Opinião | Tinha tudo para ser um desastre, mas show de MPB do Rock in Rio foi espetacularmente bom

O show Pra Sempre MPB foi, até o momento, o maior acerto do Dia Brasil no Rock in Rio, com Ney Matogrosso ovacionado, Carlinhos Brown bem recebido e BaianaSystem arrastando o público

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Foto do author Danilo Casaletti

O que é MPB? A sigla, popularizada nos anos 1960, na época dos festivais de música brasileira, grudou na geração pós-bossa nova, de nomes como Elis Regina, Edu Lobo, Maria Bethânia, Gal Costa, Milton Nascimento, entre outros, e, por muito tempo, serviu - mais do que para catalogar - para elitizar o grupo.

Por isso, o show Pra Sempre MPB, apresentado no Palco Mundo do Rock in Rio 2024 neste sábado, 21, poderia ser um desastre ao juntar Ney Matogrosso, Zeca Baleiro, Gaby Amarantos, Majur, BaianaSystem, Carlinhos Brown e Daniela Mercury. Quem passaria pelo crivo de muitos sobre o que é ou não é MPB?

No Rock in Rio não teve isso. Todos passaram. Essa aprovação muito se deu pela escolha do elenco, a cargo de Zé Ricardo, vice-presidente da Rock World, e do produtor e baterista Pupillo, e do roteiro do show. Ney, lá nos anos 1970, já tinha misturado rock, pop e música brasileira. Daniela, nos anos 1990, já tinha bagunçado o coreto ao, com o sucesso do samba reggae Swing da Cor, fazer com que todos se perguntassem: ‘Isso também é MPB?’.

Ney Matogrosso foi ovacionado neste sábado, 21, no Rock in Rio Foto: Daniel Ramalho/AFP

Ney cantou Cazuza, Poema e Pro Dia Nascer Feliz - a última, em performance mais bem ajeitada do que a que fez há pouco tempo no Allianz Parque, depois de anos sem cantá-la. Ney é adorado pelo público. E gosta disso, por debaixo dos panos de sua inacreditável timidez fora dos palcos.

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Na temperatura do rock, Zeca Baleiro começou seu bloco com Heavy Metal do Senhor e seguia com Proibida Pra Mim, clássico do Charlie Brown Jr, com interessante arranjo de sopros, e encerrou com Telegrama. Ele, a propósito, também mistura rock com baião e outros ritmos nordestinos. Eis aí, mais uma vez, a tal MPB.

Gaby Amarantos, com a bandeira do Brasil na mão, festejou o fato de ser a primeira cantora paraense a estar no Palco Mundo - inicialmente, o anúncio do line-up do Dia Brasil sem um representante do Norte causou indignação, sobretudo na cantora Fafá de Belém.

Cantou Ex-Mai Love, Não Vou Te Deixar, Me Libera e Xirley, com a adesão da cantora baiana Majur, representante da nova geração que seguiu a apresentação com seu afropop.

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Majur fez, mais uma vez, ao ir para o piano para cantar e tocar Sujeito de Sorte, de Belchior, misturada a Amarelo, de Emicida, essa quebra de barreira sobre que é ou não MPB. Ou Belchior não é também um rapper ao cantar as dores e mazelas do Nordeste ou de ser um nordestino marginalizado em uma cidade grande? Ouçam, para tirar a dúvida, Na Hora do Almoço, uma de suas primeiras composições.

O show seguiu em alta com a entrada do grupo BaianaSystem, que atualizou a guitarra baiana com sua mistura ‘afro-latina-pop-axé-ijexá’. Capim Guiné e Lucro estão há muito na boca e nos pés do povo - as performances do Baiana são famosas por colocar o público para dançar.

Daniela Mercury foi uma das atrações do Pra Sempre MPB do Rock in Rio Foto: Daniel Ramalho/AFP

Carlinhos Brown entrou no palco ao som da introdução de O Guarani, de Carlos Gomes, adaptada para o batuque baiano, rompendo, mais uma vez, com os puristas. Se em 2011 ele foi recebido com brutalidade pelos roqueiros, neste 2024 fez o que quis com a plateia ao cantar Cor de Rosa Carvão, Uma brasileira, Água Mineral e A Namorada, a música que no passado lhe rendeu uma chuva de garrafas de água no Rock in Rio.

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Daniela Mercury amarrou as pontas ao transformar tudo em carnaval ao cantar desde a divertida Rapunzel até a engajada Proibido o Carnaval. E não era a MPB a mais engajada da turma?

O show Pra Sempre MPB - até o momento, o maior acerto do Dia Brasil no Rock in Rio -, mostrou que a tal MPB é aquela que está nas ruas. Ou nas arenas de um festival.

Opinião por Danilo Casaletti

Repórter de Cultura do Estadão

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