O músico e humorista Juca Chaves morreu, na noite de sábado, 26, em Salvador, onde estava internado no hospital São Rafael. Ele estava com 84 anos e faleceu em decorrência de problemas respiratórios. O corpo será cremado neste domingo, no Cemitério Bosque da Paz, na capital baiana.
Jurandyr Czaczkes Chaves, mais conhecido como Juca Chaves, nasceu no Rio de Janeiro em uma família judaica, em 1938, e se consagrou como compositor de modinhas e trovas cujas letras traziam irônicas metáforas especialmente contra a ditadura militar brasileira (1964-1985). Por conta disso, foi chamado por Vinícius de Moraes como Menestrel Maldito.
Formado em música clássica, Juca começou a carreira profissional em 1955, na TV Tupi, em São Paulo, onde logo revelou seu humor ácido, inteligente e com críticas sociais. “O político brasileiro é um prato cheio para piadas”, dizia ele.
Em trecho da música Quantos Somos, por exemplo, ele diz: “Diplomatas, militares, deputados, vereadores / ministros e senadores, imprensa, parlamentares / 5 mil e cento e dez os Barnabés do Brasil / O quanto resta é o quanto presta / Sem Sarney 90 mil.”
“Eu não fui preso nem cassado (pelos militares) porque recebi informações privilegiadas e saí do Brasil antes de a coisa estourar”, disse ele, em entrevista à revista IstoÉ, em 2008. “Meu pai era grão-mestre da maçonaria e, por intermédio da maçonaria, no finalzinho de 1963, fiquei sabendo que iria estourar a revolução de 1964 e que seria preso pelo Cenimar, da Marinha, por causa da música do porta-aviões.”
A canção Brasil Já Vai à Guerra dizia: “Brasil já vai à guerra, comprou um porta-aviões. Um viva para a Inglaterra de 82 bilhões, ah, mas que ladrões”. “O Jango (João Goulart, então presidente da República) estava numa fase já muito difícil, o Brasil cheio de greves. Era evidente que estava mesmo para estourar. Eu saí quatro meses antes e, quando estourou, estava em Portugal. Lá é que fui preso.”
De fato, exilado em Portugal na década de 1960, em show no Teatro Tivoli, irritou as autoridades locais ao fazer uma piada com o ditador António de Oliveira Salazar.
“Fui preso por causa de uma piada que soltei sobre o primeiro-ministro e também por causa de uma frase que cantei. Era assim: ‘Me levaram para conhecer a Avenida da Liberdade/ eu disse quando é que inaugura?’”, lembrou ainda, na entrevista. Com isso, foi obrigado a se transferir para a Itália.
Dentre suas canções mais conhecidas estão Caixinha, Obrigado, A Cúmplice, Menina, Que Saudade, Por Quem Sonha Ana Maria (interpretada no filme Marido de Mulher Boa de 1960) e Presidente Bossa Nova, essa em homenagem a Juscelino Kubitschek, que presidiu o País entre 1956 e 1961. O escritor Jorge Amado dizia que Juca Chaves tinha “a voz mais livre do Brasil”.
Juca também era um notório torcedor do São Paulo Futebol Clube e, em 2006, lançou-se candidato a senador na Bahia pelo PSDC, ficando em 4º lugar, com 19.603 votos. Fez campanha em formato de poesia, o que os distinguia dos outros candidatos: “Desta vez baiana gente, baiano de toda cor, o seu voto inteligente com justiça com amor, não será voto comprado, se tivermos no Senado, Juca Chaves senador”, brincava.
Nos últimos anos, declarou-se defensor da Operação Lava-Jato. Desde 1975, Juca Chaves era casado com Yara Chaves. Ele deixa duas filhas, Marina Morena e Maria Clara.
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