Os Paralamas falam sobre os 40 anos da banda: ‘Somos iguais ao Zagallo. Vão ter que nos aturar’

Em entrevista ao ‘Estadão’, grupo fala sobre o show que fará no Allianz Parque em maio de 2025 e do cenário do rock brasileiro atual e reafirma , com bom humor, o prazer de ainda estar na ativa depois de quatro décadas. ‘É um sonho mesmo’, diz Herbert Vianna

PUBLICIDADE

Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:
Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
Entrevista comOs Paralamas do SucessoBanda

Os Paralamas do Sucesso vão tocar na capital. O clichê irresistível cai bem para anunciar que o trio se apresenta em 30 maio de 2025 no Allianz Parque, em São Paulo. O grupo formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone estende as comemorações dos 40 anos de carreira, completados em 2023, para se render ao formato de show em arenas, uma espécie de nova geração do velho e (nem sempre) bom show em estádio que tem seduzido cada vez mais artistas nacionais - e o público também.

Em tese, o show será, em boa parte, parecido com a turnê Clássicos, com a qual a banda já está na estrada. A realização é da 30e, que em 2024 colocou no estádio Ney Matogrosso, Roberto Carlos, Jota Quest, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Neste ano, junto com Os Paralamas, também será a vez de Gilberto Gil experimentar esse formato.

Em conversa com o Estadão, por chamada de vídeo, Herbert (voz e guitarra), Bi (baixo) e Barone (bateria) falam sobre o que preparam para o show que terá mais de 30 músicas no setlist - Alagados, A Novidade, Vital e sua Moto, Meu Erro e Uma Brasileira são algumas que já estão certas. “Nosso retrospecto é de se sair bem em grandes eventos. Falam até hoje do nosso show no primeiro Rock in Rio - e tantos outros que fizemos”, afirma Barone. O baterista divide com Herbert o posto de mais falante entre os três Paralamas.

Publicidade

Herbert faz questão de mostrar como anda ligado no mundo atual, sobretudo em política. Fala de Donald Trump e dos imigrantes latinos. O músico diz que todos esses temas, sem dirigismo criativo, podem aparecer em um futuro novo álbum de inéditas da banda, com previsão para 2025 - o último da banda a trazer músicas novas foi Sinais do Sim, de 2017.

No festival Coala [em São Paulo] de 2024, vocês mostraram muita vitalidade. E uma comunicação forte com o público. O que hoje impulsiona os Paralamas a subir no palco?

Barone - É o que nos motivava desde o início: levar um som. Entramos nisso para tocar. Queríamos muito - é aquele velho clichê - um espaço para tocar.

Herbert - É um sonho mesmo, você pegar um instrumento que você gosta, que aprendeu a tocar em casa, e exibir isso para uma, duas pessoas ou, como atualmente, para tanta gente que tem uma sintonia tão profunda com o que temos falado e tratado ao longo dos anos.

Vocês estão falando com aquele espírito de jovens sonhadores que querem viver de música. No entanto, como conseguir manter esse sonho, com as adversidades do mercado, da passagem do tempo etc?

Herbert- Tem muito de você não surfar na onda do sucesso, não alterar sua vida, contatos e fontes de inspiração. É continuar a trabalhar e a cair na real quando você volta para casa. Lidar com seus filhos, com o dia a dia da casa, com as coisas de sempre. Ouvir as bandas que são referências para você, abrir portas para algumas novidades...

Publicidade

Bi - É o pé no chão.

Herbert - Só pés não! Pés e rodas no chão!

Então, ainda há um pouco do gostinho e da inocência dos ensaios na casa da Vovó Ondina [casa da avó de Bi, no Rio de Janeiro, onde o grupo ensaiava no começo de carreira]?

Bi - Quando tocamos no palco, com certeza. Percebemos como funcionamos bem.

Herbert - Todas as vezes que trabalharmos para darmos formato e levada para uma nova canção, sentimos que somos aqueles três caras do começo, que estão buscando algo que cause arrepios e alegria em nós mesmos. E isso, possivelmente, vai causar algo em quem tem essa sintonia com a banda.

Publicidade

Os Paralamas do Sucesso vão tocar uma seleção de seus principais sucessos Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Os shows em arena atraem um público muito diverso, pela própria natureza deles, pela divulgação que se faz. O que vocês pretendem mostrar no Allianz?

Herbert - O que sempre fazemos é mostrar coisas que são fundamentais na trajetória da banda - e muitas delas são muito populares. Também tentamos ter um foco no nosso estímulo, na nossa vontade em demonstrar o que tentamos fazer ao longo do tempo.

Barone - Nosso retrospecto é de se sair bem em grandes eventos. Falam até hoje do nosso show no primeiro Rock in Rio - e tantos que fizemos. Em La Plata, na Argentina, fizemos uma apresentação para 250 mil pessoas em um festival, às três da manhã. Ou seja, eles queriam ver os Paralamas. Esse do Allianz será nós na parada [no sentido de não ser um festival]. Estamos super excitados. Vamos ver no que vai dar. Da nossa parte, vamos fazer o que temos feito nos últimos 40 anos. O grande barato é o congraçamento.

Herbert - Na Argentina, também lotamos duas sessões na Bombonera [estádio de futebol do Boca Juniors].

Na Argentina somos considerados o melhor grupo argentino que também canta em perfeito português

Herbert Vianna


A propósito: como anda a relação dos Paralamas com a Argentina?

Barone - Sempre legal. O negócio é o show business. Vamos nos apresentar em Córdoba em janeiro e, depois, vamos para o Uruguai.

Publicidade

Herbert - Na Argentina somos considerados o melhor grupo argentino que também canta em perfeito português.

Vocês citaram o mercado de música e ele, no Brasil, anda complicado, atirando para vários lados. Embora vocês sejam reconhecidos como uma das principais bandas de rock do País, há alguma mágoa sobre como esse mercado olha para vocês atualmente?

Herbert - Eu diria outra coisa, reforçando esse aspecto [da pergunta anterior], que é a quantidade de imigrantes latinos tentando a vida na América do Norte. Fizemos, recentemente, uma excursão para os Estados Unidos, tocando em lugares pequenos, basicamente para latinos extraviados, que estão ali tentando algo. Foram 11 cidades, com um resposta maravilhosa da plateia. É simbólico que essas pessoas, que têm o sonho de se fixar em um país que elas consideram de primeiro mundo, precisem também do alimento cultural e físico da sua popular origem.

Barone - Não temos mágoa nenhuma. Estamos felizes, fazemos muitos shows. Temos, inclusive, a perspectiva de fazer um novo álbum. Trabalhamos muito, teve uma pandemia no meio, e, talvez, perdemos o time de parar para ouvir as canções do Herbert, levar um novo som. Mas está em nossa pauta fazer um álbum inédito em 2025. Mas está tudo bem. Vivemos em um mundo ideal, em relação ao nosso trabalho. Temos reproduções para caramba nas plataformas digitais

O sonho não acabou, então?

Barone - (risos). Neste momento celebratório, o Herbert fala: “Os Paralamas são igual ao Zagallo”. Vão ter que nos aturar por pelo menos mais 40 (anos).

Publicidade

Recentemente, saiu um livro do jornalista Juarez Fonseca [Aquarela Brasileira. L&PM Editores) com entrevistas dos anos 1980. Na época, Herbert disse a ele, sobre o rock brasileiro: “se tirar os ‘ursinhos blau-blau’ [hit do grupo Absyntho em 1983], vai ver que o miolo, a locomotiva da coisa, é consistente e forte”. Queria, agora, uma reavaliação sobre o rock brasileiro. Como ele está?

Barone - Vale tudo. Até o Ursinho Blau-Blau.

Herbert - Também isso. Mas, se você olhar, a trajetória de profunda consistência do Lulu Santos e dos Titãs, por exemplo, referências importantes e produtivas, chama mais atenção que qualquer Ursinho Blau-Blau mesmo.

Barone - Hoje, temos o distanciamento do tempo para avaliar. Quando nossa geração dos anos 1980 chegou, o rock ancorou definitivamente na música brasileira, na MPB. Tinha aquela visão de que o rock era algo exógeno. Um cara como o Herbert, os caras da geração dele, Cazuza, Renato Russo, depois veio a Cássia (Eller), deixaram uma marca. Na nossa hora, deixamos claro que a música brasileira ganhou outra órbita, outro sentido.

Herbert, Bi e Barone, Os Paralamas do Sucesso em 1985 Foto: Mauricio Valladares

A geração atual não só vai aos shows de bandas como os Paralamas, como também quer saber o que significa a letra de A Novidade, por exemplo. O que isso mostra: que as músicas dos Paralamas são atemporais, que nossos ídolos continuam o mesmos ou que o Brasil continua o mesmo?

Barone - Belchior estava certo (risos). Nosso trabalho não tem prazo de validade. Nossas letras ainda são atuais. O Brasil vive o choque social. A maneira sofisticada e elegante com a qual o Herbert fala de amor. Tudo isso faz com que nosso trabalho chegue às pessoas, e não de maneira nostálgica. Vamos além de uma época que já passou.

Publicidade

Bi - Os festivais ajudam muito. Muita gente que foi para ver outros artistas, acaba vendo os Paralamas também.

O Brasil deveria ter um festival só de rock, de dois em dois anos, para mostrar o novo

João Barone

Se pegarmos as músicas mais tocadas em 2024, tem funk, rap, trap, sertanejo pop, gospel... Esses artistas, que estão no topo no momento, conseguem se comunicar com o público e com o mercado. Vocês olham para eles também?

Herbert - Nesse sentido, o que nos causa certo ou grande desinteresse é o imediatismo de fazer pequenos apelos para o dia a a dia ou de sedução na pista e não ter algo mais pensado, mais verdadeiro, para apresentar. O tempo vai dizer quais deles darão passos adiante.

Barone - É muito legal eles terem uma voz atuante. Como o hip hop, que faz um retrato da sociedade, que denuncia. Às vezes, até de maneira enviesada, pela questão do consumismo e da fama. É uma autocrítica, uma caricatura de uma sociedade que impele a todos ter um cordão de ouro ou uma Ferrari. O mundo de hoje tem muito conteúdo ao dispor. Quem não gosta, muda de canal. O rock tem uma representatividade, sim. O Brasil deveria ter um festival só de rock, de dois em dois anos, para mostrar o novo.

Vocês falaram em um possível álbum novo. O que no mundo inspira o Paralamas a compor atualmente? Herbert mencionou o tema dos latinos nos Estados Unidos. E temos notícias de que milícias de extrema-direita querem ajudar Donald Trump a expulsar os imigrantes. Temos como esse entram na pauta?

Herbert - Por pura casualidade, os fatos do cotidiano ou os tropeços emocionais geram canções. A diminuição do espaço físico e cultural e a acessibilidade a tanta informação e conhecimento certamente terão reflexo em um planeta que não pode ser movido por gente como Donald Trump. Precisamos de vários Fideis Castros para cutucar e sacudir a estrutura (Barone faz gesto de concordância; Bi, apenas ri). Pode ser que esses temas apareçam em alguma música nova, mas nunca é planejado. Não é tão dirigido dessa maneira. Como quando, no passado, vimos um operário, do fundo da estrutura de São Paulo, dizer que o Congresso é um bando de 300 picaretas. E o cara [Lula] se elegeu e se reelegeu presidente do Brasil. Isso é simbólico na transformação da sociedade.

Publicidade

Aliás, Barone fala no livro dele [1, 2, 3, 4! Contando o Tempo com Os Paralamas do Sucesso. Ed. Máquina de Livros] que o Herbert, quando chegou com essa canção, Luís Inácio (300 Picaretas), tinha dúvida se ela entraria no disco, mas que a banda chegou ao consenso de gravá-la. Vocês seguem assim, decidindo tudo democraticamente?

Barone, Herbert e Bi (juntos) - Sempre, sempre, sempre!

Barone - O Herbert é nossa mente brilhante. Nós [ele e Bi] deixamos o barraco em pé.

Serviço

  • Os Paralamas do Sucesso - 40 anos de Clássicos
  • Quando: 31/5/25
  • Onde: Allianz Parque, São Paulo
  • Quanto: R$ 100/R$ 395
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.