A história reservou três lugares para Edino Krieger. Escreveu algumas obras emblemáticas da música de concerto brasileira. Como crítico musical, pintou um retrato preciso da vida musical do País. E o gestor cultural pavimentou caminhos para que gerações de compositores brasileiros pudessem encontrar espaço para suas obras.
É essa trajetória tripla que se celebra após a notícia da morte do artista, na terça, 6, aos 94 anos. Ele estava internado havia um mês em uma clínica do Rio de Janeiro por conta de problemas respiratórios. Seu velório foi realizado na quarta-feira, 4, na Sala Cecília Meireles, da qual foi diretor.
Ao longo de sua carreira, ele esteve à frente de instituições como a Funarte, a Academia Brasileira de Música, o Museu da Imagem do Som, a Rádio MEC ou a Rádio Jornal do Brasil. No final dos anos 1960, organizou o Festival de Música da Guanabara, a partir do qual seria criada a Bienal de Música Brasileira Contemporânea. O evento segue vivo até hoje e tem sido uma mostra potente da criação brasileira.
“Edino foi uma figura monumental e incontornável de nossa música, compositor e gestor brilhante”, escreveu o compositor João Guilherme Ripper em suas redes sociais. “Creio que Edino pôde colher em vida os frutos de tudo quanto semeou. Não encontro paralelo, no nosso meio musical, de uma figura tão solidária e tão generosa”, afirmou o compositor Ronaldo Miranda.
Síntese musical
Nascido em Santa Catarina, em 1928, Krieger mudou-se para o Rio de Janeiro aos 14 anos. Foi ali que o aspirante a violinista se transformou em compositor. Foi aluno de Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005) e teve contato com Claudio Santoro, Eunice Katunda, Cesar Guerra-Peixe, entre outros nomes que àquela altura pensavam a música brasileira à luz das vanguardas que vinham da Europa.
Foi um dos principais embates da história da música brasileira: de um lado, os chamados cosmopolitas; de outro, os nacionalistas. As discussões ocupavam então páginas e páginas de jornais, nas quais se refletia sobre os rumos estéticos a serem seguidos. Krieger participou do debate: mesmo já distante do grupo de Koellreutter, no entanto, nunca se colocou contra o antigo mestre. Sua postura era de equilíbrio.
Nos anos 1950, ele seguiu para os Estados Unidos, onde estudou no Festival de Tanglewood e na Juilliard School of Music. De volta ao Brasil, nos anos 1960, começou uma fase da carreira que ele chamaria de síntese, primeiro dedicada ao nacionalismo musical e, em seguida, lançando mão de técnicas das vanguardas do século 20.
Entre suas obras mais importantes, criadas nos anos 1960 e 1970, estão Ludus Symphonicus, Canticum Naturale, Ritmata e as Sonâncias para Violino e Piano. Mais recentemente, escreveu um Concerto para Violoncelo e Orquestra, estreado pelo violoncelista Antonio Meneses, e a Fanfarra Sobre Motivo do Hino Nacional, a Fantasia Concertante e a Passacalha para o Novo Milênio, todas apresentadas pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.
Comentando em uma entrevista o seu trabalho, Krieger definiu sua noção de música contemporânea, que perpassa essas e outras criações. Rótulos, para ele, importavam menos do que a substância musical.
Falar em música contemporânea, depois de um século 20 marcado por correntes estéticas e escolas bem definidas, passou a significar apenas uma noção cronológica. Sem exclusões: uma noção que, como crítico, compositor ou gestor, Edino Krieger sempre defendeu.
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