Travis Scott, rapper que faz tudo tremer, aponta os próximos anos do Rock in Rio

A apresentação que encerrou o primeiro dia do festival abriu efetivamente as portas para uma nova geração - e mostrou o que ela espera de seus ídolos

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

Para quem vive questionando “Cadê o rock no Rock in Rio?”, sim, o primeiro dia da edição comemorativa de 40 anos do festival não teve rock. Teve muito trap. A sexta-feira, 13, foi dedicada à vertente do rap que se tornou, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, a principal música urbana do Brasil atualmente - e a que mais coloca os jovens em sintonia, mesmo que por meio das redes sociais.

Assim, a grande atração do dia não poderia ser outra: o rapper americano Travis Scott, o demolidor, aquele que treme tudo por onde passa com seu grave - o Movimento Água Branca, que une moradores do entorno do Allianz Parque, em São Paulo, onde Scott se apresentou no dia 11 de setembro, publicou um compilado de supostos tremores em suas casas. Essa é a segunda vez que ele vem ao Brasil. Em 2022, ele esteve no Primavera Sound.

O rapper Travis Scott se apresentou no primeiro dia do Rock in Rio 2024 Foto: Reprodução/@multishow

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Scott, tal como fez em São Paulo, apresentou no Rock in Rio a grandiosa turnê Circus Maximus Stadium Tour - com algumas adaptações no setlist - a mais importante de sua carreira que, além dos Estados Unidos, já passou por países da Europa e da Oceania. Apesar de ter dado uma volta pela Praia de Ipanema, Scott chegou ao País com marra de grande astro - e 100 toneladas de equipamentos. Cercou a frente do palco e os bastidores. Não permitiu ser fotografado pela imprensa. O show atrasou 40 minutos.

Produtor e empresário, Scott faz de Circus - inspirada pelo seu álbum mais recente, Utopia, de 2023 - uma viagem psicodélica. E no tempo. A estética lembra Mad Max, filme pós-apocalíptico de 1979.

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O poder de Scott pôde ser sentido na quarta música, Aye, após discurso em que o rapper declarou seu amor ao Rio e que esse era o melhor lugar que já esteve. Foi quando ele provocou inúmeras rodas de mosh - forma de dançar mais agressiva, absorvida de em gêneros como o punk rock ou thrash metal.

Logo em seguida, em SDP Interlude, Type Shit e Nightcrawler, Scott chamou três jovens para o palco-passarela em que se apresentava. Um retrato da geração que o acompanha - e do poder que ele tem de reger o público jovem. Foi atendido em todos seus pedidos - e até naquilo que ficou implícito, algo que só artistas que se conectam verdadeiramente com a plateia, em uma relação que começa longe, ainda dentro de um estúdio, muitas vezes sozinho, conseguem extrair.

Scott se elevou ao cantar My Eyes, faixa melancólica de Utopia que aborda o trágico acontecimento em que 10 fãs perderam a vida durante o Astroworld, no Texas, em 2021. Resultado de uma correria generalizada que também deixou 2.400 pessoas feridas.

Mais eletrizante foi o momento em que o astro enfileirou I Kown?, canção que fala de bebidas, drogas e sexo, temas recorrentes em sua discografia, 90210 e MeltDown.

Até que veio a mais catártica de suas canções: FE!N - por cinco vezes. Se em 1985 a emoção do público foi depurada por meio do imenso coral em Love of My Life do Queen, agora, em 2024, o processo ocorreu por meio das rodinhas, pulos e balançar de cabeças. Uma energia impossível de ser contida para quem embarcou nas distorções proposta pelo maestro rapper.

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Mesmo com a estética da turnê ter se perdido na imensidão da Cidade do Rock - o próprio Palco Mundo já é um cenário -, Scott conseguiu manter o significado que Circus tem para carreira e para seus fãs. Um show grandioso, obviamente já visto mundo afora, inclusive em São Paulo nesta semana, mas que vale mais do que os truques dos anunciados, mas nunca efetivados, dos shows ‘exclusivos’ para o festival.

Os jovens que nitidamente ocuparam o Rock in Rio neste primeiro dia mereciam há tempos uma apresentação - e um dia - inteiramente para eles, sem ninguém a perguntar: “Mas isso é rock?”.

Como foi o primeiro dia do Rock in Rio 2024

A abertura dos portões da cidade do Rock para o Rock in Rio 2024, na zona oeste do Rio de Janeiro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Sob um calor de 40 graus, a Cidade do Rock, no Parque Olímpico, abriu os portões da edição de 2024 do Rock in Rio cerca de 20 minutos depois do anunciado, às 14h20. Antes de acesserem os palcos, o público parou para selfies nos letreiros dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 e do pórtico do festival.

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O primeiro artista a se apresentar na décima edição do Rock in Rio foi MC Maneirinho, cantor de funk que fez show no palco Supernova - um dos alternativos do festival - a partir das 15h. Elétrico, ele intercalou trechos de canções com gritos anunciando um “baile de favela”.

Um pouco depois, o Palco Sunset trouxe a excelente apresentação da Funk Orquestra, projeto liderado pelo maestro Eder Paolozzi que une o funk à música erudita. O show teve as participações das cantoras Rebecca e MC Soffia e do funkeiro MC Daniel, um dos destaques do gênero no momento.

Os sucessos do funk como Namora Aí, Tubarão, Te Amo e Love Absurdo balançaram o público, mas a surpresa ficou por conta da homenagem a Tom Jobim e à bossa nova: o show terminou com um potpourri que reuniu Águas de Março, na versão com Elis Regina, Ela é Carioca e Garota de Ipanema - essa último, foi dar em Girl From Rio, de Anitta - ... em ritmo de funk. No entanto, esses clássicos não empolgaram o público, que em sua grande maioria partiu rumo a outros palcos assim que os primeiros acordes de Ela é Carioca.

Ludmilla fez show no Palco Mundo Foto: ARIEL MARTINI

A tensão do dia ficou por conta de Ludmilla. A cantora carioca reclamou de adequações que o festival impôs no cenário de seu show no Palco Mundo. Talvez por isso, fez uma apresentação apenas dentro do esperado, com sua mistura de pop, funk, R&B e pagode. O cenário, no caso, não fez diferença. Ao sair do palco, lamentou.

MC Cabelinho fechou as apresentações do Palco Sunset nesse primeiro dia, com o Coral das Favelas. Cantou seus maiores hits, entre eles, Fogo e Gasolina. Convidou Teto ao palco - rapper baiano que já havia se apresentado mais cedo no Palco Mundo como um dos convidados do show de Matuê. Ao lado do amigo, Cabelinho protestou: “Até quando preto vai matar preto nessa porra?”. O rapper ainda chamou Major RD para cantar uma música de seu novo álbum, Não Sou Santo, Mas Não Sou Bandido. “Entenderam?”, provocou Cabelinho.

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Provando que a segurança do festival pode ter falhado, alguém na plateia, já perto do fim da apresentação, acendeu um sinalizador. Cabelinho aprovou o ato. Para finalizar, pediu ajuda da assistente virtual Alexa. De acordo com o Multishow, Caetano Veloso estava no backstage assistindo ao show do rapper brasileiro.

Antes de Travis Scott, no Palco Mundo, foi a vez do rapper britânico 21 Savage se apresentar. Essa é a primeira vez que ele vem ao Brasil. Tocou músicas como Jimmy Cooks, On BS, 10 Freaky Girls e Creepin. Ficou no palco menos de uma hora.

O segundo dia do festival, neste sábado, 14, terá, entre as principais atrações, Imagine Dragons, One Republic, Lulu Santos, Zara Larsson e NX Zero. Um dia dedicado ao pop-rock.

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