A apresentadora do Bom Dia & Cia, do SBT, cresceu, virou cantora gospel e, agora, mergulha no mundo pop. Ao lançar os singles Quer dançar e Fã incubado para marcar o início de uma nova fase, Priscilla retira o sobrenome Alcântara da assinatura, muda o corte e a cor do cabelo e se desvincula do gênero religioso no qual esteve inserida a maior parte da carreira. O novo disco, que também carrega o nome da cantora, deve sair no início de 2024.
“É um recomeço artístico, porque venho apresentando ao público uma Priscilla que eles não conheciam, mas que eu conhecia. Sempre soube do meu potencial, então, sempre me visualizei em outros lugares”, conta a cantora em conversa por Zoom com o Estadão.
Entrar no mundo pop significa abraçar a comunidade LGBT+, com quem Priscilla viveu polêmicas no passado. Em 2022, ela recebeu uma enxurrada de críticas por não cantar um trecho da música Born This Way, de Lady Gaga, que aborda pessoas gays, transgênero e bissexuais, durante um cover no programa TVZ, do canal Multishow. Nas redes sociais, esse público ainda demonstra uma certa desconfiança com a artista.
“Geralmente, amo ver crentes se desviando e vivendo suas vidas, mas me incomoda muito que essa aí passou anos e anos perseguindo publicamente e em nome de Deus a comunidade LGBTQIAPN+, e agora me vem com essa estética garota pop santa no soy mirando certeiramente no pink money (termo que descreve o poder de compra da comunidade)”, disse uma usuária no X (antigo Twitter). A publicação teve quase 30 mil curtidas na rede social e alcançou mais de 3 milhões de visualizações.
A usuária da web assumiu que Priscilla “nunca atacou fãs diretamente”. “Os discursos dela, principalmente, em pregações e em entrevistas do meio gospel, é aquele lance de que ama porque deus ama os pecadores, mas sempre levando para o lado de que o espírito santo vai convencer a pessoa do pecado dela para que ela possa se arrepender”, completou.
Priscilla nega qualquer estratégia para conquistar esse público. “Não acredito numa necessidade de aprovação. Todo tipo de relacionamento tem que ser de verdade e eu não enxergo as pessoas como números. Não quero conquistar gente para ter número. Quero conquistar gente para ter gente comigo, para me relacionar, para eu ter troca de verdade”, diz ela.
A cantora relembra ter se posicionado “mil vezes” sobre as críticas e os questionamentos que recebeu. “Mas não tem como você convencer alguém de uma coisa que ela não quer ser convencido”, completa.
‘Eu era um produto gospel muito vendável’
Parte da crítica não vem só da comunidade LGBT+, mas também de fãs da carreira gospel de Priscilla, gênero do qual ela se distanciou nos últimos anos. A cantora acredita que os ataques acontecem por ela ser um “monopólio” da indústria musical que abandonou a área.
“Eu era um produto gospel muito vendável e aí tomei a asa e fui viver do que acredito, falar do que eu acredito. Então, deixei a forma convencional, a forma aceita, a forma ideal, que é a que geralmente é imposta para quem está dentro desse ambiente. Não é uma dor de traição... Não sei, devo fazer falta lá”.
Rompida com a Igreja Evangélica, Priscilla defende não ser necessário ter um “intermediário” — como um pastor — entre ela e Deus. “Ao longo dos últimos anos, desenvolvi uma fé madura e, para mim, uma fé madura é uma fé autônoma, que não depende de terceiros”, comenta.
“Você não precisa de uma intersecção, de um intermediador entre você e Deus - além Dele mesmo. Então, a fé autônoma que digo é quando você não se tornou um repetidor de alguém, você é pensante. A ideia que tenho do próprio Jesus é a de que ele não queria formar repetidores: Ele veio formar pensadores.”
Mudança de visual
Os cabelos castanhos compridos saíram para dar lugar aos fios curtos e com uma cor de vermelho vivo. Acostumada a mudar o visual e pintar as mechas na adolescência, a ideia que veio meio de repente se tornou “protagonista da estética” na nova fase da carreira.
“[O cabelo] Foi um insight que tive. Eu sabia que queria o elemento cabelo como protagonista da estética. Então, eu falei: ‘Quero o cabelo, quero trabalhar com essa parada do cabelo e quero cor para destacar ainda mais’”, conta ela.
Como o longo “não imprimiria a imagem que ela queria” transmitir, Priscilla cortou o cabelo curto na semana da gravação do clipe para “Quer dançar”. “Eu sabia que [mudar o corte e estilo do cabelo] tinha um valor simbólico muito grande. Era literalmente a Priscilla Alcântara se despedindo e a Priscilla nova trazendo 1 milhões de ondas e uma avalanche em cima de mim... e eu tipo: ‘meu Deus, o que ela vai me trazer?’”, relembra, rindo.
Os amigos e familiares já sabiam qual visual a artista adotaria quando ela foi ao cabeleireiro. No entanto, tanto a cantora quanto eles tinham receio do novo cabelo não combinar com seu estilo. O namorado, a melhor amiga, Raquel, e a irmã foram as primeiras pessoas a conferirem o resultado.
“Eu falei: ‘Senhor, que pelo menos combine, porque eu já passei da fase de ter coragem de fazer isso’. Enfim, coisa boba de mulher que quer estabilidade... Mas aí deu tudo certo, todo mundo amou e achou que combinou.”, conta.
Amiga de Bruna Marquezine, que também foi uma das primeiras a ver o novo corte e cor de cabelo, Priscilla revela qual foi a reação da atriz ao ver seu novo estilo. “Ela ficou chocada”, diz.
Ao lançar canções, Priscilla conta que a parte mais difícil é estar em outra fase musical. Para isso não acontecer desta vez, ela tenta não produzir trabalhos novos enquanto está em turnê. “Quando lanço para vocês, já não é mais novo para mim”, finaliza.
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