Quando sentou com o violão no colo para a sessão de fotos do Estado, Tatá Aeroplano começou a brincar com as composições feitas como Frito Sampler, uma das muitas personalidades artísticas que ele assume – nessa, ele cria e canta músicas cujos versos são criados com palavras desconexas, algumas nem sequer discerníveis. E, enquanto posava, passou a compor uma música. Ao fim da sessão, já tinha uma composição completa e nova para Frito gravar, quem sabe, em seu terceiro e ainda não planejado disco. “É interessante perceber que, hoje, quando eu quero fazer algo como o Frito, eu sou capaz de entrar de vez. Isso só é possível com muita disciplina”, diz o artista que comemora 15 anos de carreira em 2017.
Tatá não sabe exatamente o que fará com a música criada ali, mas a experiência lhe mostrou exatamente o que o artista se propõe ao iniciar um novo projeto no espaço cultural Centro da Terra (Rua Piracuama, 19, Sumaré), idealizado pelo novo curador, o jornalista, entre tantas coisas, Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo– www.trabalhosujo.com.br.
A partir desta segunda-feira, 6, e em todas as segundas do mês de março, sempre às 20h, Tatá apresentará uma faceta artística diferente. Do seu projeto como Frito Sampler, que inaugura a temporada, à apresentação do trabalho como artista solo, cujo terceiro disco, Step Psicodélico, foi eleito um dos melhores de 2016, que encerra o ciclo, no dia 27. A temporada ainda inclui a apresentação ao lado da cantora e compositora Bárbara Eugênia (dia 13), em uma prévia do álbum que a dupla lançará neste ano, e uma performance do Zeroum, duo de Tatá com Paulo Beto com forte inclinação à música eletrônica alemã dos anos 1970.
Hoje um artista completamente independente, Tatá distribui os próprios discos – é ele quem envia, pelos Correios, cada álbum comprado em seu site – e todos estão disponíveis para download gratuito. Essas tantas personalidades artísticas ajudam a fazer seu material circular e encontrar diferentes ouvidos. “Entendo o nosso trabalho como de um agricultor. Cada disco é uma safra”, diz.
‘É um espaço para o artista se exercitar’, explica curador
Chamado para cuidar das atrações musicais do espaço cultural Centro da Terra, o jornalista Alexandre Matias passou a conversar com artistas independentes para entender a necessidade da classe. “Os artistas têm a necessidade de algo assim”, explica ele. “A ideia era fazer shows não convencionais, que não pudessem ser vistos em outras casas de São Paulo. Por isso, propus que pudéssemos ver quatro pontos de vista diferentes de cada artista.”
Recentemente chamado para ser também o curador de música do Centro Cultural São Paulo, Matias vê nesse local às segundas-feiras “um espaço para o artista exercitar a necessidade e a vontade de fazer arte”. “E não só ficar pensando em como pagar as contas”, ele acrescenta.
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