“Estou como uma legítima trabalhadora de home office, usando blazer e pijamas”, brinca Paula Fernandes ao surgir na câmera durante a coletiva online o novo EP, Qual amor te faz feliz?, com lançamento nesta quinta, 13, às 21h.
A cantora parece mais segura. Assume a sensualidade desde o início da carreira atribuída a ela – naquela época, contra sua vontade. Ela ainda evitava a imprensa, diziam.
Hoje, quer passar por cima desses estigmas. Na entrevista, sorri constantemente, não foge das perguntas e assume tratar o novo EP como um reflexo da “fase empoderada”.
No primeiro single do novo EP, Anota Aí, Paula canta sobre fazer falta na vida de um antigo amor. A superação diante de uma desilusão amorosa ganhou força no feminejo de nomes como Marília Mendonça, e também reflete no atual momento da cantora.
Nova era
A nova fase de solteira foi inspiradora: “Estou descobrindo o prazer de ter amor-próprio. É base pra tudo que estou fazendo – até das fotos sensuais”. Ela se refere às fotos mais “ousadas” publicadas em suas redes na última semana, surpreendentes para quem a acompanha.
É uma sensualidade natural, do meu momento. Sou livre e faço o que quiser com meu corpo, dentro dos meus limites e valores. Não fiz [as fotos] pra homens, fiz para provar mostrar que faço minhas próprias escolhas. A sensualidade, para mim está ligada à libertação
Amor sem preconceitos
Paula Fernandes tinha uma visão heteronormativa e padronizada do amor: mulher e homem formando uma família. “Na medida em que o tempo vai passando, vamos notando que não existe fórmula mágica. Nesse processo, vejo a batalha de muita gente em se assumir, ser aceita”, reflete. Hoje, ao contrário de alguns colegas do meio, vai contra discursos homofóbicos:
Este EP é a forma como vejo o amor. Estamos no momento de falar sobre libertação, sobre a luta dos casais homossexuais ou das pessoas que escolheram viver sozinhas. Não existe uma maneira adequada e imposta pra ser feliz. O projeto todo fala sobre isso.
O sertanejo por elas
Em 2009, quando Paula Fernandes emplacou o primeiro hit nacional, Pássaro de Fogo, aos 24 anos (ela começou a cantar aos 9), era a única representante feminina do sertanejo entre as mais tocadas nas rádios. “Entrei num mercado dominado por duplas masculinas, num sistema todo preparado para homens”, diz.
Apesar dos avanços, diz que o cenário ainda é desfavorável às mulheres – facilmente perceptível no line up das maiores festas do gênero no país. “Sinto falta de ver uns rostinhos femininos pelos outdoors de shows que vejo por aí. É só aquela fileeeira de homem” E provoca: “Aviso aos empresários: contratem mais mulheres!”.
Para ela, a dificuldade de renovação é reflexo cultural do próprio gênero. “O sertanejo, por si só, já teve uma penetração difícil em outros estados. E, como era predominantemente masculino, foi ainda mais difícil para nós”. Sentia-se estranha por ser uma voz única, artista solo, em um gênero consagrado por duplas – Leonardo e Daniel, por exemplo, passaram a cantar solo após a morte de seus companheiros, Leandro e João Paulo, assim como aconteceu com algumas duplas caipiras.
Quando surgiu, o sertanejo universitário dominava as paradas. Com canções românticas e bucólicas, Paula era um fenômeno fora da curva.
Desde então, vem lidando com a fama como pode. Do melhor jeito possível, claro. No fim da coletiva, revela arrepender por ter se calado enquanto especulavam sobre sua vida: “Se eu tivesse rede social naquela época, não teria me calado para críticas e fake news. Teria coragem de olhar pra câmera e dizer ‘eu não sou essa pessoa”.
E como é Paula Fernandes? “Eu sou discreta, introspectiva. Como pelas beiradas, como todo mineiro”, diz. Nessa nova era, parece querer tomar as rédeas da própria imagem.
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