Rock in Rio 2022: entre o velho, os 'testes de fogo' e algum frescor

Festival se prepara com shows ‘vitalícios’ de Iron Maiden e Ivete Sangalo, novatos como Jovem Dionísio e titãs do pop, como o Coldplay, em 560 horas de música

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Foto do author Julio Maria
Atualização:

As peças estão colocadas mais uma vez no tabuleiro do Rock in Rio, um jogo cada vez mais difícil se de jogar. Artistas e bandas que já foram muitas vezes a um dos palcos da Cidade do Rock dividem o line up, que será visto entre os dias 2 e 11 de setembro, com outros bem mais jovens que estarão ali pela primeira vez, e estreando diante de uma multidão. Outros ainda, de uma camada intermediária, mais rara, chegam em momentos altos de suas carreiras, prontos para serem os “cabeças de chave” de algumas noites. Como isso é composto? Fruto do "sim" daqueles quem têm agendas disponíveis? Ou de algo arquitetado para equilibrar uma balança de três pesos?

Iron no Rock in Rio de 2013: 'metal vitalício' Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Ao Estadão, o criador do Rock in Rio, Roberto Medina, diz que há estudos feitos pela produção para saberem quais atrações são compatíveis com a demanda dos fãs. Mas diz também que sim, levantar um elenco para sete dias de shows é contar com uma coleção de fatores: preço dos cachês, agenda e o “sim” dos artistas. “Alguns, que não precisam mais estar na estrada e não fazem mais shows por dinheiro só aceitam por razões pessoais”, diz. E estar no Rio, e no Rock in Rio, ainda é um atrativo que os convence.

Medina conta que quase trouxe o Queen com Adam Lambert para esta edição. “É o tipo de show que vai sempre lotar. Ainda estou atrás deles, sei que terão uma turnê pelos Estados Unidos, por isso não puderam.” O show que o grupo fez na edição de 2015, com Lambert, foi considerado por muita gente como o melhor do ano. Sem falar na noite de estreia do evento, em 1985, quando a banda veio com o próprio Freddie Mercury para fazer uma das noites mais emblemáticas da história do festival.

Na esfera dos testes de fogo, os shows que podem consagrar ou enterrar grupos com muitos seguidores mas pouca estrada estarão no Sunset. Criado para levar à Cidade do Rock atrações que poderiam não ser consideradas blockbuster a ponto de lotar a pista do palco principal, o Sunset foi se tornando sensação. Quem passa por lá, e que merece ser visto sob a perspectiva da chegada a um público para além da bolha, são os rappers Xamã com o grupo de artistas indígenas do Mato Grosso do Sul, Brô MCs (3 de setembro); Matuê (4 de setembro), Jão mais convidado (9); Duda Beat (8);  Banda Bala Desejo (10); e, no mesmo dia, no Palco Supernova, os curitibanos da Jovem Dionísio, grupo que surgiu este ano com o efêmero sucesso de Acorda Pedrinho. Uns mais, outros menos, mas sobretudo Jovem Dionísio, terão olhos talvez um pouco críticos acompanhando suas performances.

Medina diz que não teme pelo possível mal desempenho de alguns grupos. “Há ali uma quantidade muito grande de atrações, com um aplicativo de celular dizendo o que está acontecendo nos outros palcos o tempo todo. As pessoas vão estar de bem com a vida por estarem vivendo uma experiência positiva”. As vaias, de fato, nunca mais foram ouvidas no Rock in Rio ou em outros grandes festivais, como Lollapalooza e o antigo Planeta Terra, há pelos menos dez anos. A geração que cancela não vaia, mas cancela. Seria então um risco silencioso cantar para eles? Vale lembrar que, para além das 70 mil pessoas que devem passar por dia pela Cidade do Rock, muitas outras assistirão aos shows pela TV. Em 2019, Ney Matogrosso cantou naquele espaço ao lado do grupo Nação Zumbi e o que se viu pela TV, e que poucos perceberam na Cidade do Rock, foi um desencontro vocal cheio de ruídos entre Ney e o vocalista do Nação, Jorge Du Peixe. E ali ninguém era jovem.

Ivete Sangalo, em 2013 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Alguns artistas podem ser considerados atrações vitalícias. Além do campeão Iron Maiden, que vem para sua quinta participação no festival (as anteriores foram em 1985, 2001, 2013 e 2019), Ivete Sangalo, Maria Rita, Sepultura e Capital Inicial, todos no line up deste ano, são velhos frequentadores. Medina assume que não vê problemas no alto índice de reincidência de sua programação. “As pessoas esgotam os ingressos mesmo sem saber quem vai cantar. Elas vêm pela experiência.” Mas há também, dentro desse grupo, alguns artistas que representam um alto nível de estrago previsível. O Guns ‘N’ Roses, de Axl Rose, é um deles. Imagens de shows recentes mostram uma voz bem prejudicada. E Axl sem voz equivale a Slash sem guitarra. Mas, acredita Medina, nada disso importa. O fã que é fã mesmo, diz ele, quer ver seu ídolo, esteja ele como estiver. “Quando eu trouxe o Frank Sinatra ao Brasil (em janeiro de 1980, para ser visto por 175 mil pessoas no Maracanã), me diziam muito que ele não estava legal para cantar. E foi como foi. O Guns e algumas outras bandas sempre vão agradar. Os fãs não ligam para isso, eles vão ver os caras conforme foram introjetados em sua cabeça.”

As joias da Cidade do Rock, aquelas atrações que conseguem trazer frescor, relevância e timing, são poucas, mas suas presenças salvam o Rock in Rio de se tornar, ao menos no palco, um festival de tiozinhos. São ótimas as presenças de Maneskin, a banda de rock italiana, de Roma, que toca no Palco Mundo, dia 8; o Coldplay, um sucesso de calda bem longa que deve fazer um dos maiores shows deste ano, no dia 10; a filha de cubanos Camila Cabello, que antecede ao show do Coldplay; e o trio do dia 11, Rita Ora, Megan Three Stallion e Dua Lipa – depois de uma abertura um tanto anacrônica de Ivete Sangalo. “Eu quis muito que o Maneskin estivesse neste ano”, diz Medina. “E lutei muito para trazer o Coldplay.” Das peças todas trazidas na história do Rock in Rio, apenas um gênero popular brasileiro ainda não foi contemplado, o sertanejo. Medina acredita que esse não é um seguimento que precise do Rock in Rio, mas não descarta uma aproximação. “Eu penso muito nisso, mas seria mais para fazer a programação do (festival) The Town, em São Paulo, no ano que vem.”

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Dua Lipa em show de 2019: timing certo Foto: REUTERS/Hannah McKay
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