Woody Guthrie, a lenda do folk comprometida com as classes mais baixas

Cantor e compositor morreu há 50 anos em Nova York; seu legado sobrevive de maneira discreta mas sólida na memória musical dos Estados Unidos

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Por David Villafranca

A denúncia da miséria e as lutas pela dignidade dos trabalhadores e contra a injustiça foram as fixações de Woody Guthrie, o mito do folk dos EUA e uma referência para os cantores dos anos 60 e todos que quiseram criar músicas comprometidas com seu tempo e com sua gente.

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Guthrie, autor de This Land is Your Land, morreu em 3 de outubro de 1967 em Nova York aos 55 anos após uma longa luta contra a doença de Huntington.

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Originário de Oklahoma, onde mostrou todo seu respeito pelas classes baixas, e após uma turva infância que o levou ao Texas, Guthrie caiu muito cedo na estrada e começou a escrever sua história: a do músico errante, a do cantor operário e do camponês, a do poeta e a do artista de rua.

Woody Guthrie por volta de 1945 Foto: REUTERS/Woody Guthrie Archives/Handout

Viciado em tocar violão e nas melodias do folk, Guthrie foi um dos grandes cronistas das migrações do Dust Bowl, uma época de terríveis secas e tempestades de areia nos anos 30 que arrasaram as Grandes Planícies dos EUA e que obrigaram milhares de pessoas a abandonar suas terras.

Guthrie, como muitos outros, dirigiu seus passos para o oeste até chegar à Califórnia, mas durante o caminho recolheu experiências para canções como The Great Dust Storm e Dust Bowl Refugee nas quais relatava a duríssima vida dos migrantes com uma linguagem simples com a qual todos se identificavam.

Em Los Angeles, Guthrie conseguiu tocar nas rádios no final dos anos 30 e entabulou vínculos com sindicatos e o Partido Comunista, algumas conexões que após a II Guerra Mundial e nos primeiros anos da Guerra Fria lhe fechariam muitas portas profissionais.

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Mas para este músico a defesa dos trabalhadores e da justiça era o mais importante e assim demonstrou em This Land is Your Land, um hino de orgulho para as classes baixas.

Enquanto viajava para Nova York, Guthrie escutava em todos os cantos God Bless America, o complacente e idílico retrato dos Estados Unidos assinado por Irving Berlin que nem remotamente se aproximava do panorama de miséria, desigualdade e desgraças que Guthrie conhecia.

Como resposta ao que entendia ser uma imagem falsa dos Estados Unidos, Guthrie compôs a áspera e sóbria This Land Is Your Land, que com o tempo se transformaria em sua canção mais popular.

Em Nova York viveu um de seus períodos mais brilhantes e, convencido pelo célebre etnomusicólogo Alan Lomax, gravou em 1940 o famoso disco Dust Bowl Ballads.

Junto a Pete Seeger, outra figura de esquerda chamada para protagonizar os manuais sobre a canção protesto, formou o grupo The Almanac Singers, que entoava canções para os grevistas e o movimento pacifista perante a II Guerra Mundial.

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Mas a situação mudaria muito após o ataque da Alemanha nazista à URSS e a ofensiva de Japão contra os Estados Unidos, o que levou Guthrie a apoiar a luta e a estampar em seu violão o seu emblemático adesivo: "Esta máquina mata fascistas".

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Casado em três ocasiões, ainda que muitas temporadas esteve separado de sua família enquanto viajava pelo país, Guthrie passaria os últimos anos de sua vida internado em um hospital.

Mas a semente de seu gênio germinou rapidamente nos cantores dos anos 60 como Bob Dylan, um grande fã do espírito e da obra de Guthrie e que lhe dedicou a canção Song to Woody em 1962.

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Além disso, outras homenagens vieram de Bruce Springsteen, do filme Bound For Glory (1976) baseada na autobiografia do cantor, e discos como Mermaid Avenue (1998), de Billy Brag e Wilco, são algumas provas que o legado de Guthrie sobrevive de maneira discreta, mas sólida na memória musical dos Estados Unidos.

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