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Retrospectiva 2018 Erudita: Boas notícias, más notícias, notícias velhas 

Uma boa safra de álbuns, o lançamento de um projeto ambicioso pelo Itamaraty e uma indefinição indigesta com relação à gestão do Teatro Municipal

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Foto do author João Luiz Sampaio

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo abriu 2018 com a conclusão da primeira gravação completa por uma orquestra brasileiras das sinfonias de Villa-Lobos, com Isaac Karabtchevsky e a equipe de musicólogos da Fundação Osesp oferecendo leituras de referência das obras e, fundamental, novas e profissionais edições das partituras.

Osesp em ação em 2018 Foto: Mariana Garcia

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Na mesma linha, o Itamaraty lançou o projeto Brasil em Concerto, com a gravação de 30 CDs de obras de autores brasileiros, pela Osesp e por outras duas orquestras sem as quais não dá para pensar hoje o cenário nacional: a Filarmônica de Minas Gerais, comandada por Fabio Mechetti, e a Filarmônica de Goiás, com Neil Thomson, que já iniciou a gravação da integral das sinfonias de Claudio Santoro, cujo centenário será celebrado em 2019. Também faz parte do projeto a Academia Brasileira de Música, presidida por João Guilherme Ripper.

Falando em CDs, há a série completa das 'Cartas Celestes', de Almeida Prado, por Aleyson Scopel; as obras para trio para piano, violoncelo e violino de Gnatalli pelo Trio Puelli; as 'Valsas brasileiras' de Mignone com Edelton Gloeden; a América redescoberta pelo violonista Fabio Zanon; as 'Imagens do Brasil' recolhidas pela pianista Erika Ribeiro e a violinista Francesca Anderegg; a investigação do repertório para violino e voz, com Manuela Freua e Emmanuele Baldini, com direito a encomendas de obra– prática que no trabalho de jovens instrumentistas tem se tornado cada vez mais frequente.

Nas "temporadas internacionais", houve Jonathan Nott, Yuja Wang, Filarmônica de Dresden, Anna Netrebko, Jan Lisiecki. A lista ostentação de sempre, fundamental. Mas é importante também que o Mozarteum siga com seus trabalhos pedagógicos. E que a Cultura Artística esteja reforçando um papel que já foi seu historicamente, filiando-se a projetos como a Camerata Aberta, que ajudou a ressuscitar em 2018, os Músicos de Capella (com Luis Otávio Santos) ou o Festival Ilumina, exemplo, ao lado do Encontro Campestre de Violas ou do Seconde, de projetos pedagógicos de tom mais humanista, em que a música como fruto do diálogo é ponto de partida e não apenas consequência ou, pior, discurso. Com outra história e proporção, o Festival de Inverno de Campos do Jordão atingiu mais uma vez, com sua orquestra de bolsistas, resultados memoráveis, mas articulou abertamente a ideia de que o festival de Campos funciona melhor em São Paulo. Em 2019, o evento completa 50 anos – talvez seja o caso de refletir à luz dessa narrativa curiosa seu futuro.

A questão da formação é importante. Os festivais fazem seu trabalho, projetos como a Emesp, o Instituto Baccarelli ou o Neojiba estabelecem suas diretrizes próprias, eventos como o Festival Sesc de Música de Câmara apontam caminhos e alternativas. Mas a soma de tudo isso é uma nova geração de músicos extremamente bem preparados tecnicamente, mas que em um cenário de cortes de verbas e reduções estão com toda razão preocupados com o seu futuro. Formar um músico hoje talvez signifique investir também na preparação de profissionais que consigam enxergar novos mercados, novas possibilidades de atuação, novos campos e espaços a serem desbravados, distantes dos passos muitas vezes lentos e amarrados das grandes instituições. Mas, em um meio musical como o nosso, em que historicamente toda a verba pública e privada ronda em torno dessas instituições, públicas por sinal, será que não caberia a elas ajudar essa nova geração nesse processo de descoberta e reinvenção do cenário, abrindo seus espaços, possibilitando com suas estruturas alguns primeiros passos? Justo, estão todas elas preocupadas com sua própria sobrevivência. Mas seria loucura imaginar que o diálogo com novas gerações (e não a imposição de modelos) em busca de ideias novas poderia ser benéfico também para todos.

Ópera. Em Manaus, o Festival Amazonas começou a retomar a velha forma, com cinco títulos, e um Fausto de enorme qualidade (Luiz Malheiro/Heller-Lopes). De lá também partiu um movimento importante, com a produtora Flávia Furtado encabeçando uma discussão sobre a ópera à luz da economia criativa, tentando mostrar como o gênero se insere em uma cadeia de produção muito maior do que normalmente se imagina.

Em Belém, o Festival do Theatro da Paz lutou bravamente apesar da redução de verbas, com 'Um baile de Máscaras', de Verdi (Mauro Wrona/Campos Neto). Em São Paulo, o Teatro São Pedro ofereceu uma temporada consistente, diversificada, em que Alcina, de Händel (Otavio Santos/William Pereira), Katia Kabanova, de Janácek (Ira Levin/Heller-Lopes) e Sonho de uma noite de verão, de Britten (Claudio Cruz/Jorge Takla), foram destaques. No Rio Municipal virou símbolo do abandono da cultura na cidade: um ilusório ano de nove óperas foi anunciado pelo governo e pela direção da casa, mas se liquefez, reduzindo-se a uma produção.

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Em São Paulo, a situação artística é melhor. O Municipal produziu quatro títulos: uma Traviata, de Verdi, de referência (Takla/Roberto Minczuk), para ficar anos no repertório (se isso existisse por aqui); um Cavaleiro da Rosa, de Strauss (Pablo Maritano/Minczuk), e um Pelléas e Mélisande, de Debussy (Iacov Hillel/Alessandro Sangiorgi) desiguais e uma Turandot entre onírico e o real para encerrar o ano (Heller-Lopes/Minczuk).

A notícia amarga diz respeito ao imbróglio em que o teatro entra em 2019, sem temporada anunciada e sem que saibamos quem será responsável por ele, com uma confusão de atribuições e uma ingerência do poder público que já se mostraram pouco produtivas. Não é a primeira vez - e, enquanto o modelo de gestão não for repensado, não será a última.

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