Quem é Elisapie, a cantora indígena que interpreta Metallica e Blondie a serviço de seu povo; ouça

Artista faz versões de grandes músicas da história do rock, como ‘I want to break free’, do Queen, na língua inuíte

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Por Philippe Grelard

Paris, França | AFP - Com suas versões de músicas de Pink Floyd, Queen, Metallica e Blondie na língua inuíte, a cantora Elisapie espera chamar atenção para os problemas e esperanças dos povos indígenas no norte de Quebec, no Canadá.

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“É curioso, é um álbum de versões, mas é o meu álbum mais pessoal”, diz a cantora em uma entrevista à AFP.

Elisapie conta que a escolha por este repertório está ligada às “lindas lembranças” de sua adolescência nos anos 1980, mas também à conscientização do que acontecia ao seu redor, “os efeitos da colonização, da sedentarização, dos internatos. Tudo que fez meu povo sofrer”, explica.

“O Metallica era um pouco como nossos irmãos mais velhos. Enquanto a música durava, nos sentíamos protegidos”, recorda.

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A canção The unforgiven, da banda de heavy metal americana, se tornou Isumagijunnaitaungituq em seu álbum intitulado Inuktitut (língua inuíte do Ártico), lançado em meados de setembro.

Elisapie Isaac faz versões de músicas de bandas como Pink Floyd, Queen, Metallica e Blondie na língua inuíte. Foto: Lars Hagberg / AFP
  • Suicídios - A cantora foi criada em Salluit, pequena cidade de Nunavik, uma região mais ao norte de Quebec. Ela conta que, quando era mais jovem, não sabia por que tantos primos de sua etnia tiravam a própria vida.

O povo inuíte vive atormentado pelas lembranças dos internatos onde as crianças da comunidade indígena deveriam cursar estudar compulsoriamente, medida que se estendeu até a década de 1990.

Os abusos e maus-tratos eram comuns e, posteriormente, o governo canadense reconheceu que houve um “genocídio cultural”.

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“As crianças eram separadas de suas famílias desde muito pequenas. Arrancavam suas origens indígenas, de acordo com alguns relatos. Algo muito violento”, conta ela, que trabalhou como assistente social antes de se tornar cantora e porta-voz de sua comunidade.

O profundo mal-estar das comunidades inuítes deslocadas reflete particularmente na taxa de suicídios que Elisapie descreve como uma “pandemia ártica”.

Como forma de homenagear seus parentes, a artista adaptou I want to break free, da banda britânica Queen, para Qimatsilunga, em memória a um de seus primos, Tayara, que era um pouco mais velho que ela quando se enforcou.

O caso, assim como o de outros primos desaparecidos, aparece em Qaisimalaurittuq, versão da famosa Wish you were here, do Pink Floyd.

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Elisapie retrata desafios das comunidades indígenas no norte do Canadá nas letras de suas músicas. Foto: Sebastien ST-JEAN / AFP
  • “Somos bons, valemos alguma coisa” - Filha de mãe inuíte e pai branco, ela foi entregue pela avó a uma família adotiva quando nasceu.

E embora tenha feito parte da banda de rock de seus tios, Sugluk, Elisapie seguiu para a carreira solo para se aprofundar ainda mais na aventura de “capturar” mais aspectos da música.

Seu quarto álbum não foi concebido apenas para curar feridas antigas, mas também para dar esperança a uma comunidade que tem sido muito “ignorada”, denuncia. “Este disco é um pouco para dizer que somos bons, bonitos, que valemos alguma coisa, que podemos ser ouvidos e vistos na televisão”, reforça.

No disco, a música Heart of glass, do Blondie, se torna Uummati Attanarsimata, uma versão inuíte que foi compartilhada até mesmo pelo baterista e um dos fundadores do Metallica, Lars Ulrich.

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