4, aos 79 anos, no Rio de Janeiro. Ela teve canções de sua autoria regravadas ou interpretadas por ícones da música, como Elis Regina Angela Ro Ro, Ney Matogrosso e Simone.
O velório acontece no cemitério São João Batista, no Rio. A causa da morte não foi divulgada.
Com cerca de 50 anos de carreira, a artista deixa um legado na voz, no piano e na literatura musical, com seis álbuns e diversos singles. Em seu Instagram, Maria Bethânia lamentou a morte: “Uma das maiores compositoras brasileiras. Deixará imensa saudade, imensa”.
Dona de uma marcante obra como compositora de canções densas e envolventes, Sueli Costa acabava não sendo tão valorizada pela sua voz, o que explica uma certa raridade em suas apresentações ao vivo ao longo dos tempos. Antes de uma série de cinco apresentações da turnê Louça Fina, na Sala Guiomar Novaes, em 1980, destacava ao Estadão se tratar de um show “extremamente simples e feito mais para mostrar um trabalho do que propriamente uma cantora”. “Isso já é com outro departamento: Elis [Regina], [Maria] Bethânia...”, reconhecia.
Sueli Costa nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada em Juiz de Fora, onde começou a fazer suas primeiras composições, aos 18 anos, por volta de 1961. Aprendeu a tocar violão por conta própria, e depois estudou piano por influência da mãe, que dominava o instrumento e era regente de coral. Foi em casa, observando a família, que a menina aprendeu a treinar o ouvido e se tornou uma ouvinte de diversos gêneros, como a Bossa Nova, popular na época.
Voltou à cidade-natal em 1968. No ano anterior, Nara Leão, então voz do espetáculo Opinião, foi a primeira das muitas estrelas com quem teve contato, cantando sua Por Exemplo Você. Três anos depois, seria a vez de Maria Bethânia incluir Sombra Amiga e Assombrações em seus shows. O primeiro sucesso de maior magnitude veio em parceria com Abel Silva na voz de Simone, em 1977, e de Fagner, pouco depois: Jura Secreta. “Só uma coisa me entristece/O beijo de amor que não roubei/A jura secreta que não fiz/A briga de amor que não causei”, diz a letra.
Nos anos 1970 também conseguiu destaque graças a trilha sonora de novelas. Coração Ateu (com Joãozinho Medeiros), na voz de Bethânia, foi tema de Jerusa (Nívea Maria) e Mundinho (José Wilker) na primeira versão da novela Gabriela (1975), na Globo. Dentro de Mim Mora Um Anjo (parceria com Cacaso), cantada por Fafá de Belém, esteve em Direito de Nascer (1978), da Rede Tupi.
Além dos já citados, há ainda entre os nomes que popularizaram suas letras, Elis Regina (Vinte Anos Blues, O Primeiro Jornal, Altos e Baixos), Gal Gosta (Vida de Artista), Angela Ro Ro (Nenhum Lugar).
Sueli Costa também se acostumou a trabalhar com outros compositores. Boa parte de seus sucessos foram feitos em parceria com nomes como Tite de Lemos, Cacaso, Abel Silva, Paulo César Pinheiro, Victor Martins e Aldir Blanc.
Nos anos 1990, porém, sua carreira enfrentou um momento de baixa, como consta em reportagem do Estadão publicada em 2 de julho de 1999:
“Quem não conhece Sueli Costa está, mesmo, perdendo muito. Mas bastam uns poucos compassos de sua música maravilhosa para que mude de condição e passe à de adorador, e isso é fato comprovado.
Infelizmente, deve haver hoje quem não conheça Sueli Costa. Não que ela componha menos ou menos bem do que na época de maior sucesso, nos anos 70 e 80, quando suas músicas davam título e puxavam as vendas dos discos de Simone, de Elis Regina, de Nana Caymmi e de Gal Costa.
É que, de repente, as músicas de Sueli deixaram de tocar. Ela ousou romper um contrato (privilégio legal) com a administradora de seus direitos autorais (a Sigem - Sistema Globo de Edições Musicais). A questão, coincidência, como dia a Sigem, restrição, censura intelectual, como diz Sueli, está na Justiça. O fato é que ela passou do mais alardeado sucesso ao mais alarmante silêncio.
[...]
O prejuízo financeiro talvez seja resgatável. A referência musical, entretanto, perdeu-se para toda uma geração, ao longo dos dez anos em que a causa corre.”
À época, nomes de peso como Tom Jobim, Chico Buarque, Maria Bethânia e Nana Caymmi vieram a público criticar o boicote à obra de Sueli Costa, atestando a falta que fazia.
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