Paulinho da Viola: “Sou um homem do século 19, não sei bem o que estou fazendo aqui”

Sambista que será atração do Mimo Festival lamenta a partida de Rita Lee, fala que o samba também tem seus transgressores e revela um dos discos mais importantes de sua vida: ‘The Prophet’, de Thelonious Monk

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Foto do author Julio Maria

Era a tarde triste de quarta, dia 10, pós-velório de Rita Lee, quando Paulinho da Viola atendeu ao telefone de sua casa, no Rio de Janeiro. A ligação era e foi para uma entrevista sobre sua vinda a São Paulo no próximo domingo, Dia das Mães, quando ele vai se apresentar como a atração maior no encerramento do festival Mimo. Um show que será generoso, gratuito, no aprazível Parque Villa Lobos, e que contará com a participação de sua talentosa filha, Beatriz Rabello. Mas Rita, a “rainha do rock”, se fez presente logo no início da conversa com o “príncipe do samba”. “Eu estava vendo as imagens pela TV, muito triste perdermos alguém como ela.”

Paulinho canta em São Paulo, em 2019 Foto: GABRIELA BILO / ESTADÃO

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As fronteiras territoriais não devem ser respeitadas quando falamos de alguns nomes, sugere Paulinho. E mesmo o samba e o rock, dois gêneros monarquizados o tempo todo, guardam perigos redutores quando elegem seus reis e empossam suas rainhas. Rita seria a rainha do rock para quem? “Olha, aparentemente fomos criados em universos diferentes, ela no rock e eu no samba, mas isso não me parece verdade. Em 1992, no mesmo Parque do Ibirapuera, onde foi velada, fizemos um grande show, com Caetano, Jorge Ben, João Gilberto e ela, Rita. Aquilo foi muito interessante, nada parecia separar essas pessoas.” A fala de Paulinho se torna insofreável por ser também irresistível. “Ela era a transgressora que dizem, mas no melhor sentido da palavra. E eu adoro aquele disco do Tutti Frutti.”

A conversa sobre Rita precisa terminar de algum jeito para que falemos do show. Mas, um segundo: o senhor disse Tutti Frutti? “Isso, adoro aquele disco.” O álbum é Fruto Proibido, da fase pós Mutantes, que tem Esse Tal de Roque Enrow, Agora só Falta Você e Ovelha Negra. “Então o senhor gosta da Rita mais rock and roll de todas? “Gosto”, diz. “Ou melhor, gosto dessa também.”

Ser transgressor seria um charme permitido aos roqueiros mas condenável no mundo samba, que carrega toneladas de passado nos ombros? “Não”, diz o sambista. “O samba também foi e pode ser transgressor. João da Baiana, Donga, Garoto, Radamés, Laércio de Freitas, Esmeraldino Salles, Valdir Azevedo, Canhoto da Paraíba, Pixinguinha, Lupércio Miranda, todas essas pessoas foram transgressoras dentro da linguagem do choro.” E Paulinho da Viola?

Convidado a fazer uma reflexão sobre suas próprias transgressões, e ele poderia citar, por exemplo, a construção ousada da harmonia de Sinal Fechado, de 1969, Paulinho pega a saída de emergência do passado: “Olha, eu sou um homem do século 19, não sei bem o que eu estou fazendo aqui. Não lido bem com celular, não entendo esses direitos autorais, que não pagam mais como pagavam, não sei lidar com esse negócio de lançar uma música por vez no Spotify.” E sorri.

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O nome de Rita não está mais presente, mas seu espírito não arreda o pé, e é ele quem sopra a próxima outra pergunta: “Muita gente defende a legitimidade genética daqueles que representam certos gêneros musicais. Ou seja: se és brasileiro, não se atreva a cantar rock. Se és norte-americano, não se atreva a tocar choro. Onde o senhor se posiciona nisso?” “Eu jamais criaria uma celeuma por isso. Uma vez, em 1986, fui ao Japão apenas com o pandeirista Celsinho Silva. Os outros músicos seriam todos japoneses. E foram shows incríveis.”

Um novo portal em suas memórias nos leva ao Recife, final dos anos 60, quando Paulinho foi fazer sua primeira apresentação na cidade. “Havia um suíço na mesma pousada em que me colocaram, bem modesta, no bairro de Cordeiro” (impressionante como ele lembra de tudo). “Ele adorava ouvir jazz em uma vitrola e foi assim que conheci um dos álbuns mais marcantes de minha vida. The Prophet, do pianista Thelonious Monk. Você não imagina como aquilo mexeu comigo.”

Os 80 anos dão a Paulinho o direito de fazer o que quiser, como quiser, quando quiser. Álbum novo? “Tenho algumas composições, mas não sei ainda qual a melhor maneira de lançá-las. Não sei bem lidar com esse negócio de lançar uma música por vez.” Marcenaria? (Aquela que ele tem em casa e onde passa boa parte do tempo consertando objetos)? “Está meio desativada desde a pandemia”. Então, aposentadoria? “Agora que eu não posso parar mesmo” (risos). “Eu não penso em parar de fazer shows, nada disso. Vou seguindo até quando der. Claro que há um desgaste maior em pegar aviões, mesmo usando a fila das prioridades. O problema é agora tem mais gente na fila das prioridades do que na normal.” E o show na Mimo? “Vou levar a Beatriz. Vai ser lindo.”


SHOWS

SEXTA

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18H - ARENA B3

MANUEL DE OLIVEIRA (PORTUGAL)


21H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO

NICO SORIN PIAZZOLLA ELECTRÓNICO (ARGENTINA)


13.05 SÁBADO

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12H - ARENA B3

KIKO DINUCCI – PART. JUÇARA MARÇAL (BRASIL)


14H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

DJ MARINA LOPES (BRASIL)


15H - PARQUE VILLA-LOBOS

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ARNALDO ANTUNES + VITOR ARAÚJO (BRASIL)


16H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

PRINCE FATTY CONVIDA MONKEY JHAYAM & SHNIECE (BRASIL/INGLATERRA)


18H - PARQUE VILLA-LOBOS

LAKECIA BENJAMIN (EUA)

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19H - PARQUE VILLA-LOBOS

DON LETTS DJ SET (INGLATERRA)


20H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

JUPITER & OKWESS (CONGO)


14.05 DOMINGO

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14H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

DJ MARINA LOPES (BRASIL)


15H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

LUCINHA TURNBULL (BRASIL)


17H - PARQUE VILLA-LOBOS

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MARIO LUCIO & OS KRIOLS (CABO VERDE/PORTUGAL)


18H30 - PARQUE VILLA-LOBOS

PAULINHO DA VIOLA (BRASIL)


WORKSHOPS

AS INSCRIÇÕES PARA O PROGRAMA EDUCATIVO DEVEM SER FEITAS ANTECIPADAMENTE PELO E-MAIL EDUCATIVO@MIMOFESTIVAL.COM, INDICANDO O WORKSHOP DE INTERESSE NO TÍTULO.

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AS AULAS ESTÃO SUJEITAS À CAPACIDADE DE ATENDIMENTO E À LOTAÇÃO DOS ESPAÇOS DE REALIZAÇÃO.


12.05 SEXTA

14H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO

PRINCE FATTY (INGLATERRA)

EXPLORANDO AS ORIGENS DO DUB


13.05 SÁBADO

10H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO

MANUEL DE OLIVEIRA (PORTUGAL)

GUITARRA IBÉRICA – TERRITÓRIO, IDENTIDADE E INOVAÇÃO


16H30 - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO

NICO SORIN (ARGENTINA)

O DESAFIO DE ADAPTAR A OBRA DE ASTOR PIAZZOLLA PARA DIFERENTES CONJUNTOS INSTRUMENTAIS


14.05 DOMINGO

14H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO

LAKECIA BENJAMIN (EUA)

UM RETRATO DO NOVO JAZZ

FÓRUM DE IDEIAS

MEDIADOR: LUIZ THUNDERBIRD


12.05 SEXTA

16H - MASP – GRANDE AUDITÓRIO

MARIO LUCIO & JUPITER (CABO VERDE/CONGO)

MIGRANTES DE ONTEM E DE HOJE


13.05 SÁBADO

15H - MASP – PEQUENO AUDITÓRIO

LUCINHA TURNBULL (BRASIL)

A MULHER NESSE TAL DE ROCK AND ROLL


14.05 DOMINGO

16H30 - CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – SALA PAULO EMÍLIO

DON LETTS (INGLATERRA)

O REBEL DREAD

MOSTRA DE CINEMA

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – SALA PAULO EMÍLIO


12.05 SEXTA

17H - AS DIVAS DE TAGUERABT

DIREÇÃO: KARIM MOUSSAOUI

DOC | 15MIN | 2020 | LIVRE | FRANÇA

AFRICA MIA

DIREÇÃO: RICHARD MINIER E ÉDOUARD SALIER

DOC | 1H21 | 2019 | LIVRE | FRANÇA


19H - É D’OXUM – A FORÇA QUE MORA N’ÁGUA

DIREÇÃO: DAYANE SENA

DOC | 26MIN | 2023 | LIVRE | BRASIL/BA

MANGUEBIT

DIREÇÃO JURA CAPELA

DOC | 1H41 | 2022 | 12 ANOS | BRASIL/PE


13.05 SÁBADO

15H - FANTASMA NEON

DIREÇÃO: LEONARDO MARTINELLI

FIC | 20MIN | 2021 | 12 ANOS | BRASIL/RJ

ALAN

DIREÇÃO: DANIEL LISBOA E DIEGO LISBOA

DOC | 1H32 | 2022 | 16 ANOS | BRASIL/BA


17H - MANHÃ DE DOMINGO

DIREÇÃO: BRUNO RIBEIRO

FIC | 25MIN | 2022 | LIVRE | BRASIL/RJ

DOM SALVADOR & ABOLIÇÃO

DIREÇÃO: ARTUR RATTON KUMMER E LILKA HARA

DOC | 1H28 | 2020 | LIVRE | BRASIL/EUA

19 - HLETRUX: VIVER É UM FRENESI

DIREÇÃO: MARCIO DEBELLIAN

DOC | 35MIN | 2023 | 10 ANOS | BRASIL/RJ

AQUILO QUE EU NUNCA PERDI

DIREÇÃO: MARINA THOMÉ

DOC | 1H24 | 2021 | 12 ANOS | BRASIL/SP


14.05 DOMINGO

15H - REBEL DREAD

DIREÇÃO: WILLIAM E. BADGLEY

DOC | 1H27 | 2020 | 12 ANOS | UK

CHUVA DE POESIA

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