A presença menor de cambistas, com detenção de duas pessoas pela Polícia Civil, foi a atmosfera do último dia de fila para compras de ingressos do show de Taylor Swift, em São Paulo. A venda geral para as datas extras da The Eras Tour começaram nesta quinta-feira, 22, às 10h.
O feito é consequência dos protestos dos fãs e da ação policial e do Procon na porta da bilheteria nos dias anteriores.
De acordo com o delegado da Polícia Civil, Paulo Alberto, os dois suspeitos foram identificados na fila sem conseguir comprovar titularidade de cartão ou o destino do ingresso. “Um deles admitiu que estaria recebendo R$ 200 para poder comprar e repassar para uma pessoa”, diz o agente.
Entenda o fenômeno
Desde a noite desta quarta-feira, 21, o clima era de tranquilidade entre os que acampavam esperando a chance de comprar um ingresso. Alguns revezando lugar ou virando madrugadas na fila no Allianz Parque desde o começo da semana, elogiaram o novo esquema da organização.
Nos últimos dias, foram distribuídas senhas intransferíveis, com registro do CPF de casa fã. Os relatos de expulsão de cambistas e de conflitos ficaram muito mais escassos que nas outras levas de vendas.
A presença dos agentes públicos também fez diferença. Por volta das 9h da manhã desta quinta-feira 25 viaturas da Polícia Civil e três da Procon chegaram ao local para fiscalizar as vendas. “Muita gente deixou a fila. Houve uma debandada com a nossa chegada”, conta Paulo Alberto.
Comércio clandestino de vagas
Os relatos de compra de vaga também diminuíram. Em outros dias, o tema era quase tabu. E nesta quinta as pessoas ficavam desconfiadas quando o assunto era trazido à tona. A maioria negava ter visto este tipo de comércio na fila, mas suspeitas existiam.
A cultura de compartilhamento de lugares e revezamento é baseada nas relações entre os fãs e amizades, geralmente de longa data, estabelecidas entre eles. A bióloga, Beatriz Nunes, veio de Campinas só para tentar a sorte. E diz que presenciou uma troca no mínimo questionável.
Segundo ela, uma garota chegou para ocupar um lugar em uma barraca, mas parecia não conhecer ninguém que já estava lá. Por isso a desconfiança. “Acho que ela comprou a vaga dela. O assunto, as conversas na barraca, era de quem não se conhecia. Não ouvi negociar valores, mas pareceu compra de vagas”, diz Beatriz.
Do mesmo grupo que Beatriz, a biomédica, Jéssica Mayumi Yuzawa, considera que os novos procedimentos adotados para as senhas coibiram a atuação de cambistas. E conta que acredita ter havido desestabilização dos métodos dos criminosos.
“A gente ficou sabendo que durante a noite que antecedeu a pré-venda do final de semana os próprios cambistas entraram em desacordo tiveram algumas desavenças com quantidade de pessoas que eles estavam colocando nos buracos das suas barracas. o castelo de cartas caiu”, afirma Jéssica.
Playlists contra o crime
A polícia não revela abertamente o tipo de estratégia que usa para desmantelar a ação de cambistas na fila. As táticas mais diretas compartilhadas com a imprensa são as conferências de titularidade de cartões e destino dos ingressos, mas não é só isso.
Uma técnica curiosa para identificar os fãs pode ter sido observada por um jovem na fila. O estudante TH, como prefere ser chamado, diz que viu um agente da PC pedir para ver músicas de Taylor Swift no celular de um suspeito.
“O policial chamou a pessoa no canto e queria provas de que era fã. Pediu para mostrar a playlist, cantar alguma música, ou fazer os dois. A playlist não tinha nada. A pessoa começou a se enrolar e o policial mandou ela ir embora por suspeita de ser cambista”, diz o estudante.
O delegado Paulo Alberto diz que nas abordagens, os agentes buscam identificar se a história das pessoas é real. “Aqueles que estão aqui com o objetivo de comprar para terceiros, no meio da história, a gente já consegue verificar tropeços, frases incongruentes, e levanta indício de que esse ingresso vai ser vendido com super ágil”, afirma.
Ameaças de morte
O clima de hoje na região foi exceção. A presença ostensiva de cambistas nas etapas de venda anteriores indignou os consumidores, muitos acampados por dias a fio para garantir um lugar. A Polícia Militar fou chamada e chegou a ir ao local diversas vezes na tentativa de impedir a atuação dos criminosos.
E a reação deles foi violenta. Muitos fãs denunciaram intimidações diversas e vários tipos de ameaças. Há dez dias, a hostilidade beirou até de risco de morte. “Foram ameaças de grupos grandes de cambistas. Eles vinham até a fila, falavam que queriam passar na frente e diziam que se a gente não deixasse hoje seria o último dia de nossas vidas”, disse na ocasião o estudante de enfermagem Luis Felipe Pires.
Agressões também foram prometidas pelos cambistas naquela semana. “Começaram a falar que iam marcar o rosto de quem estava reclamando de eles estarem furando fila e iam bater e roubar o ingresso da pessoa que comprasse”, contou a jornalista Gabriela Ferreira de Souza.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.