Tina Turner, a rainha do rock n’ roll, morre aos 83 anos

Cantora americana, dona de sucessos como ‘The Best’ e estrela de ‘Mad Max’, morreu após uma longa doença

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

A cantora americana Tina Turner morreu aos 83 anos nesta quarta-feira, 24, na Suíça, onde morava. De acordo com o agente da artista, ela morreu “pacificamente após uma longa doença”. Nos últimos anos, Tina enfrentou um câncer.

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Conhecida como a rainha do rock’n roll, Tina ganhou oito prêmios Grammy - foram 25 indicações ao longo da carreira - e vendeu mais de 100 milhões de discos em todo o mundo.

No perfil da cantora do Instagram, sua equipe fez uma última homenagem ao anunciar a morte. “É com grande tristeza que anunciamos a morte de Tina Turner. Com sua música e sua paixão sem limites pela vida, ela encantou milhões de fãs ao redor do mundo e inspirou as estrelas de amanhã. Hoje nos despedimos de uma querida amiga que nos deixa sua maior obra: sua música. Toda a nossa sincera compaixão vai para a família dela. Tina, sentiremos muito sua falta”, diz o post.

A vida de Tina Turner

Tina, nascida Anna Mae Bullock, era uma dos maiores nomes do rock mundial. Ainda na infância, se encantou com a música ao assistir o coral da igreja Batista da qual a família frequentava. Aos 17 anos, começou a cantar nos bares de St. Louis. Um ano depois deu a luz ao seu primeiro filho, que criou sozinha, após ser abonada pelo primeiro marido.

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Nesse mesmo ano de 1958, lançou sua primeira gravação profissional, o boogie-woogie Box Top, ainda assinando com o nome de Little Ann. Na época, ela era apenas a vocalista da banda do músico Ike Turner, com quem Tina passaria a se relacionar afetivamente. Foi ela que deu à cantora o nome artístico de Tina Turner.

Em 1966, Tina, em mais uma tentativa de emplacar em um mercado que, além de machista, não abria espaço para cantores negros, lançou o álbum River Deep – Mountain High, agora em dupla com Ike. O disco fracassou nos Estados Unidos, mas fez sucesso na Europa.

O músico Mick Jagger, ao conhecer o álbum, se encantou pela voz de Tina e a chamou para fazer a abertura de shows da banda Rolling Stones em Londres.

Tina Turner e Mick Jagger, em foto que pode ser vista na exposição que presta homenagem á cantora no MIS, em São Paulo Foto: Bob Gruen/MIS

Em 1968, com o casamento com Ike em crise, Tina tentou o suicídio ingerindo comprimidos para dormir.

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“Para começar, havia três mulheres em casa naquele dia e Ike estava fazendo sexo com todas. Tudo estava desmoronando: meu status, minha confiança, meu mundo. Uma noite, antes de um show, eu não aguentava mais e engoli 50 pílulas pílulas para dormir. Eu sabia que elas iam demorar para fazer efeito, então eu calculei que conseguiria fazer o número de abertura e desse jeito Ike ia conseguir o dinheiro da performance. Eu estava tão bem treinada que até meu suicídio deveria ser conveniente para ele”, escreveu em seu livro de memórias Tina Turner - Uma História de Amor, lançado em 2019.

Em 1971, Tina e Ike lançaram uma versão da canção Proud Mary, gravada em 1969 pela primeira vez pela banda Creedence Clearwater Revival. A gravação foi um sucesso e chegou a vender 1 milhão de cópias. A dupla ganhou o Grammy de Melhor Gravação do ano.

Convertida ao budismo, e com a força de sua voz personalíssima, cheia de graves, Tina se lançou em carreira solo ao lançar, ao 1974, o álbum Tina Turns the Country On!, com covers para clássicos do country e do folk, gêneros que ela costumava ouvir na adolescência e que fizeram parte de sua formação musical.

Entretanto, Tina, que desde a dupla com Ike flertava com o rock, acentuava cada vez mais a mistura do gênero com o R&B, soul e disco music, em álbuns como Acid Queen (1975, ainda com influência de Ike), Rough (1978) e Love Explosion (1979).

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Em janeiro de 1988, Tina Turner lotou o Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro Foto: Antônio Batalha/Estadão

Casamento abusivo

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Nessa mesma época, a cantora deu fim ao casamento com Ike. Apesar da parceria de sucesso, Tina foi uma das primeiras personalidades a declarar que viveu um casamento abusivo, como vítima de violência física e psicológica.

Em um dos episódios, segundo Tina, Ike teria quebrado sua mandíbula. Em outra ocasião, jogou uma xícara de café quente no rosto da cantora. O música ainda a obrigava cantar, mesmo que ela não estivesse bem.

“Ele começou a usar cocaína, porque alguém havia dito que isso ia ajudar no sexo. Para mim, entretanto, transar com Ike era hostil, e um tipo de estupro, principalmente quando começava ou terminava comigo sendo espancada. (...) Ele usava meu nariz como saco de pancadas tantas vezes que eu conseguia sentir o sangue descendo a minha garganta quando eu cantava. Ele quebrou meu maxilar e eu não lembrava como era não ter um olho roxo”, escreveu Tina em seu livro de memórias. Ike morreu em 2007, aos 76 anos, vítima de overdose de cocaína.

Tina falou sobre essa e outras questões que enfrentou ao longo de sua história no documentário Tina, disponível na HBO Max: “Não foi uma vida fácil”, ela resumiu.

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Tina Turner durante apresentação no Grammy, em 2008 Foto: Mike Blake/Reuters

Tina Turner, ícone pop e estrela de cinema

Nos anos 1980, Tina, já uma estrela, ampliou ainda mais seu público. Unindo música, figurino (seus vestidos com franjas), estética (ela nunca se apresentava sem usar peruca) e dança, Tina, já depois dos 40 anos, se tornou um ícone pop com o álbum Private Dancer, de 1984.

A consagração dessa imagem pop veio em 1985 quando Tina, que já havia feito participações em filmes, foi convidada para estrelar o longa Mad Max 3 - Além da Cúpula do Trovão, ao lado do astro do momento, Mel Gibson.

As duas canções interpretadas por ela no filme, We Don’t Need Another Hero e One Of The Living estouraram nas paradas de sucesso e a impulsionaram a lançar seu quarto álbum solo, Break Every Rule, que trouxe o hit Typical Male.

Mulheres na música

Anos mais tarde, em sua biografia, Tina falou sobre como foi importante para abrir o mercado da música para as mulheres - e também para as gerações posteriores que se firmaram na música pop.

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“Na época, não havia mulheres que cantavam e dançavam como eu, mulheres que conseguiam ser sensual sem sexualizar a situação. Eu entrava no palco de salto alto, minissaia, dançava e ria”, escreveu no livro Minha História de Amor (2019),

Tina ainda citou a cantora Beyoncé, uma artista negra como ela que venceu no mercado musical, décadas depois. “Beyoncé tem o mesmo tipo de energia hoje, mas eu era a única assim.”

Tina e Beyoncé se encontraram no palco em 2008, na premiação do Grammy. Juntas, elas cantaram a canção Proud Mary, um dos primeiros sucessos de Tina. Beyoncé ficou visivelmente emocionado com o encontro.

Ao longo da carreira, Tina ainda cantou com nomes como Mick Jagger, seu admirador de primeira hora, David Bowie, Elton John e Cher. Em 1993, homenageou o piloto brasileiro Ayrton Senna na Austrália. Na ocasição, após vencer a etapa local do campeonato de Fórmula 1, Senna subiu ao palco e ouviu da cantora: “Estou emocionada. Sou fã dele”. Ao lado da então namorada Adriane Galisteu, Senna viu Tina cantar para ele a canção Simply The Best.

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Sucesso no Brasil

No Brasil, Tina escreveu um dos capítulos mais importantes de sua carreira. Em janeiro de 1988, a cantora se apresentou no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, para um público de mais de 180 mil pessoas. Segundo o Guinness World Records, foi a maior apresentação de cantora solo para público pagante na época.

Além do grande público, Tina foi homenageada pela escola de samba carioca Beija Flor. O cantor Neguinho da Beija Flor, um dos símbolos da agremiação, gritou “Olha a Tina Turner aí gente”, assim que a cantora entrou em cima de um carro alegórico da escola, acompanhada por passistas.

Aposentadoria dos palcos

Nos anos 1990, Tina lançou seus último dois discos de carreira em estúdio, Wildest Dreams (1996) e Twenty Four Seven (1999), ambos com grande vendagens.

Na década seguinte, Tina começou a diminuir o número de shows e de álbuns. Em 2008, saiu em turnê com o show Tina!: 50th Anniversary Tour, que rendeu um álbum ao vivo no ano seguinte.

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Em 2009, Tina, aos 69 anos, anunciou sua despedida dos palcos com um show na Arena Sheffield, na Inglaterra.

Em 2013, foi a pessoa mais velha a pousar na capa da revista Vogue, fruto de sua influência como artista e personalidade feminina. No mesmo ano, anunciou seu casamento com Erwin Bach, depois de 27 anos de namoro. A cerimônia ocorreu na Suíça, para onde o casal se mudou e Tina passou seus últimos anos de vida, de maneira reclusa.

Em sua biografia, Tina relata que começou a sentir sua saúde ficar cada vez mais frágil a a partir do derrame cerebral que sofreu ainda em 2013.

Três anos depois, a cantora enfrentou um câncer de intestino e, no ano seguinte, problemas renais que a levaram a fazer sessões de diálise. Por fim, teve que fazer um transplante. O doador foi seu marido, Bach.

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Em dezembro de 2022, Tina perdeu um de seus quatro filhos com Ike, Ronnie Turner, de 62 anos, vítima de câncer. Na época, a cantora publicou em seu perfil no Instagram: “Ronnie, você deixou o mundo cedo demais. Sofrendo, fecho meus olhos e penso em você, meu filho amado”. Antes, em 2018, Tina perdeu outro filho, Craig, de 59 anos. A causa da morte foi suicídio.

Uma exposição em homenagem à cantora, Tina Turner: Uma Viagem para o Futuro, está em cartaz no MIS-SP.

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