Morreu aos 56 anos a cantora irlandesa Sinéad O’Connor, informou nesta quarta-feira, 26, a agência de notícias Reuters. Ela foi alçada ao estrelato como intérprete da música de Prince Nothing Compares 2 U. A causa da morte ainda não foi divulgada.
De acordo com a BBC, a família da cantora comunicou a morte em uma nota. “É com grande tristeza que anunciamos o falecimento de nossa amada Sinéad”. O mesmo texto pede discrição. “A família e amigos estão arrasados e pediram privacidade nesse momento tão difícil.”
Por décadas, a cantora irlandesa falou abertamente sobre a luta que travava contra doenças mentais.
Um ano atrás, o filho dela, Shane, de 17 anos, cometeu suicídio após fugir do hospital em que estava sob observação justamente para evitar que atentasse contra a própria vida. Na ocasião, ela cancelou todos os shows do ano por causa da perda.
Esta não foi a única tragédia que a cantora enfrentou durante a vida. No livro Rememberings, de 2021, ela falou sobre a infância traumática e violenta. De acordo com a revista People, após os pais se divorciarem quando criança, a mãe dela Marie “não estava bem” e a espancava diariamente, por vezes no abdome.
“Minha mãe tinha essa obsessão de destruir meu útero”, disse a cantora à publicação.
O estilo vocal único de Sinéad O’Connor, próximo da música celta, marcou os anos 1990 e influenciou diversos artistas. À Rolling Stone, Alanis Morissette contou que a música de O’Connor foi “realmente emocionante para mim, e muito inspiradora, antes de eu escrever Jagged Little Pill”.
Vida e carreira
Sinéad O’Connor nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1966. A cantora começou a carreira musical em 1987, com o álbum The Lion and the Cobra, tendo se apresentado, nessa época, em diversos países da Europa, ganhando visibilidade e alguma notoriedade.
Foi seu segundo trabalho, o disco I Do Not Want What I Haven’t Got, de 1990, que garantiu à cantora uma carreira internacional. É nele que está seu maior hit, Nothing Compares 2 U, composta por Prince. A canção fez com que o álbum atingisse a primeira posição entre os mais vendidos em inúmeros países. E o vídeo da música no YouTube tem quase 400 milhões de visualizações.
Em 1992, a cantora lançou o terceiro álbum de estúdio, intitulado Am I Not Your Girl?. Foi neste mesmo ano que a carreira ficou marcada por uma polêmica. O’Connor rasgou uma foto do papa João Paulo II durante uma apresentação no Saturday Night Live, em que cantou a música War, que critica preconceitos e desigualdades sociais.
A cantora, que já tinha relatado professar a fé católica, disse ter rasgado a foto do papa em protesto contra as denúncias de abuso sexuais a clérigos da Igreja. Na época, a instituição passava por uma crise, com bispos e membros do alto escalão do Vaticano sendo denunciados.
Essa não foi a única vez em que a artista se envolveu com uma crise na Igreja Católica. Em 1999, ela foi nomeada sacerdotisa da Igreja Independente Católica, na França. A cantora foi excomungada e sua ordenação revogada, já que a Igreja Católica não permite que mulheres sejam sacerdotisas.
Sua carreira musical ainda inclui o álbum Universal Mother, lançado em 1994, que contém a faixa Fire On Babylon, que fala sobre abuso sexual infantil. Em seguida, veio o EP Gospel Oak, que tem seis músicas dedicadas aos povos de Ruanda, Israel e Irlanda.
Depois de uma pausa na carreira, em 2000, lançou ao disco Faith and Courage, dois anos mais tarde, foi a vez de Sean-Nós Nua, que traz canções folclóricas irlandesas. Em 2003, lançou She Who Dwells in the Secret Place of the Most High Shall Abide Under the Shadow of the Almighty, um disco duplo coletânea com um registro ao vivo e outro com faixas raras e covers.
Seus últimos três álbuns são Theology, de 2007, How About I Be Me (And You Be You)?, de 2012 e I’m Not Bossy, I’m the Boss, de 2014, seu último lançamento, que acabou recebendo boas críticas, mas não chegou a estourar como seus primeiros hits.
Em 2018, a cantora se converteu ao Islamismo e também revelou ter mudado de nome, passando a chamar-se Shuhada’ Davitt. No mesmo ano criou mais polêmica ao dizer que não queria mais estar perto de pessoas brancas. “Em momento nenhum, por razão nenhuma. São nojentas”, disse em uma publicação no Twitter. No ano seguinte, ela chegou a acusar Prince de ter tentado agredi-la.
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