Opinião | ‘Vem Galopar’ viraliza, mas música de Juliette é esquecível

Inspirada em clássico de Luiz Gonzaga e rejeitada por Anitta, faixa é salada musical mal ajambrada que pouco acrescenta à busca da cantora por um espaço na música brasileira

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Foto do author Danilo Casaletti

A música do momento é Vem Galopar, lançamento mais recente de Juliette. Se você ainda não ouviu, não o faça - embora, inevitavelmente, ainda vá esbarrar por ela. A faixa tornou-se viral, ou seja, alcançou seu objetivo. Só no YouTube. o audiovisual já soma mais de 420 mil visualizações. No top 50 Brasil no Spotify, porém, ela ainda não aparece.

No entanto, fica difícil definir o que Juliette como intérprete e os compositores - assinam a música Junior Gomes, Lucas Medeiros, Rafinha RSQ e Shylton Fernandes - quiseram dizer como “adaptação de Pagode Russo”, o clássico de Luiz Gonzaga e João Silva composto em 1946 que mistura baião e trepak, dança folclórica da Rússia. Uma pastiche, talvez.

A cantora Juliette lança 'Vem Galopar' Foto: Bruninni

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Sim, tem a letra (sofrível) em duplo sentido - a original, brincava com a palavra cossaco - e a base do baião russo de Gonzagão. Começa em ritmo de quadrilha, segue para o trap. Tem uma pitada de chá-chá-chá. A letra diz “swing brasileiro, pode jogar o tempero”. O refrão é “olha como ela está jogando” repetida vezes.

Tudo calculado e alocado em dois minutos. Tempo ideal para os parâmetros atuais das plataformas digitais e redes sociais, nas quais o ouvinte não têm paciência para ouvir nada muito longo ou as músicas precisam servir aos aplicativos de dança.

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Juliette fez troça de quem criticou a música. “Quer poesia?”, questionou em um vídeo publicado em suas redes sociais. Desde que se tornou favorita ao prêmio do Big Brother Brasil, em 2021, ainda dentro do programa, Juliette foi colocada em um pedestal por seus fãs e por parte da mídia. Determinou-se que era proibido criticá-la.

Seu sonho, legítimo, obviamente, era o de ser cantora. Cantarolava vez ou outra dentro da casa - sem qualquer técnica ou afinação. Ao sair do programa, uma operação de guerra foi montada para que Juliette se tornasse uma cantora. Recebeu as bênçãos de Gilberto Gil. Estava feito o produto.

De lá para cá, Juliette lançou singles e EPs. Sempre com um pé lá e outro acolá. Em um primeiro momento, flertou com a MPB Fofa, na qual também estão nomes como Kell Smith, Anavitória, Tiago Iorc e Ana Vilela. Passada a empolgação inicial em volta de seu nome e de seu primeiro EP, Juliette foi buscar outras paragens. Gravou sertanejo pop, funk, trap e fez parcerias com Marina Sena, Dilsinho e João Gomes, nomes relevantes no cenário musical e nos ambientes de festivais. Ela, no entanto, ficou pelo caminho.

Juliette, como cantora, ficou circunscrita à sua bolha. É justamente nesse espaço que ela é imune às críticas. São Juão, seu novo álbum, na qual Vem Galopar foi lançada, embora seja uma tentativa de homenagear suas raízes nordestinas - Juliette é de Campina Grande, na Paraíba - é uma salada musical mal ajambrada que nada acrescenta à sua carreira. Pior: vai de encontro a um movimento que reivindica que os festejos juninos precisam retomar sua essência, tocando gêneros como o forró, baião, arrasta-pé e quadrilhas em seu estado mais puro.

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São Juão Ao Vivo - é ao vivo mesmo? ouça com atenção! - será apenas mais um lançamento esquecível de Juliette, no qual ela tenta alinhar Frevo Mulher e O Xote das Meninas com POCPOC, faixa na qual o DJ Pedro Sampaio e Rafinha RSQ, esse último, produtor de Anitta, estão envolvidos. E dá-lhe sarrada e mãozinha na parede. No final, a doce e inocente “olha pro céu, meu amor”.

Talvez esse seja o momento de Juliette colocar a cabeça para fora da redoma que criaram para ela e, em vez de debochar, entender o motivo de estar recebendo tantas críticas. Ou, então, fazer como Anitta, que sabiamente desistiu de gravar Vem Galopar.

Opinião por Danilo Casaletti

Repórter de Cultura do Estadão

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