Morre Juca Chaves, compositor e humorista que ironizou a ditadura militar, aos 84 anos

Músico estava internado no hospital São Rafael, em Salvador, onde faleceu em decorrência de problemas respiratórios; corpo será cremado neste domingo

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Por Redação
Atualização:

O músico e humorista Juca Chaves morreu, na noite de sábado, 26, em Salvador, onde estava internado no hospital São Rafael. Ele estava com 84 anos e faleceu em decorrência de problemas respiratórios. O corpo será cremado neste domingo, no Cemitério Bosque da Paz, na capital baiana.

O cantor e compositor Juca Chaves, em 2013 Foto: Denise Andrade / Estadão

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Jurandyr Czaczkes Chaves, mais conhecido como Juca Chaves, nasceu no Rio de Janeiro em uma família judaica, em 1938, e se consagrou como compositor de modinhas e trovas cujas letras traziam irônicas metáforas especialmente contra a ditadura militar brasileira (1964-1985). Por conta disso, foi chamado por Vinícius de Moraes como Menestrel Maldito.

Formado em música clássica, Juca começou a carreira profissional em 1955, na TV Tupi, em São Paulo, onde logo revelou seu humor ácido, inteligente e com críticas sociais. “O político brasileiro é um prato cheio para piadas”, dizia ele.

Em trecho da música Quantos Somos, por exemplo, ele diz: “Diplomatas, militares, deputados, vereadores / ministros e senadores, imprensa, parlamentares / 5 mil e cento e dez os Barnabés do Brasil / O quanto resta é o quanto presta / Sem Sarney 90 mil.”

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“Eu não fui preso nem cassado (pelos militares) porque recebi informações privilegiadas e saí do Brasil antes de a coisa estourar”, disse ele, em entrevista à revista IstoÉ, em 2008. “Meu pai era grão-mestre da maçonaria e, por intermédio da maçonaria, no finalzinho de 1963, fiquei sabendo que iria estourar a revolução de 1964 e que seria preso pelo Cenimar, da Marinha, por causa da música do porta-aviões.”

A canção Brasil Já Vai à Guerra dizia: “Brasil já vai à guerra, comprou um porta-aviões. Um viva para a Inglaterra de 82 bilhões, ah, mas que ladrões”. “O Jango (João Goulart, então presidente da República) estava numa fase já muito difícil, o Brasil cheio de greves. Era evidente que estava mesmo para estourar. Eu saí quatro meses antes e, quando estourou, estava em Portugal. Lá é que fui preso.”

De fato, exilado em Portugal na década de 1960, em show no Teatro Tivoli, irritou as autoridades locais ao fazer uma piada com o ditador António de Oliveira Salazar.

“Fui preso por causa de uma piada que soltei sobre o primeiro-ministro e também por causa de uma frase que cantei. Era assim: ‘Me levaram para conhecer a Avenida da Liberdade/ eu disse quando é que inaugura?’”, lembrou ainda, na entrevista. Com isso, foi obrigado a se transferir para a Itália.

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Dentre suas canções mais conhecidas estão Caixinha, Obrigado, A Cúmplice, Menina, Que Saudade, Por Quem Sonha Ana Maria (interpretada no filme Marido de Mulher Boa de 1960) e Presidente Bossa Nova, essa em homenagem a Juscelino Kubitschek, que presidiu o País entre 1956 e 1961. O escritor Jorge Amado dizia que Juca Chaves tinha “a voz mais livre do Brasil”.

Juca também era um notório torcedor do São Paulo Futebol Clube e, em 2006, lançou-se candidato a senador na Bahia pelo PSDC, ficando em 4º lugar, com 19.603 votos. Fez campanha em formato de poesia, o que os distinguia dos outros candidatos: “Desta vez baiana gente, baiano de toda cor, o seu voto inteligente com justiça com amor, não será voto comprado, se tivermos no Senado, Juca Chaves senador”, brincava.

Nos últimos anos, declarou-se defensor da Operação Lava-Jato. Desde 1975, Juca Chaves era casado com Yara Chaves. Ele deixa duas filhas, Marina Morena e Maria Clara.

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