Rita Lee iria achar o máximo se alguém resolvesse usar sua imagem com técnicas de Inteligência Artificial. Uma das únicas pessoas que podem afirmar isso, e, ao Estadão, afirma, é o músico que esteve a seu lado nas últimas quatro décadas, Roberto de Carvalho.
Questionado sobre os argumentos de pessoas contrárias ao recente uso da imagem de Elis Regina em um comercial da Volkswagen, dizendo que o próximo passo seria colocar Rita para vender pipoca no escurinho do cinema, ele diz, sorrindo: “Tomara”. Roberto não condena e diz saber que sua ex-mulher também não condenaria tal uso: “Eu consigo ver uma imagem de Rita assim com a maior tranquilidade. Ela amava essas coisas.”
Assuntos que ligam tecnologia a avanços de possibilidades humanas, lembra Roberto, eram uma paixão da cantora. “O papo com Rita era muito sobre extraterrestres, ela tinha essas imagens de aviões e foguetes decolando para o espaço como algo ultrapassado. Quando entrávamos em um voo, ela dizia: ‘Que coisa mais da Idade da Pedra’. E sorria”
Mas é preciso ter coerência, ele também diz. Usos de imagens póstumas seriam válidas, mas desde que elas não ferissem o pensamento de quem não está mais aqui para questionar. Se Elis apareceu coerente cantando Como Nossos Pais, toda sorridente, em uma propaganda de uma fábrica de automóveis, pode haver controvérsias sobre as quais Roberto prefere não opinar.
E se o mesmo acontece com Johnny Cash, que acaba de surgir cantando uma versão da improvável e idiotizante Barbie Girl – isso mesmo, a ideia é você se espantar, o susto é a alma do negócio das almas artificiais –, ele também não se coloca na posição de juiz. O que parece fato é que a pós-vida nem sempre está relacionada com a vida, mas será cada vez mais usada. Roberto lembra de uma frase de Rita na canção Me Recuso: “Brinque de ser sério, e leve a sério a brincadeira”
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