João Gilberto fez história com 'Chega de Saudade' em 1959

Cantor e compositor de bossa nova morreu neste sábado, 6, aos 88 anos; confira a obra comentada

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O cantor e compositor João Gilberto, um dos criadores da bossa nova, morreu neste sábado, 6, deixando um extenso legado. O músico fez história com Chega de Saudade em 1959, mas sua importância se estende por décadas. Confira toda a obra comentada do músico:

João Gilberto durante show em São Paulo em 2003 Foto: Eduardo Nicolau/Estadão

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78 RPM Garotos da Lua João, fã de conjuntos vocais, começou sua história fonográfica nestes dois 78 rotações, participando do Garotos da Lua. São sambas-canção vocalizados à moda dos Quatro Ases e um Coringa e Os Cariocas. João seria expulso do grupo por indisciplina no final do ano. As gravações nunca foram reeditadas.

78 RPM João Gilberto Também nunca relançadas, essas gravações são as únicas solo de João antes da Bossa Nova, com um canto abolerado que não condiz com o estilo que ele firmaria. Não tiveram repercussão. Em 2010, um leilão no ebay mobilizou colecionadores, que deram 25 lances pela bolacha. O preço final foi de U$ 398, oferecido por alguém que reside no Japão, onde o artista tem muitos fãs.

Chega De Saudade (1959) O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) João Gilberto (1961) Odeon Tudo o que se convencionou a chamar de bossa nova está presente nesses três discos, de modo que fica impossível dissociá-los um do outro. A novidade estética trazida por João era anunciada num 78 rotações em agosto 1958, com Chega de Saudade, a pedra fundamental, e Bim Bom, uma de suas raras composições. Levado à Odeon por Dorival Caymmi, o artista contou com a ajuda de Tom Jobim nos arranjos e do produtor Aloysio de Oliveira para levar a cabo suas ideias e seu perfeccionismo. Traz o encontro entre o antigo, simbolizado por canções de Ary Barroso e da dupla Bide e Marçal, e a contemporaneidade de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. As faixas dos três álbuns foram compiladas no CD O Mito, tirado de circulação por determinação judicial. João Gilberto alegou que houve alteração do som em algumas faixas. Hoje, circulam em cópias importadas não autorizadas pelo músico.

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EP João Gilberto Cantando As Músicas do Filme Orfeu do Carnaval Odeon EP com músicas compostas para o filme do francês Marcel Camus, rodado no Brasil, que ganhou Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

Getz/ Gilberto (1964) Verve João Gilberto e Tom Jobim participaram do lendário show de Bossa Nova no Carnegie Hall em 21 de novembro de 1962. Era o estopim do estilo em território americano. Em março de 1963, entram em estúdio com o saxofonista Stan Getz para gravar Getz/ Gilberto, a consolidação da bossa no mercado internacional, que abriria caminho para músicos como Marcos Valle e Sérgio Mendes disputarem seu espaço fora do País. Traz a lendária gravação de Garota de Ipanema, com Astrud Gilberto no vocal, difundida em todo o mundo. Ganhou o Grammy de Melhor Álbum do ano de 1964, ano em que chegou às lojas.

Getz/ Gilberto #2 (1965) Verve Gravado ao vivo no Carnegie Hall em outubro de 1964, João Gilberto é acompanhado pelo baixista Ketter Betts e pelo baterista brasileiro Hélcio Milito, que permaneceu anos nos Estados Unidos. Foi relançado em CD com cinco faixas-bônus.

Joao Gilberto em México (1970)  Orpheon Videovox/ Tapecar João foi fazer um concerto na cidade do México em 1970 e acabou se estabelecendo na cidade. Com arranjos de Oscar Castro Neves, este é um documento daquele período, com Ela é Carioca e De Conversa em Conversa mescladas a boleros, Besame Mucho entre eles. Há também duas composições próprias, as instrumentais Acapulco e João Marcelo, dedicada ao filho.

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João Gilberto (1973) Polydor Em seu retorno aos Estados Unidos, João lança seu "álbum branco", alcunha pela qual ficou conhecido, em alusão ao lendário disco dos Beatles. Além de sua voz e do violão, apenas a percussão de Sonny Carre os vocais de Miúcha, sua então esposa, em Izaura, são ouvidos. Pela primeira vez, grava músicas dos pupilos Caetano Veloso e Gilberto Gil, respectivamente Avarandado e Eu Vim da Bahia.

Stan Getz The Best of Two Worlds Featuring João Gilberto (1976) CBS Tendo praticamente o mesmo repertório de João Gilberto, o músico volta a se reencontrar com Stan Getz. Miúcha também participa do disco. Músicas como Águas de Março, Retrato em Branco e Preto e Izaura foram vertidas para o inglês.

Amoroso (1977) Warner É curioso que este disco, unânime entre fãs e músicos, não satisfez João. A cantora e compositora Joyce, hoje Joyce Moreno, conta de seu encontro com o ídolo em Nova York, pouco depois das gravações de Amoroso, em seu livro “Fotografei Você na Minha Rolleyflex. “Não grave com Claus Ogerman, aquela pata-choca estragou o meu disco”. Fato é que as orquestrações de Ogerman combinam perfeitamente com o violão de João, dando a este disco status de item indispensável

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (1980) Warner No ano em que voltou a morar no Brasil, João Gilberto participou da série Grandes Nomes, da TV Globo. Este álbum traz excertos da apresentação, cercada de expectativa - e um pouco de apreensão - por parte dos envolvidos. Até o então todo-poderoso da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, esteve presente na gravação no Teatro Fênix. A grandiosidade do projeto se evidencia pelas escolhas de quatro arranjadores, Guto Graça Mello, Dori Caymmi, João Donato e Lindolpho Gaya, o que traz diversidade e imponência. Como convidadas, Bebel Gilberto, então com catorze anos, e Rita Lee. Saiu em CD com quatro faixas a mais. A edição em CD tem capa diferente.

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Brasil: João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia (1981) Warner Em seu livro “Música, ídolos e Poder”, o ex-executivo da Warner André Midani narra a saga deste projeto. João o chamou pedindo para gravar um disco com Caetano e Gil. Midani aceitou, desde que tivesse “pleno controle”, sobre o projeto. As gravações foram se arrastando por diversos motivos, entre eles a escolha do arranjador. O executivo queria que Claus Ogerman participasse do álbum, mas o maestro disse que “nunca mais trabalharia com João Gilberto”. Chegou ao mercado com apenas seis músicas prontas. Maria Bethânia participa de No Tabuleiro da Baiana.

Live At The 19th Montreux Jazz Festival (1985) Warner João e seu violão, apenas. E neste disco registrado em julho de 1985 no Festival de Montreux, vê-se que isso basta. Os destaques são sambas dos anos 1940 nunca gravados por ele até então: Adeus, América, Preconceito e Sem Compromisso. A edição em CD tem capa diferente.

João (1991) Polygram Em março de 1990, João – com seu violão, naturalmente – voltou a gravar em estúdio depois de dez anos afastado das salas de gravação. Em três dias, gravou doze músicas. A expectativa foi enorme, com cópias não finalizadas correndo entre fãs. Um ano depois, chegou às lojas, com arranjos de Claire Fischer. Consta que Claus Ogerman e Johnny Mandel foram chamados a participar – e recusaram. Músicas, notadamente sambas, dos anos 1930 e 1940 dialogam com obras de Cole Porter e Charles Trenet (You do Something To Me e Que Reste-t-il de Nos Amours).

Eu Sei que Vou te Amar (1994) Sony Gravado ao vivo na segunda das duas noites de apresentação no Heineken Concerts, em março de 1994. Chegaria às lojas no fim do ano após extensa negociação entre o artista, a patrocinadora do evento e a Sony Music. A crítica especializada reclamou da edição do disco, no qual músicas são praticamente coladas umas nas outras. Há poucas, mas surpreendentes novidades. Regravações como Guacira, dos anos 1930 e A Valsa de Quem Não Tem Amor, gravada por Nelson Gonçalves em 1945, estão no repertório.

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João Voz e Violão (2000) Universal Em setembro de 1999, a casa de shows Credicard Hall foi inaugurada com um show de João Gilberto e Caetano Veloso. O que seria uma celebração foi um festival de vaias. João reclamou da acústica, alegando que havia um eco, o público reclamou da atitude - no palco, Caetano bateu boca com um espectador - e tudo terminou com o às da Bossa Nova cantando "Vaia de Bêbado não Vale" e mostrando a língua para os 4 mil presentes. A situação ainda repercutia em janeiro de 2000, quando João Voz e Violão foi lançado, com uma capa trazendo a atriz Camila Pitanga fazendo um sintomático gesto de silêncio. Caetano ficou a cargo da produção do disco. Há quem diga que houve stress após as gravações. João postergou por meses a decisão de incluir ou não arranjos de cordas, que seriam feitos por Jaques Morelembaum. Isso teria irritado o pupilo-produtor e até Paula Lavigne, produtora e então esposa de Caetano, teve de intervir. Como destaque está Você Vai Ver, música pouco badalada de Tom Jobim. Venceu o Grammy de melhor CD de World Music.

Live At Umbria Jazz (2002) Egea Inédito no Brasil, traz o registro da apresentação no Umbria Jazz Festival de 1996, em Perugia, na Itália. Nenhuma surpresa em repertório recheado de clássicos

João Gilberto In Tokyo (2004) Universal Vinte mil japoneses assistiram aos três concertos que João fez no Fórum Nacional de Tóquio, em setembro de 2003. Foi aplaudido pelo público durante 25 minutos ininterruptos em uma das apresentações. O CD que registra alguns momentos dos três shows traz duas inéditas na voz do artista: Acontece que eu Sou Baiano, de Dorival Caymmi, e Louco (Ela É Seu Mundo), parceria de Wilson Batista com Henrique de Almeida

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