RODRIGO FONSECA Faltam 14 dias para começar o Festival de Berlim, e enquanto o evento alemão anuncia, a conta-gotas, quais serão as suas atrações de sua edição de número 73, o ganhador do Urso de Ouro de 2022, o tocante "Alcarràs", conquista, enfim, uma data de estreia por aqui. O longa espanhol será lançado via MUBI no dia 24 de fevereiro. Graças a esse filme de Carla Simón, todas as dores e delícias de uma das instituições mais desgastadas da contemporaneidade - uma tal de família - se candidatam à Eternidade na memória cinéfila, a partir de vivências catalãs. Trata-se de um surpreendente exercício de ficção, com os pés fincados do real, que corre telas Velho Mundo adentro. Cinco anos após o cult "Verão 1993" (2017), a diretora espanhola regressou ao Festival de Berlim - que lhe deu visibilidade no passado - para narrar o dia a dia dos Solé, um clã agricultor que vive da colheita de pêssegos em uma cidadezinha do interior. Nenhum dos personagens é interpretado por atrizes ou atores com experiências profissionais. Todas, todes e todos foram selecionados em festas populares, antes da pandemia. Após reunir sua trupe, a diretora criou uma célula familiar que gira em torno dos pessegueiros e das brincadeiras de um divertidíssimo quarteto de criancinhas. "Crianças mantêm o filme vivo e dão ao filme um tom casual. A natureza híbrida de documentário já vem do 'Verão 1993' e me interessa por me permitir encontrar pessoas como as que levei às telas aqui", disse Carla ao Estadão.
Sua trama é arquitetada como uma crônica do dia a dia dos Solé. O clã é liderado pelo doce brucutu Quinet (Jordi Pujol Dolcet), que luta contra o abuso dos varejistas no valor pago aos rancheiros por frutos e contra a ocupação das terras ibéricas por painéis solares. "Há uma crônica de uma morte anunciada de uma tradição de cultivar a terra em família. Mas eu queria que houvesse esperança no filme. Comecei com esse sentimento. Mas para as pequenas famílias de agricultores, não há muito futuro, pelos preços das frutas", disse Carla à Berlinale, que aplaudiu sua delicadíssima forma de dirigir pessoas sem qualquer experiência de atuação e arrancar delas interpretações genuínas. "Houve um momento em que eles se sentiram uma família de verdade".
p.s.: Em cartaz com a peça "Memórias de uma manicure", as atrizes Carla Soares e Luciana Mitkiewicz vão apresentar a performance "Tiro suas camadas de esmalte", nesta quinta e na sexta-feira, no Largo da Carioca. As artistas, que fizeram curso de manicure em Madureira, vão se oferecer para ajeitar as unhas de quem estiver passando e quiser se sentar para falar sobre sua vida. "Uma das etapas da nossa pesquisa é ter essa experiência da manicure que, cuida das mãos, mas também exerce um papel de ouvinte no seu trabalho diário. Seguimos a linha de obras de performers como Eleonora Fabião, que colocam um banco no meio da praça, dispostos a ouvir o outro", descreve Luciana."Memórias de uma manicure" está em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal, de quinta a domingo, às 19h.
p.s.2: Grande sucesso, o espetáculo "Helena Blavatsky, a voz do silêncio" encerra temporada, neste domingo (05/02), no Teatro B32, em São Paulo. Com texto da filósofa Lucia Helena Galvão e encenação de Luiz Antônio Rocha, o monólogo com Beth Zalcman foi visto por mais de 20 mil espectadores em sessões virtuais e presenciais. Conhecida por confrontar as correntes ortodoxas da ciência, da filosofia e da religião, a visionária Blavatsky influenciou inúmeros pensadores e artistas. Haverá duas sessões no sábado, às 18h e 21h, e uma no domingo, às 19h.
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