T. Greguol une a rigidez da matemática com a liberdade criativa em álbum instrumental

Com a colaboração de 26 compositores, um matemático e um teorema, artista paulistano cria fórmula que homenageia os processos criativos e o descobrimento de novas ideias

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Foto do author Elton Félix
Atualização:

Um teorema matemático, responsável por impor uma estrutura rígida para composição musical, determina quando e por quanto tempo cada músico deve tocar, sem restringir a natureza da sua contribuição.

Foi assim que o artista paulistano Térsio Greguol, conhecido como T. Greguol, traduziu o álbum instrumental BUM, uma homenagem aos processos criativos e às ideias que se formam gradualmente e, repentinamente, aparecem prontas em sua mente.

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O projeto conta com a participação de 26 instrumentistas, cada um trazendo a própria essência para a obra, sem receber instruções sobre o que criar, incentivando a improvisação e a descoberta contínua. A primeira faixa do álbum soa como uma trilha sonora de múltiplos atos. As faixas seguintes são dedicadas a um instrumento específico: bateria (Tum), baixo (Bdu), guitarra (Bléin), piano (Plim).

Entre os nomes convidados por T. Greguol, estão Chico Macedo, músico de jazz; Éric F. Yoshino, que já concorreu ao Grammy; o baterista do cantor Tom Zé, Lauro Lellis; o sitarista Krucis Khan; a violinista Mariana Rennó Jelen; o artista plástico Paulo Nenflidio com seu instrumento original Bicórdio Infinito, e o cantautor Tatá Aeroplano.

O processo de gravação foi cuidadosamente planejado para preservar a originalidade de cada contribuição. Iniciado a partir de uma base de bateria inspirada no free jazz, escolhida pela capacidade de compreender diferentes estilos musicais sem impor uma direção específica.

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Cada músico subsequente adicionou sua parte sem conhecer completamente o que havia sido feito antes. “Dessa forma a música se desenvolve organicamente, com uma camada se construindo sobre a anterior, resultando em uma composição coletiva”, ele explica.

Artista e músico paulistano T. Greguol, 46 anos, soma mais de 20 anos de carreira entre a poesia, musica e arte abstrata. Foto: Lainy Cherry

A arte da matemática

É possível observar a relação estabelecida entre a arte e a matemática como fonte de proporção e harmonia desde antiguidade. Anos mais tarde, obras do italiano Leonardo da Vinci também marcaram tal união, observada especialmente em ilustrações do livro A Divina Proporção, de Luca Pacioli, e o conhecido Homem Vitruviano.

Na literatura, o trabalho do francês Georges Perec, cujas obras são permeadas por aspectos matemáticos, as restrições, regras de proporções, subtrações e até a possibilidade de leitura reversa de seus textos são inspirados em elementos matemáticos para a construção de narrativas que refletem a complexidade estrutural da vida humana.

Não muito distante dessa relação entre os números e a arte, o matemático e cientista de dados, David Cecchini, foi o responsável por traduzir as ideias, restrições e regras presentes na mente de T. Greguol para a linguagem das exatas.

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Os dois se conheceram durante a infância, em um colégio com pedagogia Waldorf, que tem como uma das bases o desenvolvimento artístico dos alunos. “Nosso colégio enfatizava bastante as artes, incluindo a música, como parte essencial da educação. Apesar dessa influência, desenvolvi um interesse especial pela matemática, pela forma como era ensinada, com elementos lúdicos e históricos, indo além dos números e fórmulas”, conta Cecchini.

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Conforme trocavam informações, os amigos perceberam que a composição não caberia apenas em uma equação, mas sim em um teorema, o qual chamaram de “Teorema de BUM”. T. diz que a fórmula criada a quatro mãos pode servir como um modelo para criar outras músicas, que, embora sigam as mesmas regras, resultarão em obras distintas.

Cecchini criou o que em sua área é chamado de modelagem matemática. E isso envolve converter sistemas ou fenômenos em fórmulas. Para ele a regra desenvolvida é mais do que um simples teorema que representa a concepção de uma ideia.

“Não se trata de um software ou um dispositivo que executa tarefas automaticamente, ele foi criado para estimular o processo criativo. Ao inserir condições nesse sistema, por assim dizer, o artista participa ativamente, girando e moldando o desenvolvimento. Ao meu ver, essa capacidade de engajamento e criação é algo que, até o momento, as máquinas ainda não conseguiram replicar”, diz o matemático.

Trabalho instrumental

O álbum idealizado por T. faz parte de um momento específico em sua carreira, no qual ele diz ter sentido a necessidade de criar com abstração, sem o uso figurativo das palavras. O artista cresceu em um lar de seis pessoas, onde a televisão era dispensável e a música estava sempre presente. Seus pais e seus irmãos mais velhos, com seus diversos gostos musicais, foram as primeiras referências para ele e sua irmã gêmea.

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Após a publicação de um livro de poesia em 2002, T. Greguol quis explorar novas formas de expressão artística. Transformou alguns dos seus textos em músicas, com a ajuda de amigos e atores de teatro. “Foi quando percebi que, das 60 poesias do livro, apenas as oito que foram convertidas em músicas e incluídas em um CD eram conhecidas”, relembra.

O caminho o levou a formar a própria banda, Catarse, cuja carreira de quase uma década incluiu quatro álbuns, turnês e participações em programas da MTV. Em 2009, com o fim do grupo, T. decidiu pausar a música.

Eventualmente, T. percebeu como a trajetória como músico se envolveu em uma luta contra o uso figurativo das palavras. Decidiu que seu próximo trabalho seria livre delas. Assim, iniciou a coleção Silêncio, focada em artes plásticas. “São quadros que não tem nada figurativo, não tem palavras, não tem imagens, nada. É só abstração pura. E tomado por esse espírito de abstração, me veio a ideia de fazer o disco de música instrumental”, conta.

Atualmente, o artista diz querer criar algo novo e inovador, que não seja necessariamente popular ou para o mercado. “Passei a ver a música e as artes plásticas de forma diferente, focando no que aprecio nelas. Percebi que valorizo a inovação, pois repetir o mesmo processo impede a evolução da arte, de criar algo novo, e a torna sem sentido. Não estou dizendo que sou do futuro, mas tem coisas que demoram para as pessoas entenderem. É isso, eu gosto de trazer novidades para as pessoas”, analisa.

Ouça ‘BUM’, de T. Greguol:

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