Paródia de pop dos anos 1990 viraliza e vira sucesso real. Conheça o fenômeno ‘Planet of the Bass’

Kyle Gordon, responsável pelo hit que zombava da dance music e colou de verdade, já foi até convidado para cantar em apresentação dos Jonas Brothers; ‘Estadão’ falou com humorista norte-americano para entender o fenômeno

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Foto do author Sabrina Legramandi

“Todo o sonho. Como significa? Quando o ritmo é alegre, não há nada para ficar triste”. Esses versos podem realmente não significar nada ao serem lidos, mas basta serem traduzidos para um inglês – com uma gramática, no mínimo, estranha – e ganharem o ritmo do Eurodance, gênero de música eletrônica que se popularizou na Europa nos anos 1980 e 1990, que eles se tornam um sinônimo de sucesso.

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As linhas fazem parte da paródia Planet of the Bass, uma música que agora ocupa os lugares – e as cabeças – dos Estados Unidos e da Europa. Basta fazer uma rápida busca pelo nome do hit no TikTok para se ter uma ideia do sucesso: a música já é trilha sonora de vídeos da rede com dancinhas e toca até em estabelecimentos comerciais.

O criador do hit, Kyle Gordon, que vive em Nova York, ou DJ Crazy Times, como é denominado o personagem que canta a canção, foi, inclusive, convidado para se apresentar em um show dos Jonas Brothers em Boston. Planet of the Bass se tornou, oficialmente, segundo a imprensa no exterior, a “música do verão” no Hemisfério Norte.

Entenda como Planet of the bass virou um fenômeno

Tudo começou com um vídeo de 50 segundos – que, hoje, já acumula 10,6 milhões de visualizações – publicado no TikTok. A proporção foi tanta que Kyle aproveitou para lançar uma versão do clipe e da música completos e até uma “original” imitando uma fita VHS de 1997. A primeira soma mais de 3 milhões de visualizações.

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Começaram a brotar fãs da música, inclusive da mulher que aparece com Kyle no vídeo, chamada de Biljana Electronica. Algo, porém, passou a chamar a atenção: Biljana é interpretada por Audrey Trullinger, mas a voz é de Chrissi Poland.

Não demorou para que outra Biljana Electronica aparecesse, o que causou certa “revolta” nos fãs. Ao todo, existem três versões de Biljana: uma interpretada por Andrey, outra por Mara Olney e a última por Sabrina Brier. (Gambiarra, aliás, que é a cara de uma vertente de pop pré-fabricado e meio picareta dos anos 1990).

Usuários de redes sociais questionaram a troca de intérpretes da personagem Biljana Electronica. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/kylegordonisgreat

O motivo já é percebido pela forma que DJ Crazy Times vê as mulheres: “Mulheres são o meu cara preferido”, diz ele em um dos versos. Internautas começaram a apontar mais referências do Eurodance com a escolha: vocalistas femininas “substituíveis” que poderiam dublar os mesmos vocais. “DJ Crazy Times sempre se mantém fiel ao que interessa”, clamou uma usuária para defendê-lo no X (Twitter).

Criador não imaginava a ‘explosão’ da paródia

Kyle Gordon criou o personagem DJ Crazy Times enquanto ainda estava na faculdade. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/kylegordonisgreat

Apesar de sentir que havia “algo especial” em Planet of the Bass, Kyle Gordon não imaginou que a paródia se tornaria “tão grande como se tornou”. “Quer dizer, eu nunca imaginei que pessoas no Brasil me fariam perguntas sobre isso”, brinca ele em entrevista ao Estadão.

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O DJ Crazy Times não foi criado pelo humorista apenas para cantar Planet of the Bass: já é um personagem que acompanha Kyle desde a faculdade. “Era apenas um personagem bobo que eu fazia com os meus amigos”, comenta.

O comediante chegou a levar Crazy Times para shows que fazia no Brooklin. O personagem, porém, apenas se tornaria um sucesso quando começou a aparecer no TikTok em meados de 2020.

Kyle Gordon planeja outras paródias, incluindo uma sobre a bossa nova

O humorista diz que pretende não se limitar apenas ao Eurodance: no início do ano, ele chegou a gravar um álbum inteiro de paródias de diversos gêneros. O disco, que recebeu o nome de Kyle Gordon is Great (ou Kyle Gordon é Ótimo, em português), inclusive, foi quando o criador viu a oportunidade de apostar em uma versão completa de Planet of the Bass.

“Acho que sou interessado em identificar e examinar tropos [imagens universalmente reconhecidas], sejam no comportamento humano ou de gêneros musicais”, conta o comediante. “De certa forma, cada paródia musical que faço vem primeiro da geração de um personagem e depois da imaginação do tipo de música que esse personagem poderia fazer.”

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Kyle Gordon aposta em gêneros diferentes do Eurodance depois de 'Planet of the Bass'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/kylegordonisgreat

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Após Planet of the Bass, o autor decidiu se arriscar em um ritmo brasileiro: a bossa nova, com uma música cantada pelo personagem Antonio Frankfurt. “Queria pegar aquela ‘vibe’ [da bossa nova] e distorcê-la e inflá-la a um grau de desenho animado, muito mais do que fiz em Planet of the Bass, que é uma paródia bastante fundamentada e direta”, conta Kyle, que disse ter tido contato com o som de artistas como Astrud Gilberto e Stan Getz durante o ensino médio.

A paródia, que teve uma versão completa lançada esse mês, porém, não agradou a ouvidos brasileiros. “Você já ouviu uma música de bossa nova?”, questionou uma internauta em um vídeo postado no TikTok. “Bossa nova precisa ter ritmo”, criticou outro.

Alguns, porém, defenderam que o humorista teve a intenção de retratar como o ritmo é visto por olhos norte-americanos, com uma letra problemática. “Acho que ele está tocando uma ideia que cantores da América do Norte tinham quando faziam canções horríveis de bossa nova”, declarou um usuário da rede de vídeos.

Kyle sabe que suas paródias podem gerar críticas e debates, mas diz não se afetar por discussões que cria na internet. “Sou uma pessoa bem resistente [a críticas] e despreocupada. Com toda a minha comédia, estou apenas tentando me divertir o máximo possível”, diz o músico e humorista.

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*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

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