Preta Gil lança música em parceria com o filho Fran e participação especial do pai, Gilberto Gil

'Meu Xodó' lançada nesta sexta é a primeira parceria da cantora com o filho Francisco Gil; em entrevista cantora conta como foi o processo

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Foto do author Ana Lourenço

Minha mãe sempre me falou que fundo do poço tinha mola e eu acho que Meu Xodó foi a minha”, sintetiza Preta Gil sobre o significado da sua nova canção Meu Xodó, lançada nesta sexta, 6, em todas as plataformas digitais. O single é a primeira parceria da cantora com o filho Fran (Francisco Gil) e seu primeiro trabalho após um hiato de produções novas. Em entrevista animada ao Estadão, com direito até a um “show particular”, a cantora conta como foi o processo.

“Quando escutei a música, eu estava num luto profundo e foi ela que me acendeu um acalento no coração, uma vontade de voltar a cantar e materializar minha arte em forma de música”, diz ela, que recebeu a letra do filho no final do ano passado, mas não conseguiu se conectar com a canção na época. O tempo passou e, há dois meses, quando o filho falou que gravaria sozinho, o desejo renasceu em Preta.

Grumari. Praia é cenário da cançãocom Preta Gil e o filho Fran Foto: Alex Santana

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Diferente da maioria das músicas da artista que, como ela mesma diz, tem algo de “tirar o pé do chão”, Meu Xodó tem suingue, mas não chega a ser dançante. “Ela é muito reflexiva e good vibes, que é exatamente o que a gente está precisando agora: de boas energias.” O ritmo, chamado de afoxé funk, vai muito ao encontro com o estilo de seu primeiro álbum, Prêt-à Porter (2003), e também com o primeiro da carreira solo de Fran, Raiz (2020).

A união musical de mãe e filho foi natural, especialmente pelo tempo de quarentena compartilhado. Apesar de a família ser composta por músicos, cada um soube buscar seu estilo. “Eu lembro até hoje do fora que levei do meu pai (o cantor e compositor Gilberto Gil), quando lá atrás pedi para ele uma música para gravar no meu primeiro álbum e ele falou: ‘não vou fazer, vá procurar sua turma’. Claro que, num primeiro momento, eu fiquei magoada, mas depois entendi que ele queria me dar instrumento de vivência”, divide ela. “Eu tenho muito respeito pelo desabrochar do Fran.”

A companhia do filho, assim como a da neta, Sol de Maria, foi essencial para a cantora durante o difícil momento da pandemia. Preta foi diagnosticada com covid-19 em março de 2020, perdeu o amigo Paulo Gustavo e sua avó, Dona Wangry, de 96 anos, neste ano, além de sofrer o luto do mundo com a doença. “Eu estava em uma tristeza e não conseguia ver a luz no fim do túnel, e uma coisa que valorizei muito nesse tempo foi o fato de eu estar em quarentena com eles”, diz ela, que mora no mesmo prédio da família. “Eles me salvaram de realmente não ter entrado em uma depressão.”

Além de ser lançado dois dias antes do aniversário de 47 anos da cantora, Meu Xodó marca sua volta à produção musical. Seu último single, Só o Amor, parceira com Gloria Groove, foi ao ar em 2019. “Um tempo ocioso e dolorido, mas que fez nascer uma Preta melhor, muito feliz com a minha existência e equilibrando as dores com as felicidades da vida”, revela.

A cantora e a neta, Sol de Maria, no clipe de Meu Xodó Foto: Alex Santana

A data também coincide com Ponte Preta, o novo programa do IGTV (plataforma de vídeos do Instagram) da cantora. “É um projeto que lancei semana passada e que reflete exatamente quem eu sou e o que faço da minha vida desde criança: eu faço pontes. Entre as pessoas, entre as culturas, entre as religiões, entre tudo”, diz Preta Gil que, ao longo da sua carreira, já provou seu ecletismo.

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“No ano que vem, completo 20 anos de carreira e, nesse retrospecto de ficar pensando como foi minha discografia, minha performance, eu acho que tentei fugir desse meu berço que é a MPB e flertei muito com o pop em alguns álbuns e músicas, que eu amo. Mas meu berço, meu colo, minha raiz é a MPB. E é bonito e curioso como a vida tem um ciclo e como meu filho me fez me conectar de novo com isso”, reflete. 

A letra, a qual a reportagem escutou pela primeira vez durante esta entrevista – com a artista cantando e segurando um objeto para imitar um microfone, bem à vontade –, fala justamente sobre reconexão e esperança. “Fechei os meus olhos pra sentir o vento levar todo o mal pra longe daqui, pra tudo que é bom chegar”, anuncia a primeira parte da canção.

Em outro trecho, a letra diz “pedi pro meu santo uma bênção, eu peço licença pra poder cantar”. Preta explica que a frase foi muito significativa para ela, em razão de sua conexão com o candomblé durante a doença e a recuperação. “Era uma conversa constante com a minha mãe Oxum, com meus orixás, para me darem caminhos e percepção de como eu ia voltar, como eu ia sair da bad trip em que eu estava”, conta. 

Na música, a fé é representada pelo amor e união da família. Algo que o clipe, com direção de Aisha Mbikila, soube capturar muito bem. Gravado na praia de Grumari, zona oeste do Rio de Janeiro, ele conta com a representação das quatro gerações da família Gil, além da a aparição do marido de Preta, Rodrigo Godoy. Por causa da pandemia, Gilberto Gil participa da canção somente por voz.

“Pedi para o meu pai me mandar um áudio explicando o que é xodó para ele e a fala abre o clipe, com uma imagem bem bonita de fundo. Xodó para ele é um abraço, um chamego, um cheiro, é beiju com manteiga”, conta ela. A comida, tipicamente baiana, é uma forma de dizer “gosto de casa”.

Diferentemente de Eu Só Quero um Xodó, canção de Dominguinhos e Anastácia, eternizada na voz de Gil em 1973, xodó na música de Preta não tem referência a um par romântico, mas sim qualquer coisa que dê alegria de viver, desde um animal até uma comida.

Em ambas, a saudade é certa. Em tempos de quarentena, é possível concordar: que falta faz um xodó. “A saudade dos meus amigos, dos meus fãs, é uma coisa que dói na minha alma. E, nesse momento, se apegar aos xodós que eu tenho me faz ter forças para passar por tudo isso e ter esperança de que a gente vai viver dias melhores”, conta Preta.

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Ao longo da canção a frase “enquanto não chegar” é repetida diversas vezes, sem determinação do quê. A escolha fica do público. Mas, por aqui, o desejo unânime é pelo dia da vacinação total, quando os chamegos e os xodós voltem, enfim, a serem constantes.

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