O diretor Luiz Fernando Carvalho vai assinar uma nova produção de A Ópera dos Três Vinténs, obra dos anos 1920 da dupla Kurt Weill e Bertolt Brecht, na temporada 2019 do Teatro Municipal de São Paulo. A montagem terá 30 récitas a partir de maio e será fruto de um trabalho de pesquisa que vai unir alunos das escolas ligadas ao teatro, assim como artistas que já trabalharam com Carvalho em outras produções.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/73LOYFYKYNOH5IQSVGXKC4EK2M.jpg?quality=80&auth=4622ad949f5ef6ca137220e390ef0679ee1a8dd0b4b8616654b7244f45cf66e1&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/73LOYFYKYNOH5IQSVGXKC4EK2M.jpg?quality=80&auth=4622ad949f5ef6ca137220e390ef0679ee1a8dd0b4b8616654b7244f45cf66e1&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/73LOYFYKYNOH5IQSVGXKC4EK2M.jpg?quality=80&auth=4622ad949f5ef6ca137220e390ef0679ee1a8dd0b4b8616654b7244f45cf66e1&width=1200 1322w)
“Quando fiz minissérie, disseram que ela era operística. Quando faço teatro, me chamam de barroco”, brinca o diretor, responsável por celebradas criações para a televisão e o cinema, como Capitu, Lavoura Arcaica e Suburbia, em entrevista ao Estado. “Na verdade, a minha trajetória está pautada por cruzamentos entre artes. Essa relação entre música, teatro e literatura para mim é estruturadora”, conta também.
No projeto, Carvalho vai trabalhar com o dramaturgo Luis Alberto de Abreu e com o maestro e compositor Tim Rescala. A Secretaria Municipal de Cultura ainda não informou o valor do orçamento da produção.
A Ópera dos Três Vinténs, estreada em 1933, simbolizou uma ruptura na compreensão da ópera como gênero, da mesma forma como a história – baseada em The Beggar’s Opera, texto inglês do século 18 – carrega enorme crítica social. “É um texto com a força da atualidade. Como sociedade, precisamos desse espelho ou, como dizia Godard, é preciso sempre repetir para que não nos esqueçamos. As pessoas vão vestir a carapuça dos personagens, a partir de um humor sutil como uma navalha. Será fácil identificar quem representa o poder, quem representa o corrupto, o empregado, o empregador. O painel da desigualdade que os autores pintam é facilmente reconhecível para a sociedade de hoje”, comenta ainda.
Essa relação com o nosso tempo, segundo Carvalho, estará presente de diversas formas. “Minha conversa com o Luis Alberto de Abreu foi no sentido de aproximar a narrativa do público de hoje, jovem, paulistano. Queremos deixar o Rio Tâmisa e vir para o Rio Tietê. Para tanto, ele está mexendo na tradução, dando maior coloquialidade e atualizando termos. Pretendemos também dar uma maior importância ao narrador, essa figura que quebra a quarta parede e fala diretamente com a plateia. O objetivo é aliar estética e ética para produzir consciência, refletir sobre que país é esse em que vivemos.”
Do ponto de vista musical, Tim Rescala, diz o diretor, vai reimaginar elementos da música de Kurt Weill, trabalhando com texturas e com novos instrumentos. “São Paulo tem uma orquestra de refugiados que carrega uma sonoridade específica, por exemplo, uma sonoridade que com certeza interessaria hoje ao Weill”, afirma Carvalho.
Apesar de a ópera estar presente nas trilhas de diversas produções do diretor, essa será a primeira vez que ele dirigirá uma peça do gênero – há alguns anos, um convite para uma Carmen, de Bizet, em Belo Horizonte, não se concretizou. “Tudo o que faço é consequência de um longo processo de pesquisa, de discussão, experimentação e naquela época não havia condições para isso. Desta vez, no entanto, o Teatro Municipal compreendeu essa necessidade”, acrescenta o diretor.