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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'A Última Festa' é 'Apenas o Fim' de uma fase de Matheus Souza, e nos encanta

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Por Rodrigo Fonseca
 

RODRIGO FONSECA Se você estiver lá pela casa dos 40 anos (ou mais), tendo crescido num tempo em que a "Sessão da Tarde" exibia John Wayne e Bette Davis e os sábados traziam "Sessão Trinity", com Bud Spencer e Terence Hill, boa parte das expressões idiomáticas usadas em "A Última Festa" vai parecer gaélico aos seus ouvidos, ou alguma outra língua indecifrável. Mas isso não quer dizer que a delicadíssima fotografia de Lícia Arosteguy, somada à direção de arte digna de Lego de Claudia Lopes Costa (um primor!), não crie uma universalidade, em sua temperatura de cor, para que se desvende o mundo dos millenials apresentado a nós por Matheus Souza. Pode se estender os elogios técnicos de seu novo longa-metragem, já em cartaz, ao figurino de Dino Alves. É o trabalho visualmente mais ambicioso do diretor e dramaturgo, que (ainda) tem como seu maior acerto "Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida", de 2012. Mas seu regresso às telas não deixa nada a desejar a esse trabalho lançado há onze anos no Festival de Gramado. Matheus segue falando de jovens com a língua dos jovens mais jovens que a juventude jovializou. É trava-língua onde o coração dos jovens pisa no freio. É soltinho onde os miocárdios se entregam à fluidez. Enfim, Matheus sabe ouvir, deixar falar e preservar a coloquialidade de outrem. A diferença para seu início de carreira é que o capricho com a imagem - para além da palavra, sua diva - cresceu, talvez sem ele perceber. Seu novo trabalho é o "Gatinhas e Gatões" ("Sixteen Candles") de sua estética John Hughes - outra coisa que a gente via na "Sessão da Tarde".

Matheus Souza, cronista dos millenials  

Uma das estreias mais esperadas entre os títulos agendados para janeiro, no circuito nacional, "A Última Festa" é uma celebração das angústias da ser jovem, construída como um puzzle. Angústias que Matheus conhece bem. Em 2008, ele recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival do Rio por "Apenas o Fim", uma carta de intenções do que viria a ser a representação dos millenials nas telas. Desde então, gravitou por projetos de TV e por longas sempre calcados na afetividade. Seu mais recente exercício como realizador foi rodado em Portugal e acompanha a festa de formatura de um grupo que se prepara para a faculdade - e para as próximas etapas de suas vidas. É uma mistura de drama, romance, filosofia e comédia, como tudo o que Matheus faz. Seu roteiro é formado por um punhado de histórias paralelas se entrelaçam. No enredo, um casal de namorados decide terminar o relacionamento para curtir a vida, enquanto outro tenta ter a sua tão esperada primeira vez. Numa ambulância, um casal improvável se conhece depois de os parceiros beberem demais. Tem ainda um jovem com autoestima baixa desafiado pelo menino mais bonito da festa, enquanto sua amiga conta sobre uma gravidez indesejada. Noutra latitude, uma turminha discute no banheiro depois que um segredo é revelado e duas amigas descobrem um novo sentimento entre elas. É uma ciranda de quereres, cujo núcleo principal da trama é formado por Nina (Marina Moschen), Nathan (Christian Malheiros, numa composição comovente), Bianca (Thalita Meneghim) e Marina (Giulia Gayoso, estupenda a cada cena). Nina namorou o Ensino Médio inteiro e, embora ainda ame o namorado, quer viver novas experiências. Nathan é o menino negro e gay que sente que não pertence a grupo nenhum. Bianca é super estudiosa, se dedicou ao vestibular o ano inteiro e estava ansiosa pela festa de formatura. E Marina é exageradamente sincera e namora um cara exageradamente fofo que a ensinou a ser mais leve. Agora bagunça isso daí tudo, num liquidificador pop, cuja cereja é a influência que Domingos Oliveira deixou em Matheus. O resultado é uma comédia sobre o tempo que a gente perde pensando no tempo que não podemos perder. É uma comédia libertária, sem medo da fluidez da contemporaneidade, bem escudada numa luz dionisíaca, esculpida por Lícia Arosteguy. É Matheus em evolução. Em tração. Em pulsão. Orgulho do que ele está virando, no gerúndio de sua poética. Ah... a fina produção do longa é do bamba Diogo Dahl, da Coqueirão Pictures, em coprodução internacional com Ar de Filmes (Portugal), Globo Filmes e Telecine.

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