Titãs anunciam turnê com sete integrantes originais, pela primeira vez após 30 anos

Arnaldo Antunes, Nando Reis, Tony Bellotto, Branco Mello, Charles Gavin, Sergio Britto e Paulo Miklos vão se reunir para dez shows em estádios em 2023; em SP, apresentação será em junho

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Foto do author Julio Maria
Atualização:

Sete integrantes originais dos Titãs anunciaram que vão retornar aos palcos juntos. Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta, 16, no espaço Central, na Praça da Bandeira, em São Paulo, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Charles Gavin e Paulo Miklos receberam representantes de fãs-clubes e alguns jornalistas para falar sobre o projeto. O show da turnê prevista para 10 apresentações passará por São Paulo no dia 17 de junho de 2023, no Allianz Parque.

Será a primeira vez em 30 anos que os Titãs farão um projeto de revival. A temporada será realizada entre abril e junho de 2023 e terá como lema a frase “todos ao mesmo tempo agora”, que faz referência ao nome do sexto álbum da banda, lançado em 1991, Tudo ao Mesmo Tempo Agora. O guitarrista e produtor Liminha será integrante da banda durante os shows e a filha do ex-integrante Marcelo Fromer, morto em 2001, a cantora Alice Fromer, também foi convidada para representar o pai. Idealizada pela empresa 30E e pela Bonus Track Entretenimento, a turnê vai começar no Rio de Janeiro, dia 28 de abril, e terminar em São Paulo. A pré-venda dos ingressos para todas as datas começa nesta quinta, 17, às 18h, e as vendas normais terão início dia 22 de novembro, às 12h. As compras poderão ser feitas pelo site titasencontro.com.br.

Integrantes da banda Titãs anunciam o retorno aos palcos da clássica formação em uma grande turnê pelo Brasil; da esquerda para a direita: Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Tony Bellotto, Branco Mello, Nando Reis, Charles Gavin e Sérgio Britto. O produtor Liminha fará uma participação especial nas guitarras.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Bajulação

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A coletiva de imprensa foi conduzida pela ex-apresentadora da MTV, Sarah Oliveira. Ela fazia perguntas sempre simpáticas, elevando o encontro no mínimo a um “acontecimento histórico”, entre outras colocações e memórias afetivas. Já os jornalistas que quisessem participar com alguma questão, mesmo estando sentados à frente da banda, deviam enviar perguntas pelo celular acessando um ambiente por QR Code. E aqui começam as diferenças do mundo de quando os Titãs surgiram para este, 40 anos depois.

Alguém fez essa pergunta, “qual a diferença que sentiam 40 anos depois”, e o baterista Charles Gavin foi quem respondeu, lembrando que o grupo, criado em 1982, chegou a pegar o tempo da censura. “Já podíamos falar das coisas de uma forma mais aberta do que os nossos mestres, que tinham de usar ferramentas (nas letras) para driblarem a censura.”

Mestres

Uma das perguntas lidas por Sarah, enviada por uma publicação especializada em música, trazia esse assunto com tintas tão carregadas de bajulação que causou constrangimento à própria banda. “Vocês disseram que contaram com grandes professores. Como é saber que, 40 anos depois, vocês assumiram o lugar dos professores?” Alguém do grupo disse que não se sentia com cara de professor, alguns riram, mas coube a Nando Reis cortar a levantada: “Eu também aprendi com os Titãs”. Ele se mostrava um dos mais animados. Um pouco antes, havia dito o seguinte, quando a bola erguida era outra: “Quando comentei isso (sobre o retorno do grupo) com meus filhos, eles enlouqueceram. A produção de todos que estão aqui a meu lado sempre foi de altíssimo nível. Então assim, nós somos f...”.

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Quando criada, a banda tinha nove integrantes: Ciro Pessoa deixou o grupo antes mesmo do primeiro disco e morreu de covid em 2020; o guitarrista Marcelo Frommer morreu em 2001 após ser atropelado. Foto: Acervo Estadão

Momento delicado

Os Titãs lançaram há um mês o álbum Olho Furta-Cor, um dos menos assertivos de sua carreira, produzido por Rick Bonadio e Sergio Fouad. Com Branco Mello ainda tratando um câncer, restando de tantos integrantes apenas Sérgio Britto e Tony Bellotto, o 17.º disco do grupo parece sentir, mais do que os outros projetos, o baque de tantas baixas.

Mas a pauta ali parecia orientada a não destoar do clima afetuoso de reencontro, algo que acaba destoando da essência combativa e de pensamentos necessários do próprio grupo, que lançou Cabeça Dinossauro, em 1986, com músicas como Polícia, Estado Violência, Bichos Escrotos e Igreja.

O controle das perguntas e o excesso de elogios impossibilitavam algum aprofundamento sobre a carreira de um dos grupos mais importantes do rock brasileiro. Muito raro ter à frente todos juntos, mas o que sobrou foi isso - Arnaldo Antunes: “A gente vai se divertir. Temos mais anos de amizade do que de banda. Eu fiquei dez anos no grupo, mas sempre que nos reencontramos é algo regado a muita risada”. Paulo Miklos: “É muito bacana poder falar de novo no coletivo. O bom senso sempre norteou tudo o que fizemos”. Charles Gavin: “É bem verdade que nós todos tivemos uma formação musical extraordinária”.

O grupo tem sido desidratado desde 1992, com a saída de Arnaldo Antunes. Ainda assim, ele consegue manter uma boa agenda de shows e de lançamentos de discos. Agora, para além dos ganhos para o retorno, o grupo tem a chance de medir a temperatura de algo que vale também para quem deixou o coletivo há anos. Qual a força de um grupo junto às duas gerações de ouvidos digitais que nunca viram um show com todos esses integrantes lado a lado? O quanto os Titãs juntos podem ser ainda tão ou mais fortes do que as carreiras de alguns de seus integrantes separados? E quais canções e amizades, de fato, conseguem resistir a 40 anos?

Trajetória em imagens

Veja galeria com imagens do grupo Titãs e seus integrantes, pelo Acervo Estadão.

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