Morre o japonês Ryuichi Sakamoto, compositor da trilha de ‘O Último Imperador’ e fã de Tom Jobim

Pioneiro da música eletrônica, ele tinha 71 anos e foi diagnosticado com um câncer na garganta em 2014

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Atualização:

O compositor japonês Ryuichi Sakamoto, pioneiro da música eletrônica e autor de várias trilhas sonoras de filmes, entre as quais a de O Último Imperador, morreu na sexta-feira, 28, vítima de câncer, aos 71 anos. O anúncio foi feito neste domingo, 2.

Em 2014, o artista anunciou que havia sido diagnosticado com câncer na garganta. Ele se afastou do trabalho para fazer o tratamento, mas depois voltou a ser apresentar – no Brasil, inclusive.

Ryuichi Sakamoto, em 2000, durante apresentação em Roma Foto: Reuters

Vida e obra

Sakamoto nasceu em 1952, em Tóquio, e cresceu imerso na arte – seu pai era editor de alguns dos mais importantes romancistas japoneses.

Ele despontou no final dos anos 1970 como tecladista do grupo de música eletrônica Yellow Magic Orchestra. Suas inovações serviram como base para vários gêneros da música eletrônica contemporânea como o synth-pop, o house e o hip-hop.

O conhecimento por parte do grande público veio por sua aproximação com o cinema. O compositor ficou famoso pela trilha sonora feita para o filme Merry Christmas, Mr. Lawrence (1983), no qual também atuou ao lado de David Bowie. A consagração veio em 1988, quando ele ganhou o Oscar pela trilha sonora de O Último Imperador (1987), de Bernardo Bertolucci.

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Sakamoto também trabalhou com Brian de Palma, em Olhos de Serpente (1998) e Femme Fatale (2002), e com Pedro Almodóvar – sua trilha para De Salto Alto lhe rendeu, em 1992, um Kikito no Festival de Cinema de Gramado. Mais recentemente, ele trabalhou com Alejandro Iñárritu e compôs a trilha de O Regresso (2015).

O artista colaborou ainda com músicos como Iggy Pop, Cesaria Evora, Caetano Veloso e Youssou N’Dour.

No Brasil

Sakamoto fez sua estreia em palco brasileiro em 2001. No ano seguinte, após ter transitado pelo tecnopop, música erudita e world music, ele lotou o Royal Albert Hall para apresentar um CD que gravou, com Jaques Morelenbaum e Paula Morelenbaum, na casa de Tom Jobim (1927-1994).

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Em entrevista à BBC na época, ele contou o que o fascinou na música do brasileiro. “É uma música muito controlada. É calma, tem piano e a paixão está toda escondida. É como um oceano, quase sem ondas, mas com muita coisa acontecendo debaixo d´água. É como o canto de João Gilberto, você pode ouvir a paixão, mas ela está escondida dentro da música.”

Nesta mesma entrevista, ele revelou ainda que seu primeiro contato com a música de Tom Jobim foi quando ele tinha entre 11 e 12 anos e estava tendo lições de piano. “A música de Jobim era diferente de tudo que eu conhecia, como Bach, Beethoven e até os Beatles. Foi também nessa época que conheci Debussy e Ravel. Desde então eles dois e Jobim são parte de uma mesma família para mim.”

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Ryuichi Sakamoto voltaria ao Brasil em outras ocasiões. Em 2012, ele se apresentou no Festival Sónar, em São Paulo, e em 2017 veio para a inauguração da Japan House.

A música esteve presente na vida de Sakamoto até o fim, disse a família no comunicado sobre sua morte. Recentemente, em 2020, no início da pandemia de covid-19, ele fez, online, um belo “concerto para os isolados”, disponível no YouTube (Ouça aqui).

Em 2012, Ryuichi Sakamoto se apresentou com Alva Noto no festival Sónar, no Anhembi Foto: JB Neto/Estadão

Além da música, o artista se engajou em causas ambientais e fez parte do movimento antinuclear japonês, especialmente após o acidente na usina de Fukushima, em 2011. Ele chegou a organizar um espetáculo com apresentações do YMO e do grupo alemão Kraftwerk, para protestar contra o uso de energia nuclear. Ele também fundou a ONG More Trees. / COM AFP

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