Todos sabiam que a primeira reunião do pós-confinamento depois de dois longos anos sem grandes festivais se tornaria um case. E não só pela adaptação aos protocolos que a pandemia ainda exige, resumidos a comprovantes de vacinação com o mínimo de duas doses tomadas e a sugestão de máscaras e álcool gel, mas a outros detalhes: no momento em que as porteiras se abrem no mundo, estar na agenda de bons artistas e não ter o line-up sucateado já é um feito.
Será então desta sexta, 25, a domingo, 27, que veremos o teste de muitas das previsões pregadas desde 2020 sobre como seriam os “novos códigos”, o “novo normal” e o “nunca mais estarei em grandes concentrações de gente sem máscara”. Por três dias, o Lollapalooza deverá receber ao todo um público que pode superar os 246 mil pagantes que estiveram na última edição, em 2019. Não será obrigatório o uso das máscaras, informa o festival, já que o governo do Estado liberou a proteção em lugares ao ar livre. Não deixa de ser um ato de coragem em um lugar de altíssima densidade demográfica por mais de 70 shows e 68 horas de música.
Francesca Brown Alterio é diretora de marketing e da área de festivais da companhia Time For Fun, responsável pela realização do festival. Sobre o uso das máscaras, ela reforça: “Nós recomendamos, mas também entendemos que não existe mais uma lei estadual que torna o uso obrigatório. Vamos espalhar totens de álcool em gel e também será obrigatória a apresentação do comprovante de vacina com, no mínimo, duas doses.” Ela fala da responsabilidade de se “puxar a agenda de retomada de grandes eventos no nosso país”. “Foi um desafio produzir essa edição, mas tudo foi organizado tendo como prioridade a segurança.” Dentro do equilíbrio de forças de um festival que se realiza entre o que já virou pop e as camadas mais superiores do underground – Matuê, por exemplo, é um trapper com milhões de seguidores que jamais seria entendido pelos seus fãs como underground –, o Lolla 2022 traz uma boa seleção nas duas frentes. Ao contrário do Rock in Rio, que aposta no conceito da diversão, parece haver um cuidado com lógica e direção artística mais visível.
Dos gringos grandes, chegam Foo Fighters, Miley Cyrus, Strokes, Doja Cat, A$AP Rocky (isso vai ser uma euforia inominável) e Martin Garrix. Dos nacionais estrelados, Emicida, Alok, Pabllo Vittar, Gloria Groove, Djonga, Fresno e Rashid. Mas muitos shows podem ser ainda melhores do que os nomes mais reluzentes no cartaz. O gregário e delicioso trio liverpooliano The Wombats, às 15h35, no palco Onix de hoje, parece, como o Coldplay, feito para festivais e outras grandes comoções, como prova seu mais recente álbum, Fix Yourself, Not The World. E o soul rock dos anos 1970, cada vez mais distante do soul e mais perto do rock, do Black Pumas é algo que pode interessar seriamente. São testes que só o palco pode fazer. Onde será que termina a emulação da memória de algo do que gostamos de algum lugar do passado e começa a autenticidade do vocalista Eric Burton e do guitarrista Adrian Quesada? Como não serem o Alabama Shakes da vez?
O Autódromo de Interlagos tem um relevo bem acidentado, ótimo para uma pista de Fórmula 1 e nem sempre apropriado para um festival de música. Ali, entre um palco e outro, se anda muito e é bom lembrar que coberturas jornalísticas anteriores mostram que os principais casos de atendimento nos pontos médicos de apoio se dão por conta da falta de ingestão de água. As pessoas tomam bebidas alcoólicas, ficam no sol e desmaiam. Sobre áreas de descanso, Francesca Altério diz: “Teremos o Lolla Comfort como local de descanso e de sombra, com estrutura de banheiro com água corrente”. A respeito dos pedidos de camarim, parece que as bizarrices chegam ao fim. A produção conta que os artistas têm mais consciência ambiental, pedindo “itens de papel ou madeira, sem a existência de nada de plástico, além de galões de água para o refil de garrafas, para diminuir o consumo de garrafas plásticas e alimentação mais orgânica, saudável e vegana”. O star system do pós-covid não é mais o mesmo. E isso é bom.
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