Nando Reis canta seus tormentos e perturbações de forma leve em novo disco

'Jardim Pomar', novo álbum do cantor e compositor, traz ao todo 13 faixas

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Poucos são os compositores capazes de escrever sobre temas complexos e reflexivos de forma tão leve e sucinta. Nando Reis lidera esse quesito com maestria. Ao receber a reportagem do Estado em sua casa, na zona oeste de São Paulo, para falar sobre Jardim-Pomar, seu novo disco de inéditas depois de quatro anos, o músico mostra serenidade para escolher cada palavra. A tranquilidade de espírito fica evidente quando uma tempestade ameaça desabar repentinamente numa abafada tarde de segunda-feira e chega a interromper a entrevista por alguns minutos. “Podemos fazer as fotos agora, o que acha?”, diz, levantando-se calmamente de uma das cadeiras de palha do extenso quintal. 

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Algumas músicas de Jardim-Pomar, o 14.º disco da carreira solo de Nando Reis, são verdadeiros tormentos e questionamentos peculiares. Um inferno astral camuflado de baladas românticas e melodias suaves. “Fazer música é uma forma de organizar o meu pensamento, de tentar formulá-lo. Não tem explicação, obviamente. Compor é botar em palavras um sentimento intenso e doloroso. Por isso, eu escrevo muito sobre coisas que aconteceram comigo. Falo sobre a morte, o tempo e a existência de Deus. Isso não significa que eu esteja deprimido. Me sinto absolutamente feliz, embora muitas dessas músicas tenham sido escritas em momentos de profunda tristeza e dificuldade”, revela.

Das 13 composições de Jardim-Pomar, 12 são inéditas. A exceção é Concórdia, canção composta por Nando Reis em meados da década de 1990 e gravada por Elza Soares em 2006. O novo trabalho mostra um compositor mais centrado e de letras consistentes. Isso, claro, não anula sua essência tradicionalmente pop. Só Posso Dizer, primeiro single do CD, tocado exaustivamente nas rádios de todo o País, resume bem a carreira de Nando Reis. A música, que acabou ganhando duas versões (uma gravada em Seattle, nos EUA, e outra no Brasil), já nasceu com status de hit. Os acordes fáceis, colocados numa sequência não tão lógica, somados aos versos de magnitude simplória, a transformam na verdadeira pérola de Jardim-Pomar.

Poético. Novo álbum fala sobre amor, mas faz reflexões sobre Deus, a vida, a morte e o tempo Foto: Alex Silva/Estadão

“Quando compus essa música, há dois ou três anos, eu pensei: poxa, essa é bonita. Tenho um bom single. Dá aquele estalo. O refrão dela é claro e emocionante. Escrevi a letra num momento de grande tristeza. É uma música simples em termos de harmonia. Lembro que o guitarrista que a gravou, lá em Seattle, teve uma dificuldade enorme de memorização das notas. Eu não entendia o porquê. Depois o Barrett Martins (produtor norte-americano) falou que ninguém hoje em dia fazia uma música como aquela porque ela era simples. Tinha começo, meio e fim. Após gravá-la nos Estados Unidos, eu a achei lenta. Não queria uma baladona de rádio. Não era para soar daquela forma. Minha intenção era compor uma versão mais pop e acelerada. Foi o que fiz. Por isso duas versões.”

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