Qualquer garoto ou garota pode contar como conheceu o rock pela primeira vez. Se a primeira vez for uma experiência satisfatória, é um vício permanente pelas guitarras em alto volume. Apaixonar-se por algo é, obviamente, inexplicável. Mas, em certos casos, é compreensível.
E eis um aqui. Milhares de fãs do Zeppelin agradecerão aos céus (ou aos infernos, ou aos planos astrais ou apenas aos senhor e senhora Plant) por este dia 20 de agosto, quando Robert completa 67 anos. Eu, incluse. Em West Bromwich, em 1948, nascia Robert Anthony Plant. O deus dourado. Um desses ícones que são capazes de fazer os fãs caírem de joelhos em devoção, de forma literal ou não, você decide.
Cada ligação entre música, músico, banda e indivíduo, é única. Passa pelos filtros do sujeito, suas percepções de vida no primeiro encontro, e por aí vai. O meu Robert Plant mostrou como a dor pode ganhar potência máxima no diafragma, ganhar imperfeições perfeitas na garganta e explodir para fora da boca. Deixar as guitarras no chão, não precisamos delas quando se tem essa voz.
Era um garotinho que amava Beatles, não via tanta graça nos Rolling Stones e, caso ainda sobrem algumas pedras para jogar, não conhecia Zeppelin. Época pré-internet, meus caros, tudo dependia de algum amigo, pai, tio, primo, com bom gosto musical. Às vezes, não dava tão certo.
Curioso lembrar desse dia. Imagino que cada um que chegou até aqui no texto, com um mínimo interesse em Plant, tenha guardado essa memória afetiva. Quando foi a primeira vez que ouviu A Voz do Rock?
Um primo mais velho, cabeludo, descolado, daqueles que vemos pouquíssimas vezes na vida, mas são capazes de transformá-las completamente, indicou algumas bandas, algumas músicas. Fez uma playlist de “iniciação ao resto do rock”.
Ali, estava Babe I'm Gonna Leave You. Segunda música de Led Zeppelin, primeiro álbum da banda formada por Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham, lançado naquele 1969 que parecia tão distante e jurássico para aquele guri. Faixa, aliás, composta por Anne Bredon, gravada anteriormente por Joan Baez.
São só 14 segundos de violão sozinho, até a chegada de Plant. Ali está ele, dizendo da forma mais direta possível: eu vou deixá-la. É uma pancada. É uma ode à partida, um grito de libertação. Desespero, saudade. Há tudo ali, em mais de seis minutos de música. Há Plant, é claro. Com o gogó novo e em forma. De se embasbacar, para não escrever um palavrão aqui. Há, também, o fim. Não se trata de um final feliz. A vida, senhoras e senhores, mostrou-me Plant, não é um conto de fadas como gostavam de dizer para aquele garoto de 13, 14 anos.
Alguns dizem que a voz já não é mais a mesma, outros resmungam que os projetos novos são insossos e, por vezes, assustadoramente banais. Quem se importa? Onde Plant estiver, faço questão de assistir se possível. Disco novo na praça? Bora ouvir. Reviver o impacto daquela primeira vez, é impossível. Mas não custa resgatar a memória afetiva.
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Tornei-me roqueiro, insistem em dizer. Mas, por causa dele, Plant, posso confessar: tornei-me amante das dores do coração – uma inexplicável contradição, eu sei, mas não ligo.
Babe I'm Gonna Leave You não é a melhor versão de Plant. Zeppelinmaníacos enviarão, nos comentários, espero, sugestões de canções que mostram muito mais do potencial vocal dele. Compreensível, aliás. Separamos aqui, contudo, uma lista, um despretensioso Top 10, não cronológico e sem algumas obviedades, em homenagem a este 20 de agosto. Ouça abaixo:
“The Imigrant Song” (1970)
“Colours of a Shade” (1993)
"Whole Lotta Love" (1969)
“Gone Gone Gone (Done Moved On)” (2007)
Black Dog' (1971)
“Ship of Fools” (1988)
When the Levee Breaks' (1971)
“Sea of Love”
“All of My Love” (1979)
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