No sobe e desce dos moinhos sentimentais, quem ganha novamente é a música brasileira. Nesta linha, depois de Otto, com Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009), e de tantos outros exemplos na história do cancioneiro nacional, agora é a vez de Junio Barreto se nutrir de insucessos pessoais para emergir com um dos melhores discos deste ano, Setembro.O título do álbum, o mesmo que batiza a segunda faixa do novo trabalho - lançado no site Participações e repertório. Observar na ficha técnica os nomes que atuam no novo disco de Junio Barreto soa como covardia, no melhor sentido possível. Logo de cara, os trabalhos são abertos com a jangadeira Serenada Solidão, parceria com Gustavo Ruiz, que toca a guitarra, acompanhado de Vitor Araújo (piano), Fabio Sameschima (baixo) e Pupillo (bateria), que aparecem separados em diversas faixas de Setembro, como os verdadeiros achados poéticos, melódicos e instrumentais de Jardim Imperial, Rios de Passar e Noturna. Serenda Solidão e alguns outros temas - pelos timbres e, principalmente pelo uso de rhodes e teclados - lembram a elegância dos sambas interpretados por Bebeto Castilho, do Tamba Trio, e Miltinho no passado.Pupillo aparece tocando em nove das dez faixas do álbum, menos em Passione, parceria de Junio e Jorge du Peixe, gravada com os amigos do Mombojó no instrumental. Além de Pupillo e Jorge, a Nação Zumbi marca presença também com Dengue no tema que batiza do disco e também em Passione. O álbum ainda conta com os coros etéreos de Céu, Luisa Maita e Marina de la Riva em Jardim Imperial, Rios de Passar e Fineza.Entre os diversos craques de Setembro, destaque também para o naipe de trombones arranjado por João Carlos Araújo em Rios de Passar e na dançante e instrumental Vamos Abraçar o Sol. "É uma honra poder contar com todo mundo que participou do disco, tudo na camaradagem. Já imaginou quanto custaria para eu ter o Seu Jorge (que toca violão em Fineza) no meu disco?", comenta Junio.As letras do cantor e compositor nascido em Caruaru - que foi moleque para o Recife e mora em São Paulo - são um capítulo à parte. Versos que em muitas vezes já surgem com melodia na cabeça deste autodidata musical de 47 anos. Em relação à linguagem, há um rebuscamento, mas também o simples sem ser simplório. Não é à toa que Junio já foi comparado a Guimarães Rosa e Manoel de Barros. Sobre o canto, dizem que seu timbre tem um registro entre Chico Buarque e Luiz Melodia. Deixemos de lado todas as comparações. Junio Barreto é maior do que todas elas, traçando seu próprio caminho. Agora é esperar que não demore mais sete anos para presentear seus ouvintes.SHOWS 13/10Sesc Vila MarianaRua Pelotas, 141. 21 h. De R$ 6 a R$ 24.14/10Circo Voador (Rio) - com OttoRua dos Arcos, s/nº, Lapa. 22 h15/10Sesc SorocabaAvenida Washington Luiz, 446, 19h30. Grátis
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