Desde segunda-feira quando foram ao ar as cenas em que Raquel (Helena Ranaldi) delatou as agressões do marido Marcos (Dan Stulbach), em Mulheres Apaixonadas, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), unidade do centro do Rio - cuja fachada apareceu na telinha -, constatou aumento de mais de 40% de denúncias. "A média diária é de 20 casos, na maioria deles ameaças e lesões corporais. Na segunda-feira mesmo, o número subiu para 29 e a maioria das mulheres procurou a delegacia após a exibição da novela", revela a delegada titular Catarina Noble, que auxiliou o autor Manoel Carlos no episódio. No Estado do Rio, há 9 delegacias especializadas; em São Paulo, 128 Delegacias de Defesa da Mulher (sendo 9 na capital) - algumas funcionam no mesmo prédio de delegacias policiais. São 24 os delitos atendidos nessas delegacias. "A tendência é que o número de denúncias aumente ainda mais. A mulher tem de entender que não nasceu para ser vítima da violência. Aqui, nesse espaço, será tratada com dignidade e, se preciso, encaminhada para um grupo de ajuda. O objetivo dessa parceria com o autor da novela, além de sensibilizar as pessoas, é sensibilizar as autoridades para que mudem as punições aos agressores no âmbito judicial", declara a delegada. Segundo a pesquisadora Leandra Pires, que trabalha diretamente com Manoel Carlos, os diálogos entre Raquel, a assistente social e a delegada foram "escritos" pela delegada Catarina. "Reproduzimos exatamente o que ela diz às mulheres que denunciam seus parceiros", afirma Leandra, que levou a atriz Helena Ranaldi para conhecer a principal delegacia carioca especializada no assunto e a um Centro Integrado de Apoio à Mulher (Ciam). "A novela foi fiel à realidade. Desde o exame no IML, porque não se pode fazer o exame de corpo de delito em outro lugar, à punição ao agressor. Hoje não são tão representativas. Vão de trabalhos voluntários a doações de cestas básicas." Até a atriz Helena Ranaldi não sabia que a punição para os homens que agridem mulheres, a chamada violência doméstica, é branda. Era cobrada na rua pelos telespectadores da novela para que denunciasse logo o marido. "Quando me abordavam para falar desse assunto, eu perguntava se essas pessoas sabiam quais eram as punições para os agressores. Grande parte não tinha conhecimento dessa falha na lei. Eu adoraria que os agressores fossem presos. Espero que na novela o Marcos sofra de alguma forma." Para construir o personagem, Helena visitou uma Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e foi a um Centro Integrado de Apoio à Mulher. Helena, que participou de uma dinâmica de grupo como se fosse a personagem Raquel, diz que "se sente esquisita, como se tivesse um vazio dentro de si" toda vez que grava as cenas de espancamento. Na última, no dia do seu aniversário fictício, as imagens foram fortes. Ela apareceu nua (com imagem fora de foco) e tentou fugir das raquetadas de Marcos correndo para o banheiro. "Já chorei algumas vezes. Mesmo na ficção é horrível porque sabemos que para muitas mulheres é a real. Espero que a mensagem de que a denúncia tem de ser feita independentemente da punição tenha sido assimilada pelo público."
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