Há muitas perguntas a serem respondidas sobre o primeiro final de semana do The Town, festival estreante em São Paulo. Os 100 mil fãs que foram a cada dia ao Autódromo de Interlagos, no sábado, 2, e no domingo, 3 tiveram problemas com transporte, entrada e estrutura do festival. Mas há outra questão sobre o que aconteceu em cima do palco (afinal, é um festival de música): quais foram os melhores e piores shows desta primeira parte do The Town 2023?
O setor artístico foi, sem dúvida, melhor do que o logístico. Nos palcos principais, a lista dos bons shows tem muito mais opções que a dos fracassos. Por isso, neste balanço parcial, o Estadão aponta as cinco melhores apresentações e as duas piores, de acordo com as críticas publicadas ao longo do fim de semana, que podem ser lidas nos links.
A lista segue aberta até a segunda parte do festival, que acontece na quinta, 7, no sábado, 9 e no domingo, 10 (veja a programação).
- Leia aqui como foi o 1º dia e veja mais abaixo, após a lista, o resumo do 2º dia
OS 5 MELHORES SHOWS DO 1º FIM DE SEMANA DO THE TOWN
1 - Bruno Mars
Ainda maior do que era há seis anos, quando esteve no Brasil pela última vez, Bruno Mars chegou validado por superlativos: único artista escalado duas vezes e em dias nobres para a temporada; maior cachê já pago pelo empresário Roberto Medina (calcule todas as atrações das nove edições do Rock In Rio no Brasil e uma outra dezena lá fora); e atração que mais rápido esgotou ingressos.
O grande show de “Bruninho”, como ele mesmo se chamou, em português, ainda teve uma surpresa. Mars toca ao piano Evidências, conhecida com Chitãozinho e Xororó, e deixa a plateia cantar, do início ao fim. Termina sua longa sessão solo e chama a banda de novo para Locked Out of Heaven e Just The Way You Are. Ele volta e finaliza com Uptown Funk! Livre para fazer o que entender, Mars, um pouco por exclusão, um pouco por talento puro, é um dos melhores artistas de sua geração. E fez o melhor show deste festival até aqui. LEIA MAIS SOBRE O SHOW
2 - Post Malone
Post Malone voltou ao Brasil um ano após se apresentar no Rock in Rio. Lá, sozinho no palco, ele usou bastante carisma e apostou em recursos de AutoTune. Agora, tinha uma espécie de dívida a pagar. Faria mais mais um show sozinho em um palco gigante como o Skyline? Não, ele trouxe a banda, uma grande banda, com um baterista gigante, violinista, violoncelista, guitarras e baixo. Post fala bastante com o público, dança desengonçado e usa de muito carisma. É um cara bom de palco, talvez até mais do que de repertório, mas tem uma massa de fãs fiéis que não arredam os pés da frente do palco.Usa a camisa do Brasil e enfileira seus hits alegres. Ele chamou para o palco um fã chamado Daniel - cunhado de Sasha Meneguel - e pediu que ele tocasse o violão. LEIA MAIS SOBRE O SHOW
3 - Matuê
O rapper cearense Matuê é um dos nomes mais significativos do trap nacional – gênero derivado do rap que sobe cada dia mais nas listas de músicas mais ouvidas do País. O título anunciado, Matuê Convida o Nordeste, talvez pudesse indicar que ele faria uma celebração óbvia. Nada disso. Sem pandeiro, zabumba ou sanfona, Matuê mostrou que o nordeste também é plural. É trap. Música urbana e nordestina. Sem preconceitos. Para “deixar a tua cabeça dando um nó”, como ele canta na música Lugar Distante, uma das que estiveram no roteiro. A apresentação de Matuê e a resposta da plateia mostram que o rapper poderia estar no palco Skyline, dedicado aos headliners do festival. LEIA MAIS SOBRE O SHOW.
4 - Ney Matogrosso
Se no dia anterior Ney havia feito uma participação no confuso show de luzes revivendo a abertura do Rock in Rio de 1985, cantando América do Sul, desta vez ele, mais seguro e à vontade, mostrou parte do show Bloco na Rua, lançado em 2019 e retomado após a pandemia. Ney, aos 82 anos, canta músicas como Sangue Latino e Pavão Mysterioso, em um roteiro amadurecido no qual o cantor pode mostrar o que gosta de fazer: cantar com excelência vocal. Pioneiro em várias questões, até nas políticas, para as quais ele diz não ter “paciência”, Ney, um dos primeiros artistas pop/rock do País, mereceu abrir a 1ª edição e, agora, foi escolha acertada na estreia do palco The One. LEIA MAIS SOBRE O SHOW.
5 - Luísa Sonza
Depois uma estreia fenomenal com seu último álbum, Escândalo Íntimo - no Spotify, ultrapassou 8 milhões de streamings em 13 horas -, Luísa Sonza fez, mais cedo, um show digno de fechar festivais. A lotação do gramado do palco Skyline provava isso. Nem o sol forte foi capaz de fazer com que as pessoas ficassem afastadas uma das outras ou parassem de dançar. A mensagem que fica é que depois de um ano de descobrimento da cantora consigo mesma, no qual pode explorar seus traumas, amores, e inspirações - seja de ritmo ou de artistas, como Marília, Rita Lee e Ludmila, por exemplo - Luisa se abraçou, com todas as facetas. Por isso é tão notável sua evolução. LEIA MAIS SOBRE O SHOW
OS 2 PIORES SHOWS DO 1º FIM DE SEMANA DO THE TOWN
1 (o pior) - Iggy Azalea
Apesar de contar com os elementos típicos de um show pop – o imprescindível combo de dançarinas, collant e luzes –, Iggy Azalea fez uma apresentação que até animou fãs, mas foi esquecível. A rapper montou uma sequência de músicas não muito conhecidas, intercaladas com alguns sucessos, sem alterações ou novidades que pudessem entreter o público por muito tempo. Ela está visivelmente no limbo entre “diva pop” e “rapper”, sem alcançar o suficiente para um ou outro. A chuva não ajudou e a própria artista disse que foi um show árduo e caótico. Mas se ela havia preparado algo de especial, nada disso apareceu no maior palco do evento.
Iggy muito elogiou o Brasil, mas não ficou à altura do País. Não é exagero dizer que a australiana esteve atrás de rappers nacionais como Tasha e Tracie e Karol Conká, que fizeram um show mais rico para um público bem menor no mesmo dia. (Dora Guerra)
2 - Alok
O show de Alok no palco principal do The Town mesclou “MPB good vibes” com eletrônica e trechos apressados de sucessos do pop-rock. Mais do que música, foi um show de fogos e até drones, que formaram a marca do cantor no céu.
Ele repetiu o chamariz para o show do Lollapalooza do ano passado, no mesmo Autódromo de Interlagos e, quebrou, supostamente, o recorde de luzes de lasers em um show. Alok, por sua vez, usou seu talento no Brazilian Bass para seguir menos para o Brazilian, um pouco para o Bass e com ímpeto mesmo para o espetáculo. O show, com frases motivacionais e hits apressados do Alok foi, no fim das contas, o melhor brinquedo do parque de diversões do festival. LEIA MAIS DA ANÁLISE.
Menção sem noção - Veigh
O rapper paulista Veigh fez uma performance inesperada neste domingo. Durante sua apresentação no palco Factory, que não foi televisionada, o rapper fingiu desmaiar – e encenou toda a sua recuperação. O cantor entoava os versos de sua música Engana Dizendo Que Ama, até que parou, ofegante, e começou a se abaixar. Em seguida, ele acenou para sua equipe, que o carregou para fora do palco. O público se assustou. Nesse momento, o telão mostrou uma ambulância e Veigh voltou em uma maca, simulando uma ressuscitação. Nisso, o artista se levantou e voltou a cantar, para um público extasiado. No registro, uma fã “xingou” a cena: “Isso não se faz, achei que ele estava morrendo”.
E como foi o resto do domingo, 2º dia do festival?
Depois de uma estreia turbulenta, o megafestival conseguiu ter um segundo dia mais tranquilo – contando, claro, com a ajuda dos céus. Ainda houve reclamações sobre transporte e filas demoradas, mas menos do que no sábado. Novamente 100 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos - mas, ao contrário de sábado, elas haviam esgotado os ingressos com muito mais antecedência, com minutos após a abertura das vendas, de olho no show de Bruno Mars.
Em contraponto com um sábado lamacento, o domingo ofereceu sol ardido ao público dos primeiros artistas, Matuê e Luísa Sonza - choveu bem pouco à noite, mas incomparavelmente menos do que no dia anterior. Os brasileiros foram espécies headliners à parte, com lotação e estrutura dignos de artistas internacionais. Ney Matogrosso fez um show menos político, com excelência vocal.Alok garantiu um show de lasers vertiginoso, impossível de ignorar.
Já no início da noite Bebe Rexha tentou fazer um show marcante de todas as formas, dando até beijo na boca de Luísa Sonza. Leon Bridges e Seu Jorge não precisaram de tantos artifícios para fazerem ótimos shows classudos de soul e samba.
O dia foi dos brasileiros, mas o americano Bruno Mars fez a noite, conforme descrito acima. Ele fez o melhor show da história do The Town até agora - provavelmente só poderá ser superado pelo headliner de domingo, 10 (ele mesmo, que repete o show).
O evento continuará na próxima semana, nos dias 7, 9 e 10, com propostas variadas; o famoso “tem para todos os gostos”. Por isso, depois de dias de climas opostos, ainda é difícil cravar o saldo final do evento.
Se depender de como foi este domingo, o festival ainda tem fôlego para ser o megaevento que se propôs, com “experiência do público” ambiciosa.
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