Rolando Boldrin, um cantador e seu saboroso álbum de preciosidades

No novo disco 'Lambendo a Colher', o músico Boldrin mostra canções inédtias e regrava 'Mariana e o Trem de Ferro'

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Lamber a colher é uma imagem prazerosa, caseira, íntima, como quem saboreia um doce até se lambuzar, até o último bocado. Ao escolher um título como esse para seu novo álbum de canções, Lambendo a Colher (Selo Sesc, R$ 20) Rolando Boldrin quis passar justamente essa ideia. Há um misto de lembrança da juventude e sabor de novidade, mas como ele mesmo confirma, não há raspa de tacho de saudosismo. O símbolo que prevalece é o da preciosidade.

Capa do disco 'Lambendo a Colher', de Rolando Boldrin Foto: Reprodução

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Desde o primeiro “disco grande” (como ele costuma chamar os LPs), lançado em 1974 (O Cantadô), Boldrin gravou mais de 170 canções, entre moda de viola, partido-alto, samba rural, capoeira, toada e outros ritmos. Lembra que Artur da Távola falou certa vez sobre seu programa de TV, que “o que não morre com modas e modismos moderno é”. O novo CD de Boldrin (que também vai sair em “disco grande”) é coerente com essa impressão do jornalista, escritor e radialista.

Das dez canções, há três de autoria dele, as inéditas A Moda do Invejoso e o samba Maria Isabel, e a regravação de Mariana e o Trem de Ferro, lançada em 1974. De Noel Rosa, além da inédita em disco O Tal da Barata, há outra cuja letra é atribuída a ele pelo parceiro Hervê Cordovil, Vila Isabel do Espaço. Cordovil, que dividiu alguns clássicos com o Poeta da Vila, contou para Boldrin há mais de 50 anos, que “recebeu” essa letra do ex-parceiro morto e quando a cantora Vera Maria gravou a canção em 1961, num disco de 78RPM, ele fez questão de colocar no selo do disco “letra psicografada de Noel Rosa, música de Hervê Cordovil”.

O cantor, ator e apresentador de TVRolando Boldrin Foto: JF DIORIO /ESTADÃO

Buscar o lado obscuro do cancioneiro de compositores célebres é um dos fatores que contribuem para dar um ar de novidade. Não importa que as canções sejam antigas: pouca gente há de lembrar de Isso Eu Não Faço, um Tom Jobim da pré-bossa nova, Canção Primeira, de Geraldo Vandré, e Quem Me Compreende, de Ary Barroso e Bernardino Vivas. Essa nem Boldrin sabia de quem era. “Aprendi com 16 anos, fazendo serenata. Aquilo ficou na minha cabeça. Nem sabia que era de Ary”, conta Boldrin. Outra raridade, De Maracangalha Chega (Dunga) é uma resposta bem-humorada ao clássico de Dorival Caymmi. A mais conhecida é a que encerra o disco, Romance de Uma Caveira, clássico de Alvarenga e Ranchinho em parceria com Chiquinho Sales.

Algumas dessas canções, ele já vinha interpretando vez ou outra em seus programas. Porém, embora a viola fale alto em seu peito humano, o cantador optou por arranjos que contrastam com esse padrão. Em Moda do Invejoso, ele canta acompanhado apenas do piano de Nelson Ayres (também o arranjador) e do da flauta de Teco Cardoso. Canção Primeira só tem o violão de Luca Bugarini. As demais foram arranjadas por Edson Alves. Entre os músicos que o acompanham, há nomes como Proveta (clarineta e sax), Edmilson Capelupe (violão de sete cordas), Milton Mori (cavaquinho e bandolim) e Jorginho Neto (trombone). É um bela síntese da bandeira levantada por Boldrin nessa longa estrada da arte musical brasileira – que, por ele, está longe de chegar ao ponto final.

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Confira faixa a faixa o novo disco de Boldrin:

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