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Sérgio Mendes, músico que popularizou a bossa nova no mundo, morre aos 83 anos

O pianista, conhecido por sua versão para ‘Mas Que Nada’, fez parcerias com nomes como Carlinhos Brown e Wiil.i.am. De acordo com comunicado emitido pela família, Mendes sofria de complicações de covid longa

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

Morreu nesta quinta-feira, 5, o músico brasileiro Sérgio Mendes, aos 83 anos, em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde vivia. A informação foi confirmada ao Estadão por familiares de Mendes.

Um comunicado publicado no perfil do músico no Instagram diz que Mendes morreu “pacificamente” ao lado da mulher, a cantora Gracinha Leporace, com quem era casado há 54 anos, e de seus filhos. De acordo com o texto, Mendes morreu devido a complicações de “covid longa”.

As últimas apresentações de Mendes ocorreram em 2023, em Paris, Londres e Barcelona.

Sergio Mendes morreu aos 83 anos Foto: KATSUNARI KAWAI

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Mendes nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e começou a carreira no início dos anos 1960, estmulado pela bossa nova. Apresentou-se no Beco das Garrafas, uma viela no coração de Copacabana, no Rio de Janeiro, local que concentrava casas noturnas com shows de bossa nova. Por lá, também passaram nomes como o cantor Wilson Simonal, as cantoras Elis Regina e Leny Andrade e o bailarino americano Lennie Dale.

Formou o Sexteto Bossa Rio, conjunto que incluía os músicos Paulo Moura (sax), Pedro Paulo (pistom), Octávio Bailly (contrabaixo), Dom Um Romão (bateria) e Durval Ferreira (violão), e logo começou a excurisonar pela Europa e Estados Unidos. Foi com o sexteto que ele participou do histórico concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. Um dos números que eles apresentaram foi Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim.

Foi Jobim, aliás, quem fez os arranjos do disco Você Ainda Não Ouviu Nada, lançado por Mendes em 1964 com versões de samba jazz para canções como Ela É Carioca, Desafinado, Garota de Ipanema e Nanã.

Nesse mesmo ano, Mendes fixou residência nos Estados Unidos, após, segundo ele contava, ter sido convocado para dar um depoimento ao governo militar. Logo em seguida, lançou o lendário grupo Sérgio Mendes & Brasil 66, que teve como uma das vocalistas, a partir de 1970, a cantora Gracinha Leporace, com quem Mendes era casado até os dias de hoje.

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A parceria com Jobim foi repetida no disco The Swinger From Rio, de 1965, que trouxe mais uma versão para Garota de Ipanema, agora creditada com o título em inglês, The Girl From Ipanema, e Favela, adaptação para O Morro Não Tem Vez, de Jobim e Vinicius de Moraes.

Reconhecido com grande pianista e arranjador, Mendes começou a trabalhar com músicos internacionais, entre eles, Clare Fischer, Bob Florence, Richard Hazard, Dave Grusin e Joe Mondragon.

Ganhou fama ao lançar sua versão para Mas Que Nada, de Jorge Ben (Jor), no disco Herp Albert presents Sergio Mendes & Brasil 66, com uma mistura de bossa, jazz e ritmos latinos. Décadas mais tarde, em 2015, gravaria uma nova versão acompanhado pelo rapper americano Wiil.i.am, do Black Eyed Peas, já com elementos mais contemporâneos, como o reggaeton.

Outra gravação famosa de Mendes era The Fool On The Hill, dos Beatles, em ritmo de samba. A faixa de 1968 recebeu elogios de Paul McCartney. Mendes foi indicado seis vezes ao Grammy, inclusive por essa versão, mas o músico ganhou o prêmio apenas em 1992, pelo álbum Brasileiro, que traz a canção Magalenha, de Carlinhos Brown.

Outra parceria de sucesso com Brown foi a canção Real in Rio, tema da animação Rio, de Carlos Saldanha. A gravação foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original em 2012. O prêmio, no entanto, foi para Man or Muppet, tema de Os Muppets.

Na televisão americana tocou ao lado de nomes como Jerry Lewis, Red Skelton, Fred Astaire, Danny Kaye e Frank Sinatra. No início dos anos 1970, tocou na Casa Branca durante o governo de Richard Nixon. Posou ao lado de Elvis Presley e ficou amigo de Harrison Ford depois que o ator, na juventude, trabalhou como carpinteiro na construção de um estúdio na casa de Mendes.

Em 1979, produziu um disco do jogador Pelé. Com os brasileiros, também trabalhou com Pery Ribeiro, Carlos Lyra, Rosinha de Valença e Gilberto Gil.

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Mendes lançou discos regularmente durante as décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000, totalizando cerca de 35 trabalhos. Eventualmente, apresentava-se no Brasil, País onde nunca voltou a morar. No revéillon de 2006/2007 fez um concerto na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Em 2015, esteve na programação do Rock in Rio e chamou Brown ao palco na hora em que tocou Mas Que Nada.

Mendes também investiu no Brasil como empresário. Em 1974, abriu na Rua Augusta, em São Paulo, a primeira loja da rede KFC, franquia de frango frito, do qual ele era um dos investidores. Na época, entrevista ao Jornal da Tarde, o músico afirmou que essa era uma maneira dele “participar ativamente da vida dos dois países”.

Em 2006, lançou o álbum Timeless, no qual se conectou com as novas gerações. Além da participação do Black Eyed Peas na faixa Mas Que Nada e de Will.i.am em The Heat e The Frog, de João Donato, o disco traz nomes como Erykah Badu, Jill Scott, John Legend, Marcelo D2, Guinga e Justin Timberlake.

O documentário Sérgio Mendes: No Tom Da Alegria, lançado em 2021, contou a vida e carreira do músico e trouxe depoimentos de artistas como Quincy Jones, John Legend, Harrison Ford e Pelé. Dirigido por John Scheinfeld, o filme destaca o lado alegre e colorido de Mendes ao retratar a música brasileira, algo que sempre foi alvo crítica por parte de seus conterrâneos, que muitas vezes o acusaram de estereotipar o Brasil e fazer música para “gringo ouvir”.

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